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Colheita da cana desemprega 2.700 pessoas a cada um por cento de área mecanizada
                    
             
Estudo de uma equipe de pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola 
(IEA-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, estima que a 
introdução de máquinas na colheita da cana-de-açúcar desemprega cerca de 2.700 
pessoas por safra para cada um por cento de área mecanizada. Para este cálculo, 
o IEA utilizou informações dos levantamentos da safra de cana de 2007, como 
quantidade colhida em média por homem, produção de cana e tempo da safra 
(assumindo 132 dias efetivamente trabalhados). 
             O 
estudo sobre a qualificação dos trabalhadores na cana-de-açúcar (inclusive os 
que vão ser desempregados pela mecanização), realizado por solicitação da 
Comissão Especial de Bioenergia do Governo do Estado de São Paulo, permite 
concluir que o desemprego na colheita da cana se acelerou, pois a meta de 30% da 
produção da cana-de-açúcar colhida por máquinas foi ultrapassada, atingindo a 
marca de 41%. O trabalho foi elaborado pelos pesquisadores Carlos Eduardo Fredo, 
José Eduardo Rodrigues Veiga, Celma da Silva Lago Baptistella e Maria Carlota 
Meloni Vicente. 
             
Segundo os pesquisadores do IEA, hoje a cana-de-açúcar é responsável por cerca 
de 20% do trabalho formal na agricultura paulista. Eles explicam que, por ser 
uma cultura de características sazonais, da mesma forma que contrata um grande 
número de trabalhadores, dispensa esse número quase em sua totalidade ao término 
da colheita. Como ocorreu em culturas como amendoim e soja, a cana-de-açúcar 
está em franco processo de mecanização, principalmente na operação de colheita. 
Ou seja, este processo está substituindo o trabalho manual pelo mecanizado. As 
razões são simples: reduz o tempo da colheita, aumenta a produtividade e reduz o 
custo gasto com contratação de mão-de-obra. 
             A 
preocupação ambiental levou os governos federal e paulista a estabelecerem 
prazos para a erradicação da queima da cana e, conseqüentemente, acelerou a 
substituição do trabalho manual pelo mecânico. Isto se deu pelos mecanismos do 
Decreto Federal de 1998, da Lei 11.241 de 2002 do governo paulista e, mais 
recentemente, do Protocolo Agro Ambiental (2007). 
             O 
Protocolo Agro Ambiental, de adesão voluntária, antecipa para 2014 a eliminação 
total da queima da cana na colheita nas áreas mecanizáveis, previsto para 2021 
na Lei 11.241. Já nas áreas não-mecanizáveis, o prazo da eliminação total da 
queima da cana pode ser, voluntariamente, antecipado para 2017, quando a Lei 
prevê até 2031. As usinas que aderirem ao Protocolo e cumprirem as metas 
estabelecidas serão beneficiadas com o Certificado Agro Ambiental, que 
facilitará a comercialização do etanol. 
 Perfil do trabalhador 
             Na 
avaliação dos especialistas do IEA, dificilmente o contingente formado por 
cortadores de cana será absorvido dentro do setor canavieiro ou dentro do setor 
agropecuário. Eles vêem essa dificuldade de retorno ao mercado de trabalho até 
mesmo em outros setores econômicos. Segundo os pesquisadores, antes da 
reinserção, é necessário que os trabalhadores passem por três fases importantes: 
motivação do indivíduo para que entenda seu papel dentro da economia brasileira 
e a importância de mudar de emprego; requalificação deste trabalhador na qual 
muitos passarão até mesmo pela alfabetização; e, por último, o acesso a cursos 
profissionalizantes para que possam exercer novas funções. 
  
  
            
Segundo os pesquisadores do IEA, o estudo constata que é fundamental conhecer o 
perfil desse trabalhador, no que diz respeito a gênero, grau de instrução e 
faixa etária, para uma política eficaz de realocação. Mais do que isso, é 
preciso conhecer também o perfil dos outros grupos de trabalhadores inseridos na 
cadeia de produção da cana, como tratoristas, operadores de máquinas e 
supervisores, além de outras ocupações agrícolas e 
não-agrícolas. 
Data de Publicação: 03/10/2007
Autor(es): José Venâncio De Resende Consulte outros textos deste autor
                    
                        