Agropecuária brasileira: determinantes do futuro para além da crise

            A crise agropecuária é limitada a segmentos, apesar de a opinião pública não diferenciar de forma consistente os segmentos afetados daqueles em que o vento dos mercados sopram a favor. Esta situação tem produzido pouca reflexão estrutural que encaminhe à superação do impasse atual e ajude a configurar perspectivas mais consistentes para um novo ciclo de desenvolvimento setorial.
            Busca-se assim, sem a pretensão de esgotar o tema, discutir os principais determinantes na construção do futuro.

Investimento na eficiência produtiva, econômica e comercial

            O produtor do futuro será aquele que investir nos três tipos de eficiência, mas fundamentalmente na econômica e na comercial. Não faz sentido obter a máxima eficiência produtiva, levando o aprimoramento tecnológico ao limite, se, a partir de certo nível de intensificação da melhoria da base técnica, os resultados obtidos em termos de produção física não corresponderem a resultados econômicos consistentes.
            Há mesmo que avaliar constantemente a economicidade dos processos tecnológicos, para que não se tome a decisão de persistir no uso de padrões não rentáveis. E os preços relativos mudam a todo momento. A intensidade do uso de mecanização e de insumos derivados da petroquímica, por exemplo, deve ser reavaliada, como agora, em função dos preços atuais do petróleo. Com isso, o que era rentável dois anos atrás pode não ser agora, mesmo que corresponda a técnica com eficiência produtiva que determina uma escala desejável em termos físicos.
            Mas a eficiência econômica está diretamente subordinada à eficiência comercial. Ou seja, vender bem mostra-se tão ou mais relevante que produzir bem. Para avaliar um número elevado de variáveis, o produtor do futuro terá cada vez mais o perfil de um cidadão de nível universitário, plugado no mundo, conhecedor do mercado financeiro, que faz venda antecipada, faz hedge de câmbio para não ser surpreendido pela política cambial (câmbio flutuante). Também faz gestão de custos de operação (cada operação representa um contrato com fornecedor ou cliente específico) e não mais de custos de produção. Administra risco de preços com operações de hedge e/ou de venda antecipada.
            Noutras palavras, o produtor do futuro será cada vez mais um agente do mercado financeiro globalizado. E esse cara tem a escala como um imperativo da eficiência econômica e a inserção comercial como fundamental para seu negócio.

Pequenas e médias propriedades rurais estão fora do processo?

            A agropecuária de commodities é a face mais visível do sucesso da agropecuária brasileira. Mas a agropecuária não se resume às lavouras de commodities. A evolução da agricultura tornou antiquada a velha divisão entre agropecuária patronal (ou empresarial ou qualquer outra denominação) e agropecuária familiar (e também nas diversas designações e distinções semânticas).
            A agropecuária brasileira tem duas vertentes bem nítidas: a) a primeira, formada pela agropecuária de escala (soja, algodão, milho, outras commodities e pecuária a pasto); b) a segunda, a agropecuária adensada (frutas, café, flores e granjeiros que são aves e suínos).
            A primeira precisa de terra, máquinas e de uniformidade de produto para produzir em grande volume, como contingência de maximizar a massa de lucros com produtos de baixo valor unitário. Esta pluga-se em bolsas e nela um número cada vez menor de agropecuaristas terá condições de produzir volumes crescentes.
            Para uma sociedade urbanizada (95% da população como no Estado de São Paulo), o que se quer é abundância de produto bom e barato o ano todo. Ao fazer as contas do custo por quilo de feijão segundo diferentes níveis de produtividade de escala de produção, ver-se-á que os consumidores têm interesse que as grandes lavouras mecanizadas prevaleçam1.
            Esse progresso técnico e o ganho de escala permitiram que o preço de feijão no varejo paulistano recuasse, em valores constantes de 2005, de R$ 4,50 o quilo no início dos anos 1970 para R$ 1,60/kg em dezembro de 2005. Como muitas regiões produzem feijão e o número de safras de uma mesma região aumentou, reduziu-se a amplitude sazonal da oferta. Assim, poucos produzirão muito e em quase todos os meses do ano, para deleite dos consumidores, que em qualquer mês do ano terão feijão novo e barato para comprar.

E a outra agropecuária? Haveria chance para as pequenas lavouras?

            A segunda vertente da agropecuária precisa de pessoal qualificado, infra-estrutura de pós-colheita e a qualidade diferenciadora de produtos. Pequenos cafezais adensados produzem cinco vezes mais renda por hectare que velhos cafezais espaçados. A mesma coisa está acontecendo na laranja, pois pomares velhos de 240 pés por hectare estão sendo substituídos por pomares novos com mais de 350 pés por hectare. Se as frutas se multiplicam em plantios adensados, as olerícolas e as flores multiplicam-se em estufas.
            Podem ser também considerados os nichos de mercado de produtos especiais, mesmo em espécies ligadas a commodities como o algodão colorido em experiências localizadas. O mesmo ocorre nas criações que são reproduzidas em granjas. No início da década de 1970, produzir um frango de 2 kg exigia 90 dias e quase 4 kg de ração, além de hormônios. Hoje, produzir o mesmo frango requer 40 dias e cerca de 3 kg de ração, sem hormônios. Essa agropecuária de baixa relação capital/trabalho (mais intensiva em mão-de-obra) difere da de escala de alta relação capital/trabalho (mais intensiva em maquinaria).

Leitura não-usual da agropecuária brasileira

            Essa leitura da agropecuária brasileira não é usual e desmonta a velha visão de agropecuária, anacrônica e sem sustentação na realidade, que só enxerga as diferenças de tamanho das propriedades e fica na falsa polêmica entre agronegócios e agricultura familiar. Da mesma forma, a polêmica entre feudal e capitalista atrasou a análise da agricultura brasileira no debate dos anos 1960, até que prevaleceu a visão de Celso Furtado que, em 'Formação Econômica do Brasil', mostra que, na sua gênese, a agricultura brasileira era filha do capital comercial.
            Assim, essa discussão atual não tem sentido, pois na reprodução ampliada do capital tudo é agronegócio, dado que são as transformações econômicas que movem a história. Outro grande brasileiro, Josué de Castro, em sua 'Geografia da Fome' publicado nos anos 1950, havia percebido de forma precisa que a Califórnia das frutas e olerícolas, e não o Texas dos 'belts', era o principal estado da agricultura norte-americana. A verdade é que se produz muito mais riqueza por unidade de área com olerícolas (renda de R$ 15,6 mil por hectare em São Paulo), frutas (R$ 9,1 mil/ha) e café adensado (R$ 5,2 mil/ha) do que com cana (R$ 2,6 mil /ha).

E por que essa agropecuária não prospera no Brasil?

            Porque nunca foi estruturada como projeto nacional de longo prazo a construção de uma sólida base produtiva desse segmento agropecuário. Produzir olerícolas não se resume a multiplicar estufas e canteiros, assim como frutas frescas não representam apenas plantar pomares, nem café de qualidade significa ampliar cafezais.
            Há que se estruturar políticas públicas na mesma prioridade dada pelo Governo brasileiro para a agropecuária de escala nos anos 1970. Subsídios ao crédito permitiram formar as cadeias de produção com a construção das agroindústrias de insumos e máquinas, da modernização da agropecuária de commodities, da agregação de valor pelas agroindústrias processadoras e da revolução das estruturas de mercado propiciadas pela emergência dos supermercados.
            A agricultura adensada, seja de frutas e olerícolas frescas, de cafés especiais ou de granjas 'sadias', exige a profissionalização dos agropecuaristas, dotando-os do domínio de elementos técnicos mais complexos que os aplicados nas lavouras de commodities. Ocorre que o imperativo da qualidade pela diferenciação consolida-se no processo biológico de produção.

Investimento em recursos humanos é estratégico

            Há que se investir na formação desse contingente de produtores de pequenos espaços e formatar, em projetos de visão ampla, a construção da moderna logística para operar sistemas de qualidade diferenciada e de pós-colheita, em especial de armazenagem e transporte. No Brasil, a maçã catarinense (e gaúcha) talvez seja o exemplo mais consistente de projeto estruturante nesse sentido.
            Há que se olhar para toda a economia continental brasileira e explorar a complementaridade de safras das diversas regiões e a riqueza qualitativa da cesta de produtos que possa ser ofertada. Essa potencialidade, entretanto, exige uma visão distinta da agricultura brasileira e a reengenharia do sistema público.
            É preciso ter nítido que promessas com base em possíveis vantagens comparativas não dizem mais nada. É preciso construir vantagens competitivas. É preciso de Governo, mas não do que está aí. Caso contrário, não se terá um grande contingente de agropecuaristas de alta renda em pequenas e médias propriedades rurais.

Mudança necessária no Governo que está aí

            A estrutura de Governo que aí está internalizou a modernidade produtiva dos anos 1970 e agora fica patinando no debate improdutivo decorrente da divisão arcaica da agropecuária entre agronegócios e agropecuária familiar. Os tempos são outros e a roda da história não se move para trás, a não ser como farsa. E se continua a insistir em viver e apostar na farsa.
            A leitura correta da agropecuária brasileira deveria basear-se na complementaridade entre agropecuária de escala e agropecuária adensada. Se o objetivo é ampliar o emprego, não há necessidade de se combater a agropecuária de escala, mas sim de fazer avançar a agropecuária adensada na qual se está engatinhando.
            Para isso, há que serem revistas as visões anacrônicas de instituições arcaicas, como a separação entre Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA ). A agricultura brasileira, no seu mundo real, move-se por pressupostos que essa falsa dicotomia não mais explica.

Mas não existem pobres no campo?

            Por certo, há muitos pobres no campo que exigem políticas sociais compensatórias, mas a maior proporção da miséria está urbanizada. Assim, é preciso assumir esse fato e adotar políticas sociais que reduzam a carência desses brasileiros, que, a despeito de serem trabalhadores e lutadores, não foram contemplados com os benefícios do desenvolvimento.
            Mas essa política deve ser feita de maneira indistinta para todos os pobres, do campo e da cidade; ou seja, deve ser organizada por um grande ministério do desenvolvimento social, que unifique as políticas sociais. Ademais, a mais relevante política social com a qual se fez justiça aos pobres do campo foi a de previdência rural na forma como foi redesenhada na segunda metade dos anos 1990.
            Foi o maior reconhecimento que a sociedade brasileira poderia oferecer a esses agropecuaristas, do ponto de vista do resgate da sua cidadania, por terem lutado a vida toda em situações de extrema dificuldade, sem se enriquecer. Os aposentados rurais são gente, são importantes e não representam mais problema para as diversas famílias rurais. Têm renda e poder de compra e muitas vezes sustentam essas famílias.
            A política para a agropecuária de subsistência não pode ser concebida com base nos cânones da política econômica setorial, capitalista e integrado no processo de reprodução ampliada do capital. Há que se pensar para esse segmento políticas sociais compensatórias que reduzem sua condição de pobreza melhorando a qualidade de vida.

E aqueles da agropecuária dos agronegócios?

            Da mesma forma, deveria ser unificada e mudada a essência da política para a agricultura. Nesse ponto, embora pareça radical, propõe-se a fusão do MAPA, do MDA e do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) num grande ministério de desenvolvimento da produção e do comércio exterior. Nos estados, em especial os do Sul-Sudeste, o mesmo deveria ocorrer com as Secretarias da Agricultura.
            Há ainda, no campo da regulação para certificação de qualidade (incluindo a sanitária), conflitos sérios que colocam em posições antagônicas, ainda que num mesmo Governo, os Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura. Há que se romper com o emaranhado jurídico e o cipoal de normas que atrasam processos relevantes para o avanço econômico.
            A rastreabilidade de dada qualidade certificada só pode ser concebida de forma consistente numa visão de cadeia de produção do campo à mesa ('farm to table'). Logo, uma única agência governamental num único ministério da produção deveria cuidar dessa questão2. Não faz mais sentido, num país onde o maior segmento industrial constitui-se de agroindústria, ficar patinando em setorialismos, ruralismos, industrialismos e outros corporativismos ou ideologismos de concepção pregressa. Esses são arcaicos 'ismos' do atraso.

No plano produtivo, a diversificação de culturas?

            A questão da diversificação de culturas deve ser uma decisão tomada com cuidado. Numa visão em que as cadeias de produção estão envolvidas por teias de agronegócios que configuram inúmeros contratos para as várias operações produtivas, o agropecuarista deixa de ser autônomo para fazer parte de uma imensa engrenagem econômica, cujos custos de transação contam igual ou até mais que os custos das operações produtivas.
            Há quase nenhuma possibilidade de o agropecuarista do futuro sobreviver sem estar inserido nessa teia de agronegócios que implica em gerenciar oportunidades e contratos de diversas matizes. Quanto mais diversificadas forem suas atividades agropecuárias, mais complexas se tornarão sua estrutura produtiva e suas relações no interior das cadeias de produção. Como na verdade ele se converteu num especialista da produção biológica, como regra, há pouca possibilidade de diversificar culturas. As exceções, por serem exceções, apenas confirmam a regra.

Então, todos devem serem monocultores?

            Não. Especializar-se e profissionalizar-se não significa aderir à monocultura. Há possibilidades de complementaridade de atividades que ampliem o espectro de culturas numa mesma interação com as estruturas de mercado e formação de preços. E elas devem ser exploradas do ponto de vista econômico, se potencialmente for interessante.
            As agroindústrias fazem isso. O aumento do consumo do suco de laranja pronto para beber só se deu pela exploração da complementaridade entre a logística de produção de sucos e a de distribuição de laticínios, fazendo chegar o produto aos consumidores a preços compatíveis.
            Isso também pode existir na agropecuária, não como regra, mas caso a caso. Produzir cana pode permitir a produção de soja nas áreas de renovação e a alimentação de bovinos confinados com ponta de cana e levedura de fundo de dorna. Nas frutas frescas, a complementaridade de variedades com colheitas em diversos meses do ano, e mesmo de diversas espécies para ampliar essa possibilidade de dessazonalizar receitas, mostra-se crucial para o sucesso.
            Já nas commodities de escala, complementarizar significa realizar consistente rotação de culturas. Assim, se consiste numa verdade que diversificar se mostra incompatível com a agropecuária do futuro, complementarizar as atividades produtivas consiste numa inexorabilidade.

E as diversas formas de gestão?

            As mudanças foram profundas nas formas de gestão. Desde logo, é preciso ter claro que os anos 1970 não voltam mais. Os agropecuaristas de grãos e fibras precisam incorporar essa mudança. Há que se ter maior sustentabilidade econômica pois não vai dar para o Governo fazer uma securitização de R$ 20 bilhões a cada cinco anos.
            O padrão de financiamento mudou em 1995 com a criação da Cédula do Produto Rural (CPRs) e, principalmente, com a sua transformação em CPR financeira realizada em 2000. Os novos títulos financeiros do final de 2004 vieram apenas completar o arsenal de mecanismos de inserção da agricultura no mercado financeiro. Trata-se dos títulos gêmeos Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) e Warrant Agropecuário (WA), bem como do Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e do Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Esse novo padrão de financiamento das lavouras de commodities veio para ficar, correspondendo ao único modelo viável para o Brasil no futuro próximo.

Parâmetros das mudanças gerenciais relevantes

            Houve total inversão na lógica da agropecuária que produz mudanças gerenciais relevantes. Primeiro, na venda antecipada; ou seja, não se produz para vender mas se vende para produzir. Segundo, o indicador mais importante para a decisão de produzir não é mais a expectativa de preço na safra, mas sim o preço líquido obtido nos contratos de venda antecipada.
            Em terceiro lugar, ao ser vendida a produção vendida, é preciso se proteger, travando posições em bolsa de mercadoria para garantir participação em possíveis aumentos de preços em relação ao pactuado. Quarto, se o contrato for feito em dólar, deve se fazer hedge para não ficar sujeito às variações do câmbio que, no regime flutuante, flutua. Essa obviedade não tem sido percebida por muitos agropecuaristas nos seus contratos com agroindústrias e tradings.
            Quinto, se do lado dos seus compradores o agropecuarista fez contratos, o mesmo ocorre também na compra de insumos. As operações com semente, agroquímicos para defesa, fertilizantes e corretivos, mesmo a prazo-safra, devem ser objeto de hedge, em especial se tiverem cláusulas prevendo reajustes.
            A atividade agropecuária transforma-se numa teia de agronegócios que forma um nexo de contratos, cada qual com seus custos de transação, preços e riscos. Estes devem ser avaliados, individualmente, segundo os respectivos custos das operações e de forma sistêmica para averiguar a rentabilidade do negócio como um todo. Num país como o Brasil onde não há sistemática de seguro rural consistente, incidem ainda os riscos agronômicos que devam ser avaliados.

Gestão financeira , crucial para o sucesso na agropecuária

            A gestão da agropecuária moderna, portanto, converteu-se na prática de gestão financeira na sua plenitude, inclusive incorporando rentabilidades das aplicações nos períodos de sobras de caixa. Não faz mais sentido o clássico sistema de gestão com base nos antigos custos de produção que pouco dizem sobre a realidade.
            Nos anos 1970, com o crédito subsidiado, o agropecuarista ia ao banco, fazia seu financiamento a custo baixo e, com o dinheiro barato na mão, ia até os fornecedores para comprar os insumos e as máquinas que precisava. E ainda guardava parcela para custear a colheita quando então empregava muita gente.
            Agora não. Se for ao banco, vai conseguir, na média, algo em torno de 30% do que precisa para custeio da safra. Em decorrência de seu histórico enquanto cliente de diversos fornecedores, vai até cada um deles e negocia a compra a prazo-safra de cada insumo que necessita. Ele perdeu autonomia e precisa se conscientizar disso.

Agropecuarista do futuro: honrar contratos para sobreviver

            Se honrar contratos, financiará sua atividade a custos menores; se não tem bom histórico, terá dificuldades e pagará mais caro, o chamado 'risco do calote'. O mesmo ocorre com relação a quem vende seus produtos: se cumprir contratos entregando a quantidade e a qualidade compromissadas, terá condições de fazer boas vendas antecipadas. Caso contrário não.
            Assim, enquanto produtor de lucros e não de 'alimentos para o mundo', o agropecuarista moderno, que atua nos segmentos das commodities, transforma-se num gestor de contratos financeiros. E, para sobreviver, tem de usar com mais intensidade os mecanismos de gestão de riscos como as bolsas de mercadorias.
            Não mais basta apenas a eficiência produtiva, não tem mais sentido apenas produzir mais de produto melhor. Mais que produzir maior quantidade, tem de produzir da forma mais econômica, e ainda produto melhor e mais barato.
            Para isso, tem de negociar melhor, cumprir contratos e plugar-se no mundo. Tem de praticar uma jornada adicional de trabalho, se quiser atuar diretamente na roça. Tem de encontrar tempo para os noticiários econômicos e acessar informações sobre os movimentos e as análises de expectativas de mercado para seus produtos.
            Para sobreviver, tem de vender bem, não bastando produzir bem. Afinal, nas mudanças da agropecuária brasileira, como em todas as das nações relevantes, a economia subordinou a agronomia.3

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1 Os custos de feijão por quilograma produzido mostram-se inversamente proporcionais aos níveis de produtividade. São de R$ 0,97/kg nos cultivos de sequeiro de 600 kg/ha (área média de lavouras de 4,25 hectares), de R$ 0,85/kg nos cultivos de sequeiro de 1500 kg/ha (área média de lavouras de 38,75 hectares), de R$ 0,80/kg nos cultivos irrigados, tanto de 3600 kg/ha (área média de lavouras de 70,00 hectares) quanto de 4200 kg/ha (área média de lavouras de 70,00 hectares). Ver GONÇALVES, José S. & SOUZA, Sueli Alves Moreira Preços estimuladores formam expectativas de maior área plantada na safra de feijão das águas 2005/06. Revista Informações Econômicas 35 (11): 49-56, 2005.
2 O que mais uma vez torna anacrônica a divisão não apenas entre MAPA e MDA como também entre esses ministérios e o MDIC. Todos esses ministérios deveriam estar fundidos num só, articulando toda a política produtiva, incluindo a de ciência e tecnologia focada na inovação. Ensino superior e ciência básica teria outra pasta, ficando a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e os fundos setoriais na pasta da produção e as demais na de ensino superior e ciência. Uma questão crucial na questão da defesa agropecuária está num desenho adequado dessa agência, que deva cuidar apenas da fiscalização em toda cadeia de produção da agricultura (campo e cidade) da aplicação das normas editadas, que ficariam a cargo de um comitê regulador de nível ministerial. Dentro da concepção de separação de poderes do Estado Democrático de Direito, a articulação da rede laboratorial para certificação de qualidade também ficaria necessariamente fora dessa agência, articulada a certificação laboratorial por instância específica do ministério da produção. Isso porque quem faz a norma não pode ser quem fiscaliza a norma. E quem fiscaliza e aplica as punições pelo desrespeito às normas não pode ser quem faz a prova laboratorial de que a punição foi justa. Trata-se de um princípio de cidadania essa divisão de competências.
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-83/2006. 


Data de Publicação: 21/09/2006

Autor(es): José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor