Soja: comportamento dos fretes no transporte rodoviário

            O transporte de cargas no Brasil deixou de ser um tema secundário e operacional, passando a ter grande importância, e de forma definitiva, no planejamento e nas decisões estratégicas de inúmeras empresas, sobretudo as ligadas aos agronegócios.
            Exemplo é o complexo soja, cujas transformações, principalmente na distribuição espacial, apontam para a necessidade de estudos que tenham como objetivo otimizar o uso racional da estrutura logística disponível na tentativa de redução dos custos, proporcionando aumento da sua competitividade no cenário mundial.
            O transporte rodoviário apresenta-se como um grande integrador das principais regiões produtoras com os portos exportadores e o mercado doméstico, tanto no escoamento das cargas via rodoviário direto quanto na via intermodal, atuando como acesso aos terminais ferroviários e/ou hidroviários.
            Neste sentido, o conhecimento do comportamento dos fretes rodoviários é uma importante ferramenta de apoio para tomada de decisões, pois contribui com informações relevantes sobre os preços praticados no mercado conforme as características da operação e dos diferentes serviços oferecidos pelos transportadores.
            Ao analisar os fretes rodoviários praticados para soja em 2004 em todo território nacional1, considerou-se a hipótese de haver um comportamento diferenciado para fretes para distâncias de até 500 quilômetros e superiores. Também levou-se em conta a existência da sazonalidade dos preços no primeiro e no segundo semestres do ano (figura 1). 2

Figura 1 - Dispersão dos custos rodoviários por quilômetro, 2004 

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

            Assim, verifica-se que o modal rodoviário é mais competitivo para curtas distâncias, de aproximadamente 500 quilômetros. Já a sazonalidade da safra de soja refletiu-se no comportamento dos fretes praticados nos semestres do ano.
            Exemplo de dispersão dos custos rodoviários, os fretes com origem no Estado de Goiás indicam o comportamento diferenciado para distâncias de até 500 quilômetros, evidenciando também alta dos preços no primeiro semestre em relação ao segundo semestre (figura 2). Da mesma forma, observa-se a tendência de preços para distâncias superiores a 500 quilômetros e a alta dos preços no primeiro semestre.

Figura 2 - Dispersão dos custos rodoviários com origem no Estado de Goiás por quilômetro, 2004 

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

            O sistema rodoviário brasileiro há muito tempo sofre com a carência de investimentos públicos. Além disso, as empresas de transporte de cargas perderam sua margem de lucro principalmente devido aos produtos de baixa especificidade, o que acarretou a deterioração dos equipamentos e a manutenção precária. Apesar deste cenário, este modal é o único que permite o transporte 'ponto-a-ponto' e, por isso, sua estrutura física deve ser a melhor possível3.
            Vale destacar que as opções intermodais representaram ganhos ao escoamento. A intermodalidade, além de nortear os investimentos no setor dos transportes, pode contribuir para melhorar a eficiência, uma vez que os custos com transporte ferroviário e hidroviário são menores que os custos rodoviários. Dessa forma, haveria uma tendência de se substituir o transporte rodoviário de longa distância por transportes alternativos, o que deve implicar em aumento da competitividade da soja no mercado internacional de grãos. 4

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1 Fornecido pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) - http://www.cvrd.com.br/
2 A análise partiu da implementação de um modelo de regressão linear múltipla em função das variáveis distância e semestre do ano. OJIMA, A. L. R. O.; YAMAKAMI, A. Aplicação de um modelo de equilíbrio espacial de programação quadrática para questão logística da soja. Revista Gestão Industrial, Ponta Grossa, v. 1, n. 3, p. 115-125, 2005.
3 CAIXETA FILHO, J. V. Logística e Transporte no Agronegócio brasileiro. Preços Agrícolas, Piracicaba, v. 170, dez/2000 – jan/2001, p. 3-5.
4 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-48/2006.

Data de Publicação: 31/05/2006

Autor(es): Andréa Leda Ramos De Oliveira (andrea@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor