Valor da Produção da Indústria Rural Paulista decresceu 2,83 % em 2005

            Dimensionar e avaliar a importância da indústria rural no Estado de São Paulo quanto à geração de renda e de emprego foi o objetivo da realização, em 2006, pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), do 5º levantamento de dados relativos às atividades de beneficiamento agrícola realizadas nas propriedades paulistas no ano anterior1.
            A pesquisa sobre a Indústria Rural Paulista - definida como o beneficiamento ou a transformação, em bases artesanais, de matérias-primas vegetais ou animais, próprias ou adquiridas de outros produtores nas propriedades rurais para a venda externa - foi, a exemplo das anteriores, incluída no levantamento de previsão e estimativas de safras de junho de 2006, efetuado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). Foi solicitado aos produtores ou responsáveis pelos imóveis rurais respostas a cinco questões básicas, relativas ao: 1) valor anual da produção comercializada com base em matéria-prima agrícola; 2) percentual da matéria-prima na atividade de beneficiamento, produzido na própria UPA; 3) percentual da renda total da UPA obtido com as atividades da Indústria Rural; 4) destino do produto processado na UPA; e 5) ocupação e emprego na indústria rural2.
            Como resultado, foram contabilizadas 3.172 UPAs, desenvolvendo atividades industriais em 2005, responsáveis pela obtenção de R$258.915.709,14 em termos de valor da produção. As atividades de torrefação e moagem de café e de leite pasteurizado foram as que mais contribuíram para esse total, com percentuais de 42,04% e 25,65%, respectivamente. Dentre as demais, destacaram-se: processamento de frutas e sucos (6,3%), produção de queijos, iogurte, manteiga, creme e doce de leite (3,2%) e processamento de madeira (2,4%), sendo que o item outros, que inclui packing-house, atingiu percentual elevado, de 14,0%. Cabe ressaltar que, em 2004, as atividades de fabricação de embutidos e defumados e de açúcar mascavo, melado e rapadura, que não haviam sido declaradas pelos produtores abrangidos pela amostra, surgiram em 2005, como responsáveis por 0,19% e 1,81%, respectivamente, do valor total produzido no estado. Comparado a 2004, o decréscimo do valor da produção foi de 2,83%, em valores correntes (Tabela 1).

Tabela 1 - Valor Anual da Produção da Indústria Rural, por Atividade, Estado de São Paulo, 2004 e 2005

Atividade
2004
2005
R$/ano
%
R$/ano
%
Doces, comp., gel., cons., pães, roscas, bol. 
4.345.730,66
1,63
4.236.430,30 
1,64
Queijos, iogurte, mant., creme e doce de leite
8.832.800,00 
3,31
8.251.320,00 
3,19
Mel
120.829,50 
0,05
611.000,00 
0,24
Pescado
108.000,00 
0,04
108.000,00 
0,04
Processamento de hortaliças
1.375.000,00 
0,52
1.375.000,00 
0,53
Processamento de frutas, sucos
16.245.000,00 
6,10
16.425.000,00 
6,34
Farinhas e polvilho
300.450,00 
0,11
876.000,00 
0,34
Torrefação e moagem de café 
102.908.815,50 
38,62
108.854.924,84 
42,04
Aguardente
2.705.750,00 
1,02
2.705.750,00 
1,05
Leite pasteurizado
70.001.800,00 
26,27
66.403.600,00 
25,65
Processamento de madeira 
8.127.440,00 
3,05
6.160.000,00 
2,38
Processamento de cereais
52.200,00 
0,02
52.200,00 
0,02
Embutidos e defumados
480.000,00 
0,19
Açúcar mascavo, melado e rapadura
4.680.000,00 
1,81
Fumo
1.386.000,00 
0,52
1.386.000,00 
0,54
Outros (inclusive Packing- house)
49.951.300,00 
18,75
36.310.484,00 
14,02
Total
266.461.115,66 
100,00
258.915.709,14 
100,00
Fonte: IEA/CATI.

            O percentual da renda total nas UPAs, obtido com a atividade industrial concentrou-se no estrato de 80,1% a 100%, isto é, 802 UPAs obtiveram entre 80,1% e 100% de sua renda anual com a indústria rural, enquanto 739 UPAs situaram-se no estrato de 60,1% a 80%. Pode-se inferir, portanto, que mais da metade do total das UPAs (53%) pesquisadas, respondentes desse item, dependeram, em 2005, em mais de 60%, da renda gerada pela indústria rural para sua manutenção. As demais distribuíram-se nos estratos de até 20%, totalizando 743 UPAs, e de 20,1% a 60% com 623 UPAs (Tabela 2).

Tabela 2 - Número de UPAs, de Acordo com Percentual da Renda Obtida com a Indústria Rural, 2004 e 2005

Limite (%)
2004
2005
N.
%
N.
%
80, 1-100
1.096
36,5
802
27,6
60, 1-80
665
22,2
739
25,4
20, 1-60
480
16,0
623
21,4
até 20
760
25,3
743
25,6
Total
3.001
100,0
2.907
100,0
Fonte: IEA/CATI.

            Com relação ao percentual da matéria-prima produzida na própria UPA e utilizada na atividade de beneficiamento, cerca de 71,0% das UPAs respondentes desse item utilizaram de 90,1% a 100% da sua própria matéria-prima; apenas 30% recorreram a produções de terceiros, em percentuais que variaram de 20,1% a 90% do total industrializado na UPA (Tabela 3).

Tabela 3 - Número de UPAs, de Acordo com Percentual da Matéria-Prima Produzida na UPA Utlizada na Atividade de Beneficiamento, 2004 e 2005

Limite (%)
2004
2005
N.
%
N.
%
90, 1-100
2.347
67,7
1.622
70,3
20, 1-90
1.119
32,3
685
29,7
até 20
-
-
-
-
Total
3.466
100,0
2.307
100,0
Fonte: IEA/CATI.

            Quanto ao destino da produção da Indústria Rural, aproximadamente um quarto (24,0%) do total das UPAs respondentes realizaram vendas diretas, comercializando suas produções na própria UPA, enquanto 33,7% delas comercializaram o produto processado junto a atacadistas, invertendo a situação relativa aos canais de comercialização observada no ano anterior. Já, cerca de 21,0% das UPAs destinaram suas produções aos supermercados e mercearias dos centros urbanos mais próximos, praticamente o mesmo percentual observado em 2004. A venda para outra indústria foi bem menos expressiva, informada por apenas 2,6% do total de UPAs, contra 3,2% do ano anterior. Apenas 10,5% das UPAs comercializaram seus produtos junto a associações que, em 2004, haviam comercializado quase 25% do total produzido, perdendo, portanto, importância como via de escoamento da produção da indústria rural. O inverso ocorreu com relação à venda para cooperativas, que absorveram as produções de 8,3% das UPAs em 2005, contra apenas 2,0% observado em 2004 (Tabela 4).

Tabela 4 - Número de UPAs Segundo o Destino da Produção da Indústria Rural, 2004 e 2005¹
(continua)

Limite
Venda na UPA
Atacadista
Venda para outra indústria
2004
2005
2004
2005
2004
2005
0-5
232
232
1
1
-
-
5,1-10
332
57
-
-
-
-
10,1-15
-
-
2
-
2
-
15,1-20
-
370
-
-
53
48
20,1-30
426
-
52
8
-
-
30,1-50
-
8
45
370
44
-
50,1-80
2
-
-
-
-
-
80,1-100
563
374
1.069
1.082
41
67
Total
1.555
1.041
1.169
1.461
140
115
Part. %
35,5
24,0
26,7
33,7
3,2
2,6
¹A mesma UPA pode ter informado mais de um destino.
Fonte: IEA/CATI.

Tabela 4 - Número de UPAs Segundo o Destino da Produção da Indústria Rural, 2004 e 2005¹
(conclusão)

Limite
Supermercado e mercearia
Cooperativa
Associação
2004
2005
2004
2005
2004
2005
0-5
-
-
-
-
-
-
5,1-10
2
-
-
-
-
-
10,1-15
0
-
-
-
-
-
15,1-20
52
-
-
312
-
-
20,1-30
-
8
-
-
-
-
30,1-50
88
457
87
-
87
87
50,1-80
-
1
-
47
374
370
80,1-100
767
441
 
-
580
-
Total
909
907
87
359
1.041
457
Part. %
20,8
20,9
2,0
8,3
23,8
10,5
¹A mesma UPA pode ter informado mais de um destino.
Fonte: IEA/CATI.

            No Estado de São Paulo, a principal empregadora de mão-de-obra em atividades não-agrícolas (industriais, administrativas e serviços) é a atividade industrial (considerando-se também o emprego em usinas de açúcar e álcool, grandes usinas processadoras de leite, olarias,etc.) com 91,9 mil pessoas3.
            Na produção industrial rural paulista ocuparam-se 14.233 pessoas em 2005, em média 4,5 pessoas por UPA produtora. Desse total, 44,5% residem na UPA. Dos trabalhadores residentes nas UPAs, 81,6% são proprietários (incluindo familiares e agregados) e 14,2% são empregados permanentes. A categoria de parceiros representou 4,1%, enquanto a dos empregados temporários não apresentou registro. Ao se avaliar o total de dias trabalhados no ano para as diferentes categorias de trabalho, a maior média ocorreu para os parceiros (365 dias), seguido de proprietários (212 dias) e depois empregados permanentes (208 dias) (Tabela 5).
            Os trabalhadores não residentes nas UPAs totalizaram 7.893, com maior representatividade dos empregados permanentes (50,2%), e a seguir dos empregados temporários (25,1%), porém, o total de dias trabalhados no ano é menor para os temporários (88 dias).
            Observou-se queda na ocupação em atividades da indústria rural em 2005 com relação a 2004. Sobre esse fato, deve-se ressaltar o decréscimo do valor da produção da indústria rural em 2005, bem como o crescimento da demanda por trabalhadores na agroindústria sucroalcooleira decorrente da expansão desse segmento da agropecuária paulista.

Tabela 5 - População Ocupada na Indústria Rural, por Categoria, 2004 e 2005
(continua)

Categoria
2004
2005
Dias trabalhados
2004
2005
N.
%
N.
%
2004
2005
Dias-homem
%
Dias-homem
%
Residente na UPA                    
Proprietário, familiares e agregados
8.424 
66,3
5.174 
81,6
274
212
2.308.176 
64,4
1.417.676 
80,8
Parceiro, sócio, familiares e agregados
273 
2,2
263 
4,1
247
365
67.431 
1,9
64.961 
3,7
Empregados permanentes
4.000 
31,5
903 
14,2
302
208
1.208.000 
33,7
272.706 
15,5
Empregados temporários
-
-
-
Subtotal
12.697 
100,0
6.340 
100,0
-
-
3.583.607 
100,0
1.755.343 
100,0
Categoria
2004
2005
Dias trabalhados
2004
2005
N.
%
N.
%
2004
2005
Dias-homem
%
Dias-homem
%
Não residente na UPA                    
Proprietário, familiares e agregados
3.328
30,8
1.786
22,6
288
224
958.464
34,5
400.064
22,8
Parceiro, sócio, familiares e agregados
-
168
2,1
220
-
36.960
2,2
Empregados permanentes
5.065
46,9
3.963
50,2
290
288
1.468.850
52,8
1.141.344
65,1
Empregados temporários
2.414
22,3
1.976
25,1
146
88
352.444
12,7
173.888
9,9
Subtotal
10.807
100,0
7.893
100,0
-
-
2.779.758
100,0
1.752.256
100,0
Total
23.504 
-
14.233 
-
-
-
6.363.365 
-
3.507.599
-
Fonte: IEA/CATI.

            Os levantamentos sócio-econômicos sobre a indústria rural paulista têm sido realizados desde junho de 2003, referentes ao ano de 2002, quantificando os montantes de emprego e renda gerados pelas principais atividades industriais rurais do Estado de São Paulo.

_____________________________________
1No conceito de Indústria Rural, as grandes agroindústrias como as usinas de açúcar, destilarias de álcool, extratoras de suco de laranja, fábricas de laticínios e outras grandes instalações não estão incluídas.
2Para estimar os totais sobre as atividades da indústria rural no Estado de São Paulo, a atual amostra probabilística é composta por 3.204 unidades de produção agropecuária (UPAs) e sorteada com base no cadastro obtido no Censo Agropecuário realizado por meio do IEA e da CATI, conhecido por Projeto LUPA (1995/96).
3BAPTISTELLA, C.S.L.Ocupação No Rural Paulista Cresce 0,4% Em 2006, Para 1,056 Milhão De Pessoas. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=8679.

Palavras-chave: indústria rural, mão-de-obra na indústria rural.


Data de Publicação: 04/12/2007

Autor(es): Marina Brasil Rocha (mabrasil@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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