1 - INTRODUÇÃO

            As condições climáticas e a ocorrência de doença (ferrugem asiática) na cultura da soja afetaram significativamente a produção brasileira de grãos na safra 2003/04, frustrando a expectativa inicial de novo recorde, embora tenha sido beneficiada pelo excelente desempenho das exportações, com reflexos positivos nos preços internos, pelo menos no primeiro semestre de 2004. A produção brasileira de grãos (cereais, leguminosas e oleaginosas) do ano-safra 2003/04 foi estimada, em agosto, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 119,5 milhões de toneladas, 3,4% a menos que a da safra 2002/03 (LEVANTAMENTO, 2004). Diferentemente da safra anterior, as condições climáticas foram favoráveis para a maioria das culturas permanentes (ou perenes), como as de laranja e café. Esta última cultura, apesar das chuvas excessivas em abril e maio, apresenta crescimento da produção, graças ao atual ciclo de alta da produção (bianualidade) (CONAB, 2004).
            De acordo com estimativa preliminar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), de agosto (com dados até julho de 2004), o valor bruto da produção agropecuária do Brasil em 2004 (com 25 produtos) cresceu 4,1%, em termos reais, e totalizou R$183,7 bilhões (a preços de julho de 2004). Em termos relativos, a maior parcela desse desempenho pode ser atribuída ao aumento do faturamento dos produtos das lavouras (20 produtos), 4,5% superior ao do ano anterior, principalmente da uva (196,0%), mamona (112,5%), algodão (82,1%), mandioca (74,3%) e fumo (63,1%). Em termos absolutos, destacam-se: soja, arroz e mandioca, com incrementos de R$3,5 bilhões, R$2,8 bilhões e R$2,1 bilhões, respectivamente, do valor da produção.
            Os produtos de origem vegetal que apresentaram reduções de valor foram: batata (44,3%), cacau (43,5%), feijão (33,3%) e milho (27,1%) (também com a maior queda absoluta, de R$5,1 bilhões). O valor da produção animal (cinco produtos) apresentou crescimento de 3,3%, com os maiores aumentos relativos dos valores da produção de carne suína (13,9%), ovos (5,0%) e carne bovina (3,3%) (INDICADORES, 2004).
            Na atual conjuntura, otimista para a economia em geral, mas de preocupação para os agronegócios brasileiros, em razão da queda dos preços internacionais desde meados de 2004, cresce a importância de uma análise preliminar do desempenho da agropecuária paulista na safra 2003/04, tendo em vista a condição de liderança nacional do Estado de São Paulo quanto ao valor da produção agropecuária (TSUNECHIRO, 2004). O agronegócio paulista é também responsável por 24% das exportações do agronegócio brasileiro em 2004 (VICENTE et al., 2004).
            Apresenta-se neste trabalho a estimativa preliminar do valor da produção agropecuária do Estado de São Paulo da safra 2003/04, discriminado por produto e grupo de produtos, bem como os resultados para os 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) e para as 15 Regiões Administrativas (RAs).

2 - METODOLOGIA

            As informações sobre produção vegetal e animal foram obtidas dos Levantamentos por Município de Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas do Estado de São Paulo, ano agrícola 2003/04, realizados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (CASER et al., 2004a, 2004b e 2004c).
            As informações sobre preços foram obtidas de duas fontes: Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), para produtos olerícolas (exceto batata, cebola, mandioca e tomate) e frutas (exceto banana, laranja, limão e tangerina), por decomposição dos preços de venda no atacado; e IEA (INFORMAÇÕES, 2003-2004) para os demais produtos. A fonte dos preços da borracha (coágulo) até 2003 foi a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (FAESP) e a partir de 2004 passou a ser o IEA.
            Os preços médios de cada produto, recebidos pelos produtores, representam valores médios correntes de janeiro a dezembro de 2003 e de janeiro a agosto de 2004. São considerados neste estudo 47 produtos (40 de origem vegetal e sete de origem animal): abacate, abacaxi, abóbora, abobrinha, alface, algodão, amendoim, arroz, banana, batata, batata-doce, beterraba, borracha, café beneficiado, cana-de-açúcar, caqui, carne bovina, carne de frango, carne suína, casulo, cebola, cenoura, feijão, goiaba para mesa, goiaba para indústria, laranja para mesa, laranja para indústria, leite B, leite C, limão, mandioca para mesa, mandioca para indústria, manga, maracujá, melancia, milho, ovo de galinha, pêssego para mesa, pimentão, repolho, soja, sorgo, tangerina, tomate para mesa, tomate para indústria, trigo e uva para mesa (TSUNECHIRO et al., 2001 e 2004).
            Conforme estabelecido em estudos anteriores, os produtos considerados neste trabalho foram incluídos nos seguintes grupos:

1) produtos animais: carne bovina, carne de frango, carne suína, casulo, leite B, leite C e ovos;
2) grãos e fibras: algodão, amendoim, arroz, feijão, milho, soja, sorgo e trigo;
3) olerícolas: abóbora, abobrinha, alface, batata, batata-doce, beterraba, cebola, cenoura, mandioca para mesa, pimentão, repolho e tomate para mesa;
4) frutas frescas: abacate, abacaxi, banana, caqui, goiaba para mesa, laranja para mesa, limão, manga, maracujá, melancia, pêssego para mesa, tangerina e uva para mesa; e
5) produtos vegetais para indústria: borracha, café beneficiado, cana-de-açúcar, goiaba para indústria, laranja para indústria, mandioca para indústria e tomate para indústria.

            O valor da produção ou receita bruta de cada produto é resultado da multiplicação do seu preço médio pela respectiva estimativa de produção. As diferentes unidades de medida da produção (tonelada, arroba, litro, caixa, etc.) foram convertidas para as mesmas unidades de comercialização. Deve-se ressaltar que a produção de origem vegetal refere-se ao ano agrícola (ou ano-safra) e o valor da produção animal ao ano civil. Assim, por exemplo, o valor da produção agropecuária de 2004 atribui-se ao ano agrícola 2003/04.
            Para o cálculo do valor da produção de cada produto nos 40 EDRs e nas 15 RAs, com totalização para os EDRs, as RAs e para o Estado, utilizou-se das seguintes fórmulas, apresentadas em Tsunechiro et al. (2001 e 2004):

onde:

VP é o valor total da produção agropecuária do Estado, VP_j é o valor da produção total do j-ésimo EDR; VP_k é o valor da produção total de k-ésima RA; VP_ij e Q_ij são, respectivamente, o valor da produção e a quantidade do i-ésimo produto no j-ésimo EDR, e VP_ik e Q_ik são, respectivamente, o valor da produção e a quantidade do i-ésimo produto na k-ésima RA; P_i é o preço do i-ésimo produto no Estado; i variando de 1 a 47 (número de produtos), j variando de 1 a 40 (número de EDRs) e k variando de 1 a 15 (número de RAs).

            Foram também elaborados índices de preços e de quantidades (produção), de base fixa (2003 igual a 100), pela fórmula de Fisher, conforme Hoffmann (1991), visando captar as fontes de variação do valor da produção em 2004, em relação a 2003, conforme os grupos de produtos considerados.

3 - ANÁLISE DA ESTIMATIVA DO VALOR DA PRODUÇÃO DE 2004

            As análises serão feitas em termos de: 1) Estado de São Paulo, por grupo de produtos e produtos principais; 2) Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR); e 3) Região Administrativa (RA).

3.1 - Valor da Produção do Estado de São Paulo

            As safras e os mercados dos produtos agropecuários do Estado de São Paulo em 2003/04 apresentaram desempenhos distintos. De modo geral, as condições climáticas na safra 2003/04 não foram tão favoráveis como na temporada anterior e prejudicaram o desenvolvimento de algumas culturas. Dos 47 produtos considerados, 31 apresentaram aumento de produção e 16 redução, em relação ao ano precedente. Os preços médios correntes de 28 produtos em 2004 (em caráter preliminar, considerando-se os oito primeiros meses do ano) são maiores que os verificados em 2003, enquanto para 18 produtos os preços são menores, e para 1 (goiaba para indústria) o preço não se altera (Tabela 1).
            O valor da produção agropecuária do Estado de São Paulo cresceu, em moeda corrente, 9,1% em 2004, relativamente ao ano anterior, totalizando R$27,0 bilhões. Deflacionando-se pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, cuja variação foi projetada em 6,58% na média de janeiro a dezembro de 2004, em relação ao mesmo período de 2003, o valor da produção de 2004 corresponde a um aumento real de 2,35%.
            Dada a expressiva participação do valor da produção de cana-de-açúcar no total (27,14%), torna-se interessante analisar o desempenho da agropecuária paulista sem esse produto. Assim, excluindo-se a cana, o valor da produção agropecuária do Estado cresceu 7,21% em 2004, totalizando R$19,7 bilhões. Em valores deflacionados, o aumento foi de 0,58%.
            O incremento do valor da produção deveu-se tanto à elevação dos preços dos produtos, cujo índice geral (composto pelos 47 produtos) foi 3,83% superior ao de 2003, como ao aumento da produção agropecuária total (47 produtos), cujo índice cresceu 5,08%. As maiores elevações dos preços ocorreram nos grupos de olerícolas (16,99%) e produtos para indústria (5,18%). Os preços dos grãos e fibras mantiveram-se no mesmo patamar. Destacaram-se as elevações dos preços da manga, repolho, alface, abacaxi, mandioca para indústria e pimentão. As quedas mais expressivas dos preços foram as do pêssego para mesa, abacate, melancia, abóbora, laranja para mesa, laranja para indústria e feijão.
            Merecem destaque os crescimentos dos volumes produzidos de sorgo (53,02%) e café beneficiado (46,52%). Os produtos que apresentaram as maiores quedas de produção foram: abacate (46,93%), cebola (29,59%), melancia (26,70%) e abóbora (23,40%).
            A cana-de-açúcar, cujo valor cresceu 14,51%, comparativamente ao ano anterior, superior à taxa de aumento do total estadual, teve aumentada sua participação em 2004 (de 25,86% para 27,14%), enquanto a carne bovina manteve-se na segunda posição no ranking, com participação de 16,22% no valor da produção total.
            O milho perde uma posição no ranking em 2004, ocupando o quinto lugar, superado pela carne de frango e a laranja para mesa, devido às quedas dos preços (6,02%) e da produção (1,78%). Alteração de destaque no ranking foi a do café beneficiado, que passou da 12^a posição em 2003 para a 10^a em 2004, em razão do aumento da produção (bianualidade) e dos preços. Situação semelhante é a que ocorre com a manga, que sobe quatro posições na lista, superando quatro produtos, graças às elevações da produção e dos preços.

TABELA 1 - Preço Médio, Produção e Valor Total da Produção Agropecuária, Estado de São Paulo, 2003 e 2004¹
(continua)