Caprinos e ovinos em São Paulo atraem argentinos

  

            As atividades de caprinocultura e ovinocultura vêm se consolidando no agronegócio brasileiro. Em 2005, o rebanho1 de ovinos correspondeu a 16,05 milhões de cabeças e os caprinos a 10,31 milhões de cabeças. A região Nordeste detém 56,3% e 93,0% dos rebanhos de ovinos e caprinos, respectivamente. A região Sul representa 31,6% dos ovinos e 2,0% dos caprinos e ainda a região Sudeste é responsável por 3,4% do rebanho de ovinos e 2,4% do rebanho de caprinos. 


            Entretanto, as atividades dão-se de forma diferenciada nas regiões geográficas do Brasil. A região Nordeste possui tradição nestas atividades, cuja maior parte da produção é voltada para subsistência. Elas são consideradas importante fonte de alimento para as populações do meio rural, fornecendo carne, leite e derivados2.
            No Sul do país, existe a forte presença de ovinos lanados, que são mais adaptados a baixas temperaturas predominantes na região, onde a produção é destinada para produção de lã e carne. 


            Na região Sudeste, os rebanhos de caprinos e ovinos são direcionados para produtos com maior agregação de valor, destacando-se atualmente na produção de queijos e cortes especiais. O enfoque da produção dá-se de maneira diferenciada em razão da proximidade com a cidade de São Paulo, que é o maior e mais exigente mercado consumidor do País. O segmento de leite e derivados, por exemplo, deve apresentar um leque de produtos diferenciados, já que o consumo de leite de cabra ainda é incipiente e em muitas vezes demandado apenas por pessoas que apresentam alguma intolerância ao leite de vaca. 


            O segmento de carne também segue esta tendência, oferecendo cortes especiais para redes de supermercados e restaurantes que atendem consumidores de classe média-alta. 


            Dessa forma, as atividades vêm crescendo nos últimos anos no Estado de São Paulo, tanto pelo aumento efetivo dos rebanhos quanto pelo incremento do número de propriedades rurais destinadas à atividade. O rebanho de caprinos e ovinos em 1996 era de 64,9 mil e 257,4 mil cabeças, respectivamente. Em 2005, passou a 82,1 mil cabeças de caprinos (aumento de 26,5%)1 e 324,7 mil cabeças de ovinos (aumento de 26,1%)1. Este fato pode ser também confirmado pelo investimento em reprodutores e matrizes de comprovado mérito genético. 


            O bom desempenho no Estado despertou o interesse de produtores e pesquisadores da Argentina, que resultou no evento 'Intercâmbio Tecnológico Brasil & Argentina de Caprinocultura e Ovinocultura', realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pelo Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba (APTA Regional), com o apoio da Associação Paulista de Criadores de Caprinos (CAPRIPAULO)3 e da Universidad Nacional de Lomas de Zamora (UNLZ) de Buenos Aires-Argentina 4. 


            O evento procurou aproximar pesquisadores, produtores e profissionais ligados à caprinocultura e à ovinocultura de São Paulo e da Argentina na tentativa de fortalecer o segmento por meio da troca de experiências e informações, podendo também gerar negócios para os dois países. 


            A programação incluiu visitas a diversas propriedades e ao Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Sudoeste Paulista (Figura 1).

Figura 1 - Rota do intercâmbio tecnológico Brasil & Argentina

            Na região de Jacareí onde teve início, o evento contou com a participação do presidente da CAPRIPAULO, Vicente Antônio Ribeiro, criador de caprinos e ovinos de corte e leite. Nessa propriedade, o sistema de produção é de confinamento, com destaque para os animais de apurada genética e uma estrutura de cama de palha arroz (diferente das usuais com piso ripado). Em Pindamonhangaba, a questão genética também predominou, com caprinos das raças Saanen, Anglo-Nubiana, Pardo Alpina e Toggenburg. Observou-se a diversificação dos produtos, com inúmeros tipos de queijos destinados, principalmente, a restaurantes da cozinha francesa (figura 2 e 3).

Figura 2 - Animais de genética avançada (esquerda macho Bôer e direita fêmea Saanen) 
 
 

Figura 3 - Produtos lácteos de caprinos

            Em Atibaia, no Rancho Morro Verde foi possível conhecer uma criação de ovinos para corte que em 2005 foi considerada a 'Cabanha do Ano'5 da raça Santa Inês. Em Laranjal Paulista, em uma visita a um frigorífico abatedouro, observou-se o sistema de abate seguindo todas as normas de qualidade, com destaque para os corte diferenciados, o que confirma a importância da agregação de valor aos produtos (figura 4).

Figura 4 - Fêmea premiada da raça Santa Inês (esquerda) e cortes diferenciados (direita)

            No município de São Carlos, a visita foi a Neogen, empresa que atua no segmento de melhoramento genético, possuindo ainda importante rebanho caprino da raça Bôer. No município de Espírito Santo do Pinhal, conheceu-se o Centro de Ensino e Criação (Capritec) com animais da raça Saanen, cujo destaque é a sala de ordenha (figura 5), e a produção de diferentes derivados do leite de cabra (leite, queijos e cosméticos). Vale ressaltar que a Capritec também oferece cursos de formação e capacitação em caprinocultura.

Figura 5. Sala de ordenha da Capritec (esquerda) e galpão de manejo (direita)

            Em Itapetininga, o destino foi o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da APTA Regional do Sudoeste Paulista, onde os participantes puderam conhecer as pesquisas desenvolvidas no Pólo Regional para a atividade, como sistema de produção de leite a pasto; avaliação de cruzamento de animais da raça Bôer e Saanen; utilização de resíduos de culturas de inverno com uso de sal proteínado para nutrição animal e diversificação de produtos lácteos. 


            O evento foi encerrado em Tatuí no Sítio Casa Blanca, que conta com a criação de animas da raça Bôer (caprino), Dorper e Santa Inês (ovinos) semi-confinados.


Argentina

            Vale destacar alguns pontos da caprinocultura e da ovinocultura na Argentina. De acordo com o Censo Nacional Agropecuário 2002, os rebanhos de ovinos e caprinos somam 12,5 milhões e 4,1 milhões de cabeças, respectivamente6. O sistema produtivo é regionalizado, com o rebanho caprino se concentrando no Noroeste e o rebanho ovino no Sul do país. 


            Nesse país, existem diferenças nos sistemas produtivos de ambas as espécies. A caprinocultura é uma produção basicamente de subsistência, em que o produtor conta com escassos recursos, pouca utilização de tecnologia e, ainda, pouca capacidade empresarial. 


            A ovinocultura apresenta um cenário diferente, no qual a produção é destinada ao mercado de lã e de forte tradição. Atualmente, tem um forte crescimento na produção de ovinos de corte, destacando-se os animais das raças Merino e Corriedale. 


            Para o presidente da CAPRIPAULO, no Estado de São Paulo criadores de caprinos e ovinos vêm apostando nessas atividades. O rebanho paulista possui alta qualidade genética, o que proporciona altos índices de produtividade de leite, e, no caso do corte, carcaças com bom rendimento. Segundo o criador Luiz Roberto, proprietário do Rancho Morro Verde, a carne de cordeiro é uma especiaria delicada, palatável, sem gordura saturada e de boa digestão. 


            O evento atingiu resultados satisfatórios, ao promover o intercâmbio entre produtores e pesquisadores dos dois países. 


            As exigências desse novo mercado vêm imprimindo pressões sobre a cadeia de produção de ovinos e caprinos no Brasil e na Argentina, o que implica que os produtores invistam em tecnologias para os sistemas de produção, assim como nos processos de industrialização e comercialização dos produtos. Essas exigências e pressões impõem à cadeia de produção uma coordenação que começa com a identificação dos gargalos e posteriormente a busca de soluções. 


            Com a adoção de tecnologias economicamente viáveis e adaptadas ao setor, as atividades caprina e ovina podem se transformar em um negócio economicamente sustentável, promovendo resultados financeiros aos elos da cadeia. 7 , 8, 9

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1 ANUALPEC 2005: Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: FNP, 2005. 340 p.
2 VASCONCELOS, V. R.; VIEIRA, L. S. A Evolução da caprino-ovinocultura brasileira. Disponível em: http://www.cnpc.embrapa.br. Acesso em: 10 nov. 2005.
3 Associação Paulista de Criadores de Caprinos (CAPRIPAULO). Disponível em: http://www.capripaulo.com.br/.
4 Universidad Nacional de Lomas de Zamora (UNLZ). Disponível em: http://www.unlz.edu.ar/.
5 Premiação concedida pela Associação Paulista de Criadores de Ovinos (ASPACO).
6 Instituto Nacional de Estadística y Censos de la Republica Argentina (INDEC), 2002. Disponível em: http://www.sagpya.mecon.gov.ar/.
7 Os autores agradecem a Associação Paulista de Criadores de Caprinos; Vicente Antônio Ribeiro; Francisco Pastor; Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Sudoeste Paulista; Carlos Frederico de Carvalho Rodrigues, pesquisador da APTA Regional Sudoeste Paulista; Universidad Nacional de Lomas de Zamora; Capril São Paulo; Granja União; Capril Algodão Doce; Rancho Morro Verde; Frigorífico Wlama; Capritec - Centro de Ensino e Criação; Capril Eldorado – Neogen; Sítio Casablanca.
8 Mais informações sobre o assunto podem ser encontradas em: MELLO, Nilda T.C.de., NOGUEIRA, Elizabeth A e., RODRIGUES, Carlos F.de C. Entraves e desafios à caprinocultura no Sudoeste paulista. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=2745. NOGUEIRA, Elizabeth A.e. & MELLO, Nilda T.C.de. Diagnóstico sócio-econômico da caprinocultura no Sudoeste paulista. Informações Econômicas, SP, v.35, n.8, ago., 2005. NOGUEIRA, Elizabeth A.e. & NOGUEIRA JR, S. Ovinos e caprinos avançam em São Paulo. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=4136
9 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-128 /2005.

Data de Publicação: 12/01/2006

Autor(es): Andréa Leda Ramos De Oliveira (andrea@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Luiza Maria Capanema Bezerra (luizamcb@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Alessandra Ligia Ramos de Oliveira (aleliros@yahoo.com.br) Consulte outros textos deste autor