Piraju Vai Instalar Incubadora De Agronegócios

           Um incubadora de agronegócios vai ser instalada no município paulista de Piraju, para ajudar produtores que queiram introduzir novas tecnologias na área agrícola. O projeto é fruto de parceria entre Prefeitura, Secretaria de Agricultura e Abastecimento e Sebrae. A base da economia do município é a agropecuária, que fornece 60% da renda local. O café (com 40% da renda agrícola) é a principal atividade, seguido da criação de gado misto (presente na maioria das pequenas propriedades) e da olericultura praticada em estufas (que somam cerca de 150 mil metros quadrados).
            A idéia da incubadora surgiu a partir do desenvolvimento da segunda versão do Sistema de Suporte à Elaboração de Plano Diretor Agrícola Municipal (PDAM), pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) em parceria com a Prefeitura e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o apoio técnico da Embrapa Informática Agropecuária. O software já está à disposição da administração municipal e dos agricultores. Mais importante do que uma radiografia das propriedades rurais (são 750, das quais 330 com café), o PDAM forneceu 'um banco de dados que mostra claramente quais são as produções existentes (agricultura/pecuária), bem como as áreas agricultáveis, as reservas, o potencial hídrico... Enfim, o plano permite todo tipo de cruzamento de informações, o que permite que a Prefeitura faça um planejamento para estimular a produção e o desenvolvimento agropecuário do município', explica o prefeito Maurício de Oliveira Pinterich.
            Tanto que a estratégia de Piraju é estimular a diversificação agrícola em direção à fruticultura, além de consolidar a olericultura, como explica o engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura, Paulo Sérgio Mattosinho. Muitos pequenos cafeicultores começaram a dedicar-se a produzir hortigranjeiros (pimentão, pepino, tomate, abacate, etc.) justamente para compensar os baixos preços do café, lembra o técnico. Também se pretende melhorar o padrão do gado misto, a capacidade das pastagens (bastante degradadas) e a alimentação dos animais.
      Café descascado - O planejamento vai ajudar na identificação de produtores aptos em investir em qualidade, segundo José Romeu Fávaro, presidente da Associação dos Produtores de Café Descascado de Piraju e Região (Proced). Para isso, é preciso ter propriedade com microclima favorável e pré-disposição para investir em equipamento para descascar o café, em treinamento e em conhecimento da qualidade. Ele alerta, porém, que só 'vão ficar no mercado os produtores mais tecnificados, que estão investindo na qualidade. O diferencial de preço conseguido pode representar estar ou não no vermelho, o próprio lucro'.
            Cerca de 30% da produção dos 19 associados da Proced são de café cereja descascado. 'Buscamos diferenciar o produto pela qualidade, como forma de agregar valor. Com isso, temos conseguido vender o produto por um preço maior, com ágio de 30% em média', diz Fávaro. O processo de descascar evita fermentações e perda de qualidade, principalmente em regiões muito úmidas na época da colheita. 'Saímos do estigma de região de baixa qualidade e, em cerca de quatro anos, estamos conseguindo destaque em vários concursos de qualidade de café a nível nacional.' O que diferencia o café descascado de Piraju do de outras regiões é que 'nós conseguimos um produto com baixa acidez, corpo acentuado e aroma frutado', conta Fávaro. A Proced oferece serviços de classificação e avaliação da qualidade e de comercialização, tanto para os associados quanto para terceiros.
            As perspectivas na área de hortigranjeiros foram destacadas por João Antonio Garrote, vice-presidente da Associação dos Plasticultores de Piraju (APPI) e presidente da Federação dos Produtores do Vale do Paranapanema (Fevale). Os 90 associados da APPI, dos municípios de Piraju, Tejupá e Cerqueira César, cultivam em área protegida (estufas) principalmente tomate caqui, pimentão colorido, pepino japonês e melão net-mellon, além de culturas tradicionais como maracujá, limão e abacate, cuja produção é entregue na Ceagesp.
      Novos mercados - Os produtores, no entanto, estão buscando novos mercados com o intuito de aumentar o seu poder de barganha e agregar valor ao produto, revela João Garrote. Para isso, está sendo criada uma central de negócios para vender diretamente a supermercados e atacadistas. A idéia é fornecer maior diversidade de produtos, que incluiria banana maçã, goiaba, vários tipos de uva, manga e pera de outras regiões. Tudo começou com a Fevale, criada recentemente para reunir 12 associações do sudoeste de São Paulo e do norte do Paraná. Durante a I Exposição de Hortifruti, realizada em dezembro último em Piraju, a entidade iniciou contatos com a Associação Paulista de Supermercados (Apas).
            Piraju está 'no centro de uma microrregião agrícola de 110 mil habitantes, que procura fazer da abundância de insumos, mão-de-obra e fertilidade de suas terras as bases de seu crescimento industrial', diz o prefeito Maurício Pinterich. Por isso, ele acredita no sucesso da instalação de uma incubadora agroindustrial, que beneficiaria diretamente, além de Piraju, os municípios de Cerqueira César, Fartura, Manduri, Óleo, Sarutaiá, Taquarituba, Taquaí, Tejupá e Timburi. 'O sucesso da incubadora impactará a região com a criação de melhor adequação de produtos, melhoria nos processos e serviços decorrentes da adoção de novas tecnologias, fortalecimento do associativismo, otimização dos recursos alocados pelas instituições de apoio, aumento da interação entre o setor empresarial e as instituições acadêmicas e de pesquisa', entre outros.
      Apiaí – A aplicação do sistema PDAM em Apiaí, em 2001, surpreendeu a administração municipal, segundo o engenheiro agrônomo Carlos Alberto de Moraes, secretário de Agropecuária e Meio Ambiente. Mais de 70% dos agricultores do município (cerca de 500) trabalham em sistema familiar. 'Pensávamos que era pouco mais de 50%'.
            O questionário sócio-econômico-ambiental identificou ainda a concentração da produção na cultura do tomate. Em seguida, vem a pecuária mista (baixa produtividade por animal), inclusive com a presença de criadores de búfalo. Também existem produtores com tradição em fruticultura, inclusive exportadores de caqui. Carlos Moraes acredita que a tendência do município é investir na fruticultura de clima temperado e diversificar a produção de olerícolas, além de ampliar a criação de búfalos por causa da rusticidade do animal.
           Para isso, a prefeitura fez parceria com o Pronaf e o Sebrae para viabilizar a instalação no município, ainda este ano, de uma agroindústria de conservas, que vai trabalhar com pepino para exportação (envolvendo cerca de 250 produtores familiares) e produtos diversos como cenoura, minicebola, beterraba e minimilho, o que vai atender outros 250 agricultores familiares. A empresa, que vai ser administrada por uma cooperativa de produtores, já tem prédio e câmara fria e está em fase de licitação a aquisição do primeiro lote de máquinas e equipamentos.
            Também está prevista para este ano a implantação de uma unidade de beneficiamento de grãos (arroz, feijão e milho) no município, com recursos do Fundo de Desenvolvimento do Vale do Ribeira. O projeto prevê as operações de pré-limpeza, limpeza, secagem, embalagem e armazenamento dos grãos.
      Pequenos e médios - A segunda versão do PDAM foi desenvolvida pelos pesquisadores do IEA Nelson Batista Martin, Malimiria Norico Otani, Carlos Eduardo Fredo e José Alberto Ângelo. O sistema visa contribuir com o desenvolvimento rural dos municípios, cuja principal fonte de renda é a agricultura, conforme os técnicos. 'Uma das dificuldades dos pequenos e médios municípios brasileiros em alavancar o seu desenvolvimento rural é a falta de informações básicas para diagnosticar a própria realidade e, a partir daí, priorizar as ações, ajustadas às suas necessidades.' A versão 2.1 do PDAM procura 'minorar, pelo menos em parte, essas carências'.
            O programa de computador permite organizar e armazenar as informações dos imóveis rurais do município, para traçar um diagnóstico do setor rural e posteriormente o plano diretor agrícola municipal. Podem ser inseridos dados secundários como formação histórica, tendências da agricultura e principais atividades agropecuárias do município. Também é possível incorporar imagens como fotos ou mapas. O sistema é auto-explicativo e o usuário é orientado por um conjunto de manuais. Chega a gerar 100 relatórios-padrão
            O protótipo foi aplicado em Piraju (safra 1998/99) para a correção de falhas e introdução de novas funcionalidades, a fim de 'tornar o sistema mais amigável e permitir maior interação com o usuário'. O software foi utilizado ainda em Lagoinha (Vale do Paraíba) em 1998/99, em Dourado no centro do Estado (ano agrícola 1999/2000) e em Apiaí (Vale do Ribeira) no ano passado. E já foi fornecido a cerca de 30 municípios interessados.

Data de Publicação: 01/04/2002

Autor(es): José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor