Agropecuária com Bom Desempenho em 2008

            A conjuntura econômica mundial favorável e a elevação dos preços dos produtos agropecuários, em particular, com reflexos nos preços internos, aliados ao aumento da oferta das principais commodities, resultaram na obtenção de um valor da produção agropecuária do Brasil significativamente maior em 2007, em comparação a 2006.

            Segundo cálculo preliminar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) do Brasil, em 2007, com 25 produtos, cresceu 12,8% em termos reais (a preços de julho de 2007), totalizando R$199,8 bilhões. O setor agrícola (com 20 produtos vegetais) cresceu 14,5% e o setor pecuário (com 5 produtos) aumentou 10,2%. Maiores aumentos de renda foram constatados em trigo (120,1%), uva (106,9%), algodão (46,3%) e milho (44,0%).

            A agropecuária do Estado de São Paulo, líder nacional em termos de valor da produção, apresenta em sua composição do valor o grupo dos grãos com participação relativa menor (8,6%) do que em outras unidades da federação (como Paraná e Mato Grosso), e a cana-de-açúcar, com peso significativo (36,5%) no ranking de seus componentes. Com a queda acentuada do preço em 2007 (32,7%), relativamente a 2006, não compensando o aumento da produção (12,2%), o valor da cana caiu 24,5% neste ano, para R$11,2 bilhões, segundo cálculo preliminar do Instituto de Economia Agrícola (IEA).

            A queda da renda da cana-de-açúcar derrubou o valor da produção agropecuária paulista (7,2%) em 2007, totalizando R$30,6 bilhões. Sem a cana, o valor da produção dos outros 49 produtos da agropecuária paulista em 2007, de R$19,4 bilhões, corresponde a um aumento de 6,8% em relação ao valor de 2006. De modo geral, esse crescimento se deve à elevação dos preços médios, dado que a maioria dos produtos apresentou decréscimo de produção em 2007.

            Carne bovina, laranja para indústria, carne de frango e laranja para mesa ocuparam, nesta seqüência, da segunda à quinta posição do ranking do valor da produção paulista em 2007, dando um acumulado de 68% do total. O milho é o produto de maior valor entre as culturas anuais, ocupando a sexta colocação na lista.

            Embora a agropecuária do Estado de São Paulo apresente um número grande de espécies vegetais e animais gerando produtos de alto valor, como a cana-de-açúcar, tem se expandido em praticamente todas as regiões do território paulista, em anos recentes. Em 2006, a cana foi o produto de maior valor em 25 das 40 regiões (Escritórios de Desenvolvimento Rural - EDRs) do Estado. Neste ano, em função da queda do preço, a cana perdeu a liderança da renda em duas regiões, mas mantendo a primeira posição em 23 EDRs.

            O Estado de São Paulo ocupou a oitava posição no ranking brasileiro da produção de grãos em 2007, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Quanto ao café, ocupa a terceira posição, atrás de Minas Gerais e Espírito Santo, mas é o segundo quando se considera apenas a espécie arábica. Na tabela 1 são apresentadas as áreas plantadas das principais culturas no Brasil e no Estado de São Paulo.

Tabela 1 - Áreas Plantadas das Principais Culturas, Brasil e São Paulo, 2007

Cultura
Brasil

(mil ha)

São Paulo

(mil ha)

SP/BR 

(%)

Ranking SP

na produção 

Algodão
1.097
32 
2,9
6o
Amendoim
103 
72 
69,9
1o
Arroz
2.967 
25 
0,8
15o
Banana
522 
50 
9,6
2o
Café
2.248 
64 
7,3
3o
Cana-de-açúcar
6.964 
3.680 
52,8
1o
Feijão
4.087 
192 
4,7
4o
Girassol
75 
2,7
6o
Laranja
915 
669 
73,1
1o
Mamona
156 
1,3
6o
Mandioca
2.456 
74 
3,0
7o
Milho
14.055 
958 
6,8
5o
Soja
20.687 
538 
2,6
8o
Sorgo
704 
69 
9,8
3o
Trigo
1.758 
49 
2,8
4o
Triticale
108 
25 
23,1
2o

Fonte: CONAB (grãos, café e cana-de-açúcar) e IBGE (banana, mandioca e laranja).

            O resultado econômico das principais atividades agropecuárias brasileiras em 2007, embora crie ambiente favorável para a tomada de decisão de expansão da produção agropecuária para 2008, não resolve os problemas crônicos de endividamento rural, mormente após as frustrações dos últimos três anos. Há um processo em curso de renegociação de parcela das dívidas dos produtores, o que dificulta a captação de recursos para o financiamento do custeio e dos investimentos para a safra 2007/08.

            Um fator adicional de dificuldade para os produtores é o encarecimento dos insumos, principalmente dos fertilizantes, cujos preços se elevaram acentuadamente em âmbito mundial, decorrente do aumento da demanda, dos fretes marítimos e da elevação dos preços do petróleo. Como conseqüência, os custos de produção das culturas sofreram acréscimos significativos neste ano.

            Os fatores fundamentais do mercado, entretanto, se apresentam muito favoráveis para as principais commodities agrícolas brasileiras, especialmente o do âmbito externo. A demanda mundial de grãos e carnes, alavancada pela China, deverá prosseguir aquecida nos próximos cinco anos, pelo menos, o que motivará a manutenção de preços elevados dos produtos, como soja, milho, trigo e carnes. Contudo, o embargo da importação da carne brasileira por parte da União Européia poderá afetar a balança comercial.

            O relatório de dezembro de 2007 (World Agricultural Supply and Demand Estimates) do USDA projeta para 2007/08 elevação generalizada de preços para o complexo soja o que deverá provocar retração no uso do óleo de 20,2% para 18,3% naquele país.

            O mesmo deverá ocorrer no Brasil, pois cerca de 80% do biodiesel daqui tem a soja como matéria-prima. Nestas condições o Programa Biodiesel fica em posição difícil: o parque industrial está montado (e até superdimensionado); a partir de janeiro próximo o B2 passa a ser mandatário, mas os preços dos óleos vegetais estão muito elevados. Assim o Programa fica em posição stand-by. Quando realmente deslanchará ninguém sabe, ou arrisca opinar!

            Entre os países emergentes o Brasil vem se destacando na manifestação de interesse de investidores globais, dados aos amplos recursos naturais disponíveis no país e ao avanço acelerado do conhecimento tecnológico incorporado nos processos produtivos. Provas desse interesse são as aquisições e fusões de empresas nacionais por conglomerados transnacionais, notadamente nas áreas de alimentos e insumos para a agropecuária. Da mesma forma, empresas do agronegócio brasileiro estão conquistando espaço na esfera mundial, se associando a grupos estrangeiros, visando ampliar, assim, o market-share de seus negócios.

            Esse cenário favorável poderá ser comprometido por fatores de natureza estrutural, como as crônicas deficiências de logística de transporte, armazenagem e portuária, as questões tributárias, as condições para atendimento às exigências de certificação de sanidade e qualidade dos produtos e insumos, e aos requisitos de sustentabilidade sócio-ambiental dos processos produtivos.

            O processo de adoção de tecnologia por parte dos produtores rurais vem ocorrendo de forma acelerada em anos recentes, visando a melhoria de competitividade a que estão submetidos, a despeito da elevada dívida contraída pelo setor.

            Nesse sentido, pacotes tecnológicos avançados têm sido disponibilizados, tanto no processo produtivo como na administração dos negócios, como o uso de novos insumos químicos e orgânicos, menos agressores ao meio ambiente e equipamentos eletrônicos.

            No corrente ano, dadas as perspectivas da economia mundial, já apontadas, o cenário se apresenta propício para o surgimento de inovações tecnológicas ao longo das cadeias de produção do agronegócio brasileiro.
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Palavras-chave: agronegócio, valor da produção, bioenergia.


Data de Publicação: 15/02/2008

Autor(es): Alfredo Tsunechiro (tsunechiro@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Sebastião Nogueira Junior (senior@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor