O que ocorreu na Safra de Cana-de-Açúcar 2007/08?

            A safra 2007/08 foi um reflexo negativo, em termos de preço, da euforia da safra passada, isto é, os investimentos e as decisões tomadas nesta safra tomaram como base os números de 2006, números e indicadores atípicos. Essa decisão acarretou em uma oferta de álcool além da capacidade de demanda interna e externa, com conseqüências nos preços do álcool e da cana-de-açúcar.

            A produção de açúcar no Brasil estimada em 26 milhões de toneladas, com um aumento de 1,63% em relação a safra anterior, dificulta o enxugamento do mercado, que está com excedentes.

            Infelizmente, os preços da safra 2007/08, foram menos animadores do que esperavam os mais eufóricos do mercado. Isso decorre de uma expectativa irrealista em relação à demanda de açúcar e álcool, confusão em relação à sinalização do mercado. A questão central que esta safra nos remete é se existem sistemas de mercado capazes de captar os diversos movimentos de um setor em explosão (FRONZAGLIA e TORQUATO, 2007). Portanto, faltou planejamento futuro?

            A safra 2007/08 de cana-de-açúcar no Brasil deve mesmo ficar em torno de 475 milhões de toneladas, um aumento de 11,5% em relação a produção da safra passada que foi de 426 milhões de toneladas (CONAB, 2007).

            A safra 2007/08, que se encerrou, revela uma posição de preços baixos tanto para o álcool como para o açúcar, decorrente basicamente de uma grande oferta de álcool no Brasil e nos EUA e de um excedente de produção de açúcar mundialmente. O preço da cana-de-açúcar (CONSECANA/UDOP) teve uma queda de 45,1% de janeiro a novembro de 2007. Já se considerarmos os preços médios recebidos pelo produtor (IEA) registra uma queda de 39,1%.

            A produção de álcool no Brasil nesta safra deve ficar em torno de 20 bilhões de litros o que corresponde a um aumento na ordem de 25% em relação à safra anterior.

            O volume de álcool exportado em 2007, cresceu 3,02% (janeiro a dezembro) em relação ao mesmo período de 2006. De 2005 para 2006, no mesmo período o crescimento das exportações de álcool brasileiro foi de 32%. Portanto, o ritmo de crescimento das exportações de álcool recuou fortemente em 2007. Já o valor total de álcool exportado pelo Brasil em 2007, foi de US$1.47 bilhão contra US$1.6 bilhão de 2006, uma queda de 8,84% (Figura 1).

Figura 1 - Evolução das Exportações de Álcool Brasileiro no Período 1997-2007.

Fonte: Elaborada pelo autor com dados da SECEX/MDIC.

            A expectativa de crescimento das exportações de álcool na mesma velocidade dos anos anteriores não se concretizou, e consequentemente aumentou a disponibilidade de álcool internamente. Também os preços médios das exportações de álcool caíram, ficando em média de US$421,00/m3 enquanto em 2006, esse preço estava em média de US$468,00/m3 (SECEX, 2008).

            O preço do álcool iniciou uma tendência de aumento em dezembro com a entrada da entressafra, mas logo foi sufocado devido ao grande volume de estoque e oferta de álcool que não sustentam um aumento de preços.

            No levantamento da segunda semana de janeiro de 2008, feito pelo CEPEA para preço praticado na usina em São Paulo o litro do álcool hidratado está em R$0,69 e do Anidro em R$0,78. Esses preços registram uma queda de 47,8% para o álcool hidratado e 33,3% para o álcool anidro em relação ao mesmo período de 2006 e 23,1% e 11,5%, respectivamente, quando comparado ao mesmo período de 2007.

            O estoque de passagem que é estimado pela ÚNICA em 6,5 bilhões de litros, garante uma oferta tranqüila aos consumidores.

            As vendas de colhedoras de cana tiveram um bom crescimento na safra passada. Em 2006 cerca de 35% da área de cana em São Paulo foi colhida mecanicamente. Em 2007 esse índice deve chegar próximo de 45%. Alguns fatores contribuíram para esse crescimento o menor custo da colheita mecânica em relação a manual, o protocolo agro-ambiental assinado entre as usinas e governo paulista e as questões ambientais.

            As exportações de álcool brasileiro devem crescer menos nos próximos três anos podendo até haver uma retração devido principalmente ao crescimento da produção de etanol nos EUA a partir do milho e da tarifa de US$0,54 por galão. Na UE, Japão, alguns países da Ásia têm dificuldades e lentidão na adoção de políticas de adição do álcool a gasolina, seja por deficiência na infra-estrutura para misturar o etanol a gasolina, como também na distribuição.

            O mercado interno para o álcool sempre foi o mais promissor deste o início do PROÁLCOOL e agora ele é e será, pelo menos no curto prazo, o grande motivador da expansão do setor sucroalcooleiro. Em 2008 o mercado interno crescerá ainda mais com o aumento das vendas de carros bi-combustível. O mercado para o açúcar segue com uma recuperação nos preços, mas ainda sem muita base, há ainda excedente de cerca de 6,6 milhões de toneladas de açúcar no mundo, o que garante um horizonte instável para a safra 2008/09.

            Alguns investimentos em expansão e novas plantas deverão ficar em espera em 2008 por conta dos preços baixos e as dificuldades para concretizar aumentos nas exportações. Há um ensaio com boas perspectivas de exportação de plantas e equipamentos para produção de álcool, principalmente para países do Caribe e África.

            Portanto, o foco do planejamento da produção e oferta de álcool no Brasil deve ser o mercado interno e o olhar para o mercado externo deve ser visto com muita cautela. Apesar da turbulência ocorrida em 2007 e que continua em 2008 o mercado de álcool carburante ainda é muito promissor, com planejamento e coordenação os ajustes serão feitos e equilibrará o mercado no médio prazo.

            A construção do mercado externo de etanol é preciso ser feita com cautela e muito planejamento é necessário tempo e muitas negociações para que se concretize esse almejado mercado. Enquanto se constrói esse mercado é necessário que se invista pesadamente em infra-estrutura de escoamento do álcool para exportações, para que no futuro os custos de logística sejam competitivos com os demais potenciais produtores mundiais.
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CEPEA/ESALQ. Disponível em: <www.cepea.esalq.usp.br>.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Previsão de safra. São Paulo, 2007

FRONZAGLIA, T.; TORQUATO, S. A. Mercado de álcool: desajustes e excesso de expectativas. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 2, n. 7, jul. 2007.

MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO E INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR – MDIC/SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR - SECEX. Balança Comercial Brasileira. Rio de Janeiro, 1996-2004. Disponível em: <http://aliceweb.mdic.gov.br>. Acesso em: jan. 2008.

Palavras-chave: safra, cana-de-açúcar, etanol, mercado.

Data de Publicação: 03/03/2008

Autor(es): Sérgio Alves Torquato (storquato@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor