Modelo de Previsão do Índice de Preços da Cesta de Mercado da Cidade de São Paulo para 2005

            O sistema de metas de inflação (ou inflation targeting) foi introduzido em agosto de 1999, em substituição ao regime de âncora cambial que permitiu a estabilização dos preços entre 1995 e 1998. A partir de então, a política monetária deixou de ser passiva e resgatou seu efetivo papel como instrumento de controle da demanda agregada e, conseqüentemente, do nível de preços da economia.
            No sistema de metas de inflação, o governo, através do Conselho Monetário Nacional (CMN), estabelece, com antecedência de 18 meses, qual deve ser a taxa de inflação a ser perseguida pelo Banco Central (BACEN)1 para cada ano. A meta de inflação é estabelecida juntamente com um intervalo de permissão, que consiste em um limite inferior e um superior.
            O índice utilizado como parâmetro da inflação no Brasil é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é estimado e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2.
            Para 2005, a meta de inflação estipulada pelo Governo é de 5,1% com desvio de 2,5 pontos percentuais para cima (7,6 máximo) e para baixo (2,6 mínimo). A taxa acumulada do IPCA até maio de 2005 atingiu 3,18%, o que corresponde a 62,35% da meta de 5,1% prevista para esse ano nos cinco primeiros meses.
            Uma crítica freqüente às seguidas elevações da taxa de juros realizadas pelo Banco Central nos últimos meses diz respeito ao diagnóstico sobre as causas da inflação corrente. Os críticos argumentam que não há excesso de demanda, uma vez que a alta inflacionária estaria diretamente relacionada com as tarifas de serviços públicos, tais como energia elétrica, combustíveis e telecomunicações, que, em sua maioria, são regidas por contratos cuja base de reajuste é o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M). Este, por sua vez, é uma mistura de índices, onde 60,0% da sua formação reside nos Índices de Preços no Atacado (IPA); 30,0% com base no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e os restantes 10,0% baseiam-se na evolução do Índice Nacional da Construção Civil (INCC).
            Em função do expressivo peso do IPA sobre o IGP-M, variações nos preços de commodities e a própria variação cambial impactam significativamente o comportamento do IGP-M. Esse índice é o mais utilizado na celebração de contratos no Brasil.
            O Instituto de Economia Agrícola (IEA) elabora e divulga vários índices, entre os quais o Índice de Preços da Cesta de Mercado Total (IPCMT), que capta as variações de preços de alimentos na cidade de São Paulo.3 Em linhas gerais, esse índice de preços é composto por um mix de produtos de origem vegetal e animal. Assim, procura-se analisar o possível comportamento do IPCMT para o ano de 2005. Pretende-se utilizar o IPCMT como um instrumento auxiliar na avaliação prospectiva da trajetória de inflação, especificamente quanto ao grupo de alimentos do IPCA, de forma a obter mais evidência sobre a política monetária a ser perseguida pelo Banco Central.
            Foi elaborado um modelo de previsão para o IPCMT para o período de março a dezembro de 2005. Foram utilizados dados mensais do IPCMT levantados pelo IEA para o período de janeiro de 1995 a fevereiro de 2005. Portanto, o horizonte temporal de previsão consiste em dez períodos à frente a partir da última observação disponível, que se refere a fevereiro de 2005.4
            Com vistas a verificar o grau de precisão do modelo, também foi calculado o índice de desigualdade de Theil. De forma resumida, quanto mais próximo de zero o valor obtido para esse índice, mais precisas são as previsões. Nesse caso, o valor do índice de Theil foi igual a 0,0069, indicando o elevado grau de aderência do modelo; isto é, os valores previstos são muito próximos dos respectivos valores observados para o período de janeiro de 1995 a fevereiro de 2005.
            Para confirmar o grau de acurácia do modelo, a tabela 1 apresenta as diferenças entre os valores previstos e observados para 2004, bem como as proporções entre os valores previstos e observados para o mesmo período de análise. Observa-se que as diferenças ocorrem somente na terceira casa decimal. Já em relação à proporção entre os valores previstos e observados, os valores situam-se ao redor de 100. Isto mostra que os valores previstos praticamente coincidem com os respectivos valores observados. Portanto, os dois resultados mostram que o modelo de previsão está bem ajustado.

Tabela 1 - Valores observado e previsto, limites superior e inferior dos valores previstos, diferença entre os valores previsto e observado e relação valor previsto e valor observado do Índice de Preços da Cesta de Mercado Total da Cidade de São Paulo, Janeiro de 2004 a Dezembro de 2005
 
 

Mês/Ano
Valor Previsto(A)
Limite Inferior(B)
Limite Superior(C)
Diferença entre Valor Previsto e Observado
(A-D)
Valor Observado(D)
Relação Previsto/Observado
(A)/(D)
Jan.2004
207.123
201.091
213.288
-0.001304
206.83
100.14
Fev.
207.981
201.925
214.171
-0.013009
205.27
101.32
Mar.
205.85
199.855
211.976
-0.001831
205.45
100.19
Abr.
206.568
200.553
212.716
-0.001914
206.15
100.20
Maio
207.268
201.232
213.437
0.00017
207.28
99.99
Jun.
208.506
202.434
214.711
0.019607
212.61
98.07
Jul.
214.839
208.582
221.233
-0.000674
214.67
100.08
Ago.
215.897
209.61
222.322
0.001424
216.18
99.87
Set.
217.522
211.187
223.996
-0.012013
214.9
101.22
Out.
215.557
209.28
221.973
-0.00555
214.34
100.57
Nov.
215.32
209.049
221.728
-0.008047
213.57
100.82
Dez.
214.421
208.177
220.803
-0.008982
212.48
100.91
Jan.2005
213.28
207.069
219.628
 
213.78*
 
Fev.
215.158
208.893
221.562
 
214.72*
 
Mar.
210.195
190.328
231.556*
     
Abr.
204.061
182.559
227.382*
     
Maio
213.52
187.182
242.505*
     
Jun.
214.787
187.322
245.123*
     
Jul.
216.061
187.495
247.724*
     
Ago.
217.343
187.699
250.314*
     
Set.
218.632
187.931
252.893*
     
Out.
219.929
188.188
255.465*
     
Nov.
221.233
188.469
258.031*
     
Dez.
222.546
188.77
260.595*
     

* Valores utilizados para cálculo da variação percentual do IPCMT para 2005
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados básicos do IEA

            A figura 1 mostra a evolução dos valores observados e respectivos valores previstos do IPCMT de janeiro de 1995 a fevereiro de 2005. Também são apresentados os valores previstos do IPCMT, de março a dezembro de 2005. A partir da figura 1, é possível observar o elevado grau de precisão do modelo de previsão, não somente para 2004, conforme apresentado na tabela 1, como também para todo o período de análise, pois as diferenças entre os valores previstos e observados são extremamente pequenas ao longo de todo período de análise.

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados básicos do IEA

            Calculou-se a taxa de variação do IPCMT, tendo como base os valores observados desse índice para os meses de janeiro e fevereiro de 2005, em conjunto com os seus respectivos valores previstos para o período de março a dezembro de 2005. O resultado obtido indica que os preços de alimentos na cidade de São Paulo variarão 4,10% em 2005.
            Portanto, as variações nos preços de alimentos estarão contribuindo para um resultado inferior à meta de inflação deste ano, considerando a variação de 5,1% estabelecida pelo sistema de metas de inflação. É importante notar que o grupo de alimentos que compõe o IPCA é diferente da cesta que serve de base ao cálculo do IPCMT e, portanto, as grandezas não são diretamente comparáveis.
            Entretanto, propõe-se que o IPCMT possa sinalizar a tendência para o grupo de alimentos do IPCA. Essa possível antecipação é um ponto a ser estudado posteriormente.5
 

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1Banco Central: www.bcb.gov.br

2IBGE: www.ibge.gov.br

3 Este artigo, por meio do exercício de previsão nele contido, busca avaliar uma possível contribuição da cesta de mercado do Instituto de Economia Agrícola (IEA) numa visão prospectiva da tendência dos preços de alimentos, servindo como subsídio adicional para a avaliação da política monetária brasileira no regime de metas de inflação.

4 O método utilizado para a elaboração do modelo de previsão consistiu em um Modelo Auto-regressivo Integrado de Médias Móveis (ARIMA) conjugado com Análise de Intervenção.

5Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-55/2005

Data de Publicação: 05/07/2005

Autor(es): Mario Antonio Margarido (mamargarido@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Frederico Araújo Turolla (fredturolla@gvmail.br) Consulte outros textos deste autor