Café: um abril volátil

            Os principais mercados futuros do café mostraram-se altamente voláteis em abril, decorrência das instabilidades financeiras internacionais ocorridas no mês que se refletiram nas cotações das commodities. Especialmente no caso do café, tais instabilidades contradizem os fundamentos ainda vigentes de alta para o produto.
            Em abril, as cotações do café apresentaram fortes flutuações, com tendência de baixa na Bolsa de Nova Iorque. A cotação média do arábica (Contrato C, segunda posição) caiu 4,85% em relação à média de março. No mercado de robusta da Bolsa de Londres, a tendência de alta se manteve devido às fortes estiagens sobre as lavouras do Vietnã, com aumento de 4,14% para a segunda posição. No mercado de futuros da BM&F, também para a segunda posição, o preço do arábica caiu 2,68%. Ao considerar o indicador OIC-Composto diário, a queda foi de 3,19% em relação à média do índice de março.

            No gráfico 1, é possível verificar o comportamento das cotações nos últimos 28 meses.

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005

Fonte: Gazeta Mercantil

            As instabilidades financeiras nos mercados internacionais e a persistente valorização do real em abril reduziram a oferta de café, pressionando para cima as cotações na BM&F. Isto reduziu o diferencial em relação às cotações da Bolsa de Nova Iorque para apenas US$ 13,06 a saca (60 kg), cerca de 24,3% inferior ao observado no mês de março.
            As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram alta instabilidade ao longo do mês, com média 4,85% menor do que a mesma cotação observada em março. Porém, tiveram grandes oscilações, com a forte queda na primeira quinzena, recuperando-se na quinzena seguinte, mas não sustentando a mesma média do mês anterior (gráfico 2).

Gráfico 2 - Cotações diárias em abril de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição

Fonte: Gazeta Mercantil

            Na BM&F, a evolução dos preços do café, cotados em dólar por saca, indica variação, para o arábica segunda posição, de 89,43% nos últimos doze meses. Somente em 2005 atingiu uma variação positiva de 25,85%. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 70,69% nos últimos doze meses e 22,12% apenas em 2005. Finalmente, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de 40,66%, nos últimos doze meses, e de 34,17% em 2005. A estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 66,98% em doze meses e de 27,19% no ano de 2005, fortemente influenciada pelos atuais preços praticados para o arábica.
            Mesmo com as perdas de pontos verificadas nas cotações do café arábica nos vários mercados, essas informações indicam que o produto se encontra em sustentado ciclo de alta. O gráfico 3 mostra que as cotações do arábica alcançaram nível superior ao verificado em 2000 e que o robusta se aproxima da cotação deste ano, o derradeiro ano do último ciclo de alta do produto.

Gráfico 3 - Cotações médias anuais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2000 a 2005

Fonte: IEA

            No nível do produtor paulista, as cotações médias mantiveram-se no patamar atingido em março. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para uma alta acumulada de 64,6% em doze meses e de 28,3% somente em 2005 (gráfico 4).

Gráfico 4 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002/05

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Ao analisar a evolução dos preços médios anuais reais recebidos pelos produtores de café no Estado, no período de 2000 a 2004 e em 2005 (janeiro a abril), utilizando-se como deflator o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) do IBGE1, verifica-se que as médias de 2005 se situaram, em valores reais, 18% acima das observadas em 2000. Isso indica que os cafeicultores paulistas estão recebendo mais pelo seu produto nos últimos seis anos, o que deve estimular a expansão de novos investimentos no setor (gráfico 5).

Gráfico 5 - Preços médios anuais (nominais e real) recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2000/05

Fonte: IEA

Exportações no primeiro trimestre

            O expressivo avanço nas cotações internacionais do café, especialmente o arábica, promoveu um estímulo adicional para que houvesse ampliação dos volumes destinados à exportação (gráfico 6). No primeiro trimestre de 2005, a quantidade média de café verde beneficiado apresentou incremento de 19% frente a igual período do ano anterior. O café solúvel cresceu 11% na quantidade méida exportada. Apenas o torrado e moído (T&M) não ampliou os embarques do volume médio, mantendo-se praticamente o mesmo patamar alcançado no trimestre anterior (tabela 1).

TABELA 1.- Comparação de médias dos volumes embarcados pelas exportações de café, primeiro trimestre de 2004 e 2005 (em sacas)

Trimestre
Café verde
Solúvel
T&M
Jan./mar. 2004
1.945.883
94.108
4.821
Jan./mar. 2005
2.311.850
104.228
4.792
Variação (%)
19
11
(1)
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

Gráfico 6.– Volume das exportações de café, jan.-mar. 2004 e 2005

Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            No primeiro trimestre de 2005, os valores recebidos pelas exportações de café são absolutamente mais elevados do que aqueles praticados no mesmo período do ano anterior (gráfico 6).
            Os embarques de café verde aumentaram em 67%, comparados com a média do trimestre anterior, atingindo a média de US$ 203 milhões frente aos US$ 121 milhões em média recebidos em 2004. Os demais produtos (solúvel e T&M) também exibem vigoroso crescimento no valor recebido médio (respectivamente de 28% e 27%), embora o T&M apresente valores pouco significativos para a dimensão do agronegócio café (tabela 2 e gráfico 7).

TABELA 2.- Comparação de médias dos valores recebidos das exportações de café, primeiro trimestre de 2004 e 2005  (em US$)

Trimestre
Café verde
Solúvel
T&M
Jan./mar. 2004
121.428.403
19.955.139
856.500
Jan./mar. 2005
203.014.109
25.641.196
1.089.066
Variação (%)
67
28
27
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

Gráfico 7. – Valor das exportações de café, jan.-mar. 2004 e 2005

Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            As estimativas indicam que em abril de 2005 as exportações tenham sido de 1,96 milhão de sacas de café verde, representando valor aproximado de US$ 232,14 milhões. Tal montante continua bastante acima daquele observado em abril de 2004, mantendo-se, portanto, a já comentada tendência para o trimestre.
            Esses melhores resultados, em termos de valores, refletem a elevação das cotações do produto, que apenas em 2005 alcançou cerca de 40%. Com a aproximação do inverno no hemisfério sul, fortalece-se a especulação em torno da possibilidade de danos para as lavouras brasileiras, constituindo-se um momento de alta volatilidade das cotações. Portanto, até o término da colheita no Brasil, não se prevê tendência de diminuição nos preços vigentes, sendo possível que as exportações de café verde alcancem US$ 2,5 bilhões em 2005.
            Esse aumento dos embarques brasileiros reflete-se no quadro das exportações globais contabilizado pela Organização Internacional do Café (OIC)2. Em março, por exemplo, foram exportadas 8,44 milhões de sacas (+2,5% frente ao mesmo mês de 2004). Nos últimos 12 meses (março), os embarques mundiais atingiram 90,07 milhões de sacas, ou seja, 4,9% a mais do que o mesmo volume transacionado no mesmo período do ano passado.

Previsão de safra e outras previsões

            Na última semana de abril, o mercado cafeeiro recebeu sem grandes surpresas os novos números sobre a safra brasileira divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)3, que apontam colheita de 32,457 milhões de sacas, das quais 23,261 milhões de sacas de café arábica e 9,196 milhões de sacas de robusta. Em termos globais, a quebra frente à safra anterior foi de cerca de 17%, mas foram observadas quebras da ordem de 45% nos estados de São Paulo e do Paraná (com 2,908 milhões e 1,425 milhão de sacas, respectivamente).
            A previsão para o Estado de São Paulo causa grande estranheza pois não foi observado qualquer distúrbio climático. Os preços agora remuneradores trouxeram os necessários tratos culturais às lavouras e se ampliou o número de cafeicultores que aderiram à irrigação do cafezal. Enfim, são informações que dão suporte à estimativa do IEA, de uma safra de 3,5 milhões de sacas, mais próxima da realidade do que as 2,9 previstas pela CONAB. Os próximos levantamentos do IEA poderão confirmar essa expectativa de colheita mais otimista.4
 

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1IBGE: http://www.ibge.gov.br

2 OIC: www.ico.com

3 CONAB: www.conab.gov.br

4Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-33/2005 
 

Data de Publicação: 12/05/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor