Commodities: tendências se mantêm no início de 2005

            Neste início de 2005, as cotações das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional vêm mantendo a tendência observada no segundo semestre de 2004. Isso corresponde à tendência de queda dos preços dos grãos (soja, milho e trigo) e de pequena recuperação do algodão, enquanto os mercados de açúcar, café e suco de laranja devem seguir com os preços elevados e com perspectivas de alta.
            Janeiro de 2005 manteve a tendência que caracterizou o segundo semestre de 2004 para as diferentes commodities nos mercados internacionais, que são exportadas e/ou importadas pelo Brasil. Na tabela 1 são apresentados os resultados da análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, janeiro de 2005 e o acumulado em 12 meses
(em percentagem)
 

Commodities
Mercado
Janeiro 2005
Acumulado 12 meses
Açúcar
NY
2,37
52,81
Algodão
NY
3,37
-42,54
Café arábica
NY
2,39
39,91
Café robusta
Lo
-3,63
-5,85
Suco Laranja CC
NY
-1,09
27,18
Soja grão
CHT
-2,63
-35,98
Milho 
CHT
-0,64
-23,23
Trigo
CHT
0,28
-22,21
Borracha SM20
Malásia
1,85
-0,64
Boi
BM&F
-3,56
4,20
Fonte: Elaborada pelo IEA a partir de dados das Bolsas Internacionais e da BM&F.

            Os efeitos da superssafra 2004/05 dos países do hemisfério norte, especialmente a norte-americana de grãos, gerando elevação dos estoques internacionais, continuam pressionando as cotações do mercado de futuros desses produtos no curto prazo, como pode ser visto nos gráficos abaixo:

 

            Porém, a quebra da safra de laranja da Flórida, da ordem de 35%, e as primeiras estimativas para a safra paulista, com tendência de queda, vêm reforçar a tendência de alta no mercado de Nova York das cotações de suco de laranja congelado e concentrado. Já a maior demanda internacional por açúcar, superando a oferta internacional, continua a pressionar as cotações do produto no mercado internacional, associado à entressafra do Centro-Sul brasileiro. Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            As estimativas da safra brasileira para o ano agrícola 2004/05 indicam quebra de 20% na produção futura de café no país que, associada à menor safra na América Central e da Colômbia e à diminuição dos estoques nos países consumidores, vem pressionando fortemente as cotações do arábica na bolsa de Nova York. Ao mesmo tempo, as perspectivas da safra futura de robusta no Brasil e no Vietnã e da maior oferta deste último país no mercado internacional voltaram a reduzir as cotações do produto no mercado de Londres. A expectativa é de manutenção da tendência de alta das cotações do café arábica em Nova York e estabilidade para o robusta na bolsa de Londres nos próximos meses, como pode ser observado nos gráficos abaixo:

            As cotações da borracha natural, que estavam em queda no mercado internacional em dezembro, apresentaram leve recuperação em janeiro de 2005, com tendência indefinida. Porém com a valorização do real, continuarão a pressionar os preços recebidos pelos produtores brasileiros no primeiro semestre de 2005. Por outro lado, a plena safra de boi em janeiro, associada ao período de férias, e a perda de velocidade nos embarques intensificaram a queda das cotações do boi no mercado futuro, gerando fortes quedas nas cotações do produto. O comportamento das cotações de ambos os produtos podem ser observados nos seguintes gráficos:

            O real apresentou valorização da ordem de 19% desde junho de 2004. Como as commodities agrícolas exportadas são tomadoras de preço no mercado internacional, os agropecuaristas brasileiros estão sofrendo pesadas perdas, além das impostas pelas quedas nas cotações, principalmente pelo fato de os produtos que iniciaram a colheita terem sido plantados com insumos, em sua maioria importados, com câmbio da ordem de R$ 3,00/ dólar. Isto é, os produtores estão sofrendo perdas duplas, o que deverá impactar sua capacidade futura de arcar com seus compromissos financeiros e dispor de condições para iniciar o novo ano agrícola a partir de agosto deste ano.
            Diante dessa situação crítica uma onda de protestos de produtores rurais começa a ocorrer em todo o país. Os agricultores querem a prorrogação das dívidas de investimentos e de custeio, mecanismo de apoio à comercialização e renegociação dos débitos do passado, e fim da antecipação da cobrança do imposto de renda instituído pela Medida Provisória 232. A grande questão são os pequenos recursos de apoio ao setor previsto no Orçamento da União, que em 2005 será da ordem de R$ 527 milhões; porém, para atenuar a crise atual seria necessário um adicional de R$ 2 bilhões, com o objetivo de apoiar a comercialização, principalmente dos grãos e fibras. 

1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-06/2005

Data de Publicação: 10/02/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor