Produto Interno Bruto do Brasil e de São Paulo no Período 1995 a 2005

1 - Introdução

            O PIB é um dos indicadores mais utilizados na economia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região ou país. O PIB representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos em uma determinada região, sejam países, estados e cidades, durante um período determinado. É o produto ou o valor adicionado gerado num terrirório econômico por residentes. A renda gerada na produção, ou valor adicionado, é obtida por saldo da produção e consumo intermediário. Somando-se os impostos líquidos de subsídios a produtos ao valor adicionado de cada atividade econômica obtém-se o PIB para o total da economia. Dividindo-se o PIB total pelos residentes obtém-se o PIB per capita.

            Quando se procura comparar ou analisar o comportamento do PIB de um país ao longo do tempo, é necessário distinguir o PIB nominal do PIB real. O PIB nominal se refere ao valor do PIB calculado a preços correntes e o PIB real é calculado a preços constantes. O mais indicado é o uso de seu valor a preços constantes, que leva em conta apenas as variações nos volumes produzidos dos bens, e não nas alterações de seus preços de mercado.

            O objetivo deste artigo é analisar o PIB brasileiro e paulista considerando os setores de atividade, e comparar o desempenho da economia paulista diante do desempenho da economia brasileira. Para isso, serão calculadas as taxas de crescimento do valor adicionado bruto a preço básico da agricultura, indústria e serviços do Brasil e do Estado de São Paulo bem como as taxas de crescimento do PIB do Brasil e de São Paulo, a preços constantes, no período 1995 a 2005.

            A fonte de informações do PIB do Brasil é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A série atual do Sistema de Contas Nacionais (SCN) brasileiro foi divulgada em 1997, com seu ano inicial em 1990, que tinha como referência os Censos Econômicos de 1985. Em março de 2007, foi divulgada nova série do SCN, na qual foram incluídas mudanças nas ponderações, com referência o ano 2000. Várias atualizações foram introduzidas1. Revisão da série 1995-2000 por retropolação foi efetuada2. O IBGE disponibiliza a série encadeada do índice trimestral, por setor de atividade, com base na média de 1995 e referência em 2000, a qual foi anualizada, através de média simples, para ser utilizada neste artigo.

            A Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), em parceria com o IBGE, elabora e divulga as informações do PIB do Estado de São Paulo. O SEADE disponibiliza o índice real do valor adicionado bruto a preço básico, segundo setores e subsetores de atividade econômica, com base em 1985, e o produto interno bruto para o Estado de São Paulo, a preços constantes. Em consonância com as mudanças do cálculo do PIB brasileiro, mudanças metodológicas também foram introduzidas. A série atualizada do PIB regional compreende o período posterior a 2002, tomando-se este como base, porque, a partir desse ano, todas as pesquisas econômicas anuais conduzidas pelo IBGE, cujos resultados passam a compor as bases de informação, estavam em execução3. Para os propósitos deste artigo, o recálculo dos valores de 1995 a 2002 foi elaborado através dos acréscimos verificados ano a ano da base anterior.

2 - Desempenho do PIB Brasileiro e Paulista, 1995 a 2005

            A análise gráfica da variação anual do PIB do Brasil e de São Paulo não mostra um crescimento contínuo no período analisado (Figura 1). Pelo contrário, o crescimento oscila ano a ano, sendo acompanhado pelas oscilações de São Paulo, exceto para os anos de 2002 e 2003, quando neste último apresentou variação negativa. Esses resultados são reflexos da crise de energia elétrica ocorrida em 2001 e incertezas quanto às eleições presidenciais. Em 2004, entretanto, observa-se o pico de crescimento, liderado pela indústria de transformção paulista, que ainda é o grande elo entre a dinâmica econômica do estado e a do país. A economia paulista, diversificada e complexa, é a grande fornecedora de insumos, bens finais e serviços técnicos para os demais estados brasileiros. Embora tenha grande presença no comércio exterior, a demanda externa tem um peso relativamente pequeno para impulsionar sua economia diferentemente do que ocorre com os outros estados. Assim, sua dinâmica econômica reflete muito mais o comportamento geral da economia nacional do que a dos demais estados4.

Figura 1 - Variação Anual do PIB do Brasil e de São Paulo, 1996-2005. 

Fonte: Elaborada a partir de dados do SEADE e IBGE.

            No período de 1995 a 2005, o PIB total brasileiro cresceu 2,23% ao ano. O valor adicionado pela agricultura brasileira contribuiu com um crescimento médio de 4,25% ao ano, a indústria brasileira cresceu a uma taxa média anual de 1,54% enquanto o setor de serviços cresceu 2,39% ao ano. Em igual período, o PIB do Estado de São Paulo cresceu 1,88% ao ano. O valor adicionado pela agricultura paulista apresentou crescimento à taxa média de 2,41% ao ano, enquanto a indústria paulista cresceu apenas 1,14% ao ano e o setor de serviços 2,12% ao ano. Em nenhum grupo de atividade São Paulo conseguiu superar as atividades em nível nacional no período total (Tabela 1).

Tabela 1 - Taxa de Crescimento do PIB, por Setor de Atividade, Estado de São Paulo e Brasil, Período 1995-2005
(em % ao ano)

Setor de atividade
Estado de São Paulo
Brasil
Agropecuária
2,41
4,25
Indústria
1,14
1,54
Serviços
2,12
2,39
PIB total
1,88
2,23
Fonte: Elaborada a partir de dados do SEADE e IBGE.

            Esses resultados ressaltam a importância da agricultura brasileira no período analisado. O crescimento da agricultura brasileira tem ocorrido em função de ganhos de produtividade estimulada pela política de modernização destinada ao setor.

3 - Principais Traços da Política Econômica do Período 1995 a 2005

            A política econômica adotada no Brasil no período objetivou a estabilização de preços e sua mautenção. A política de estabilização do plano real se utilizou do sistema de bandas cambiais com câmbio valorizado para manter os preços estáveis via concorrência externa. Para financiar o déficit da balança de transações corrente e se proteger de uma crise cambial, as taxa de juros foram elevadas substancialmente atraindo o ingresso de capitais externos, ao mesmo tempo em que desencadeiam um processo recessivo na economia. O grande volume de recursos externos foi direcionado principalmete para aquisições de empresas privatizadas e bem menos em novos investimentos geradores de crescimento econômico. Medidas de contenção de consumo e restrição de crédito acompanhadas de reforma salarial que reduziu o poder aquisitivo dos salários também contribuíram para estabilização da inflação.

            O esgotamento dessa política se verificou através das crises cambiais internacionais, asiática e russa. No clima de instabilidade dessas crises as expectativas com respeito ao Brasil se deterioraram e os mercados financeiros internacionais passaram a considerar que o financiamento do déficit externo brasileiro representava riscos de inadimplência. Sob pressão, modifica-se a política econômica em 1999, permitindo a flutuação do câmbio e controlando-se as taxas de juros.

            O nível de atividade mostrou sinais de melhora, tendo, entretanto, apenas em 2004 apresentado crescimento considerável, em torno de 5,7%. Nesse ano, os invetimentos realizados no Brasil cresceram mais de 10%.

            A abertura comercial e financeira, e a consequente internacionalização da economia, induziu a política econômica a processos de reestruturação da base produtiva. Os principais setores que compunham o parque industrial buscaram novos mercados e aumentaram a produtividade através de estratégias de competitividade. Esse movimento provocou a quebra de empresas, transferências patrimoniais, mudanças no padrões tecnológicos, alteração dos métodos e modelos de gestão e modificação do perfil do emprego. Esses fatores passaram a interferir na dinâmica econômica e migratória estadual (PERILLO e PERDIGÃO, 2005)5.

            A reestruturação na atividade produtiva eliminou parcela de postos de trabalho no setor industrial ao mesmo tempo em que a terceirização de atividades, antes realizada na indústria, elevou o nível de emprego no setor de serviços. Nesse quadro, a atração migratória de São Paulo parece ser atualmente exercida pela interação dos investimentos na produção industrial e na capacidade que esses investimentos têm na demanda por mais serviços e mão-de-obra. Acrescente-se a isso a modernização da agricultura brasileira, com uso intensivo de máquinas, a reabsorção de contingente populacional pelo setor primário fica dificultada.

            Segundo Baeninger (2002)6 a população brasileira tem crescido a uma taxa média de 1,6% ao ano com intensos movimentos migratórios. Com uma trajetória de crescimento econômico e populacional marcada pelos movimentos migratórios, o Estado de São Paulo tem registrado taxas de crescimento de sua população superiores à média nacional e regional. No período 1991-2000, quando a taxa de crescimento da população nacional foi de 1,6% ao ano, a do Estado de São Paulo foi de 1,8% ao ano. O principal destino das migrações nacionais vem se tornando incapaz de absorver elevado contingente populacional. Apesar disso, São Paulo ainda exerce forte atração no direcionamento dos fluxos migratórios de outros estados.

            Embora o PIB per capita paulista se situe bem acima do nacional, que conforme o SEADE em 2005 foi de R$ 17.977 em São Paulo e R$ 11.658 no país, no período analisado a taxa de crescimento do PIB per capita nacional foi superior ao paulista. O Brasil apresenta taxa média de 0,8% ao ano enquanto São Paulo mostra taxa muito menor, praticamente nula.

4 - Considerações Finais

            O Brasil atravessou o período 1995 a 2005 com grandes modificações em sua estrutura produtiva, devido principalmente à liberação econômica. A política econômica objetivou a estabilização de preços e sua manutenção. Grandes instabilidades afetaram a economia brasileira provocando uma pressão para baixo, principalmente, para as atividades produtivas de São Paulo. Devido às dificuldades, o crescimento foi modesto, tanto em nível nacional, 2,23%, quanto regional, 1,88%. Mesmo assim, o PIB de São Paulo continua tendo a maior participação no PIB nacional e continua sendo o maior pólo de atração dos migrantes brasileiros.

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1Para saber mais consultar: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/pdf/24_tabcomparativas .pdf>.

2Ver:< http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/pdf/22_retropolacao.pdf>.

3Para saber mais consultar: <http://www.seade.sp.gov.br/produtos/pib/pdfs/pib_analise_2005.pdf>.

4Ver: <http://www.seade.gov.br/produtos/pibtrimestral/pib_2005.pdf>.

5PERILLO, S. R.; PERDIGÃO, M. de L. Percursos migratórios no estado de São Paulo uma análise do período 1995-2000. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 19, n. 3, p. 97-109, jul/set. 2005.

6BAENINGER, R. Expansão, redefinição ou consolidação dos espaços da migração em São Paulo? Análise a partir dos primeiros resultados do Censo 2000. Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/ 2002/GT_MIG_ST9_Baeninger_texto.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2008.

Palavras-chave: PIB, valor adicionado, atividade econômica.

Data de Publicação: 29/05/2008

Autor(es): Samira Aoun (samira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor