Mercado futuro de boi gordo no primeiro semestre de 2005

            Os negócios com boi gordo na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) cresceram 14,42% no primeiro semestre de 2005 em relação ao mesmo período do ano anterior, atingindo o total de 113.683 contratos (gráfico 1). Esse resultado indica tendência de crescimento no ano dos contratos do setor na BM&F.

Gráfico 1. Evolução anual dos contratos negociados de boi gordo na BM&F, 2000-05 (1)

(1)Cada contrato equivale a 330 arrobas
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf

            O total de negócios no primeiro semestre de 2005, na Bolsa, representou 2,27 milhões de cabeças prontas para o abate, o equivalente a 14% dos abates de machos no período ou 9% do volume de abate de bovinos no Brasil, no mesmo período. Essa pequena participação indica o potencial de crescimento deste mercado, como uma estratégia de administrar risco de preço pelo produtor (gráfico 2).

Gráfico 2. Evolução anual dos contratos negociados de boi gordo na BM&F em equivalente ao número de cabeças para o abate, 2000-05 (1)

(1) Cada contrato equivale a 330 arrobas
Fonte:
http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf

            A análise do número de contratos negociados mensalmente, nos últimos três anos, permite verificar, em 2005, um crescimento mais expressivo dos negócios realizados, com exceção do mês de maio, cujo volume de negócios se destacou em 2004 (gráfico 3).
 


Gráfico 3. Evolução mensal dos contratos negociados de boi gordo na BM&F, 2003-05 (1)

(1) Cada contrato equivale a 330 arrobas
Fonte:
http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf


            O aumento da oferta de animais para abate, associada à tendência de queda dos preços recebidos e também, das cotações para os meses de entressafra no ano de 2005, em pleno período de maio-junho, quando um maior número de produtores procura fechar preços para outubro-novembro, em função da programação de animais para confinamento, tem levado a uma estabilização no número de contratos negociados.
            O comportamento do mercado de boi gordo em 2005 na BM&F, para as cotações da segunda posição, mostra queda de 10,16% para o ano e de -12,51% no acumulado de 12 meses. Nos últimos sete meses, terminados em junho, essa queda foi de 14,27%, sinalizando excesso de oferta. Tal desempenho deriva-se das incertezas devido à saída do mercado de importantes frigoríficos, à seca que ocorreu no início do ano, afetando a produção pecuária de parte do Centro Oeste, do Sudeste e de toda a região Sul, e ao expressivo descarte de fêmeas para o abate.
            Isto obrigou os produtores a antecipar suas vendas e a descartar matrizes e novilhas, gerando uma oferta que não está sendo absorvida pelas exportações e por um fraco mercado de consumo interno. O resultado é a ocorrência de fortes quedas de preços aos produtores.
            Neste contexto, apenas os pecuaristas que fizeram hedge no final de 2004 estão conseguindo maior remuneração para o boi (gráfico 4). Assim, inúmeros produtores fixaram em novembro preço de R$ 65,00 a arroba, na BM&F, e receberam esse preço em abril, ao contrário dos demais que tiveram de se contentar, nas diferentes praças paulistas, com preços da ordem de R$ 52,00 a R$ 54,00/@.

Gráfico 4. Preços médios mensais recebidos pelos produtores de boi gordo no Estado de São Paulo, 2002-05

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Portanto, neste mercado baixista e incerto do boi gordo, apenas os pecuaristas que fizeram posições na BM&F, no final de 2004, estão conseguindo uma remuneração mais favorável para o seu produto.
            Além disso, o agravamento do ambiente de incerteza provocado pela desvalorização do dólar - a taxa de câmbio caiu 24,60% nos últimos doze meses, afetando a receita dos exportadores de carne bovina - favoreceu, por um lado, a necessidade de hedge da moeda americana por parte dos exportadores e, por outro, a entrada desses agentes na BM&F, em busca de garantia da matéria-prima por um dado preço de mercado.
            Ao analisar a distribuição dos contratos em aberto por tipo de participante, verifica-se que, na posição de comprado (COMPRA), se destacam os investidores pessoa jurídica não-financeira, caracterizados por frigoríficos e indústria de processamento de carnes, principalmente os exportadores, que procuram fixar antecipadamente o preço de referência para sua matéria prima, no caso o boi gordo e/ou seus produtos.
            Em janeiro de 2004, cerca de 80,12% dos contratos estavam concentrados nesses participantes, mas há uma tendência contínua de queda de participação, atingindo em junho de 2005 apenas 37,54%. Nesta mesma posição, cabe destacar a partir de julho a participação de pessoas físicas que atuam como comprados, constituindo-se em investidores cujo objetivo é obter maior retorno que o oferecido por outras aplicações financeiras (tabela 1).
            Quanto à posição de vendido (VENDA), o destaque é o de participantes pessoas físicas - os produtores de boi gordo, especialmente os confinadores e semi-confinadores - que, por conhecer com maior precisão os seus custos, procuram fixar um preço de venda quando iniciam o fechamento do gado nos meses de abril, maio e junho, o que garante uma margem de lucro prefixada, envolvendo pelo menos 50% dos animais em engorda. Assim, nesta categoria pessoa física, na posição de vendido, em geral concentram mais de 50% dos contratos em aberto, que apresentaram queda na participação no mês de abril de 2005. Porém, a partir de maio, verificou-se recuperação, com tendência crescente, para atingir em junho 63,75% dos contratos negociados.
            A segunda categoria que se destaca são as pessoas jurídicas não-financeiras, constituídas por frigoríficos e indústria de processamento. Atuam principalmente nas mudanças de posição, de acordo com o comportamento das cotações manifestadas no mercado futuro, com o objetivo de otimizar seus retornos, em função da evolução das cotações verificadas no mercado futuro do boi gordo (tabela 1).
            A solidificação e a ampliação da condição brasileira de liderança mundial no mercado de carne bovina, em termos de volume exportado - cujo crescimento foi de 31,63% no primeiro semestre de 2005, em relação ao mesmo período de 2004 -, correspondem à necessidade de esforço crescente no sentido de diferenciação visando incorporar maior valor agregado aos produtos e processos. A continuidade da expansão das exportações de carne bovina brasileira vai exigir a melhoria de eficiência e profissionalização, não apenas da indústria exportadora mas também de a toda cadeia de produção de carne bovina.

Tabela 1.- Distribuição dos Contratos de Boi Gordo em Aberto por Tipo de Participante, 2004-05 (1) (em percentagem)
 

Item
jan/04
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov 
Dez
jan/05
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
COMPRA
P. Jurídica Financeira
0,08
0,00
0,00
0,81
1,73
2,64
2,47
4,05
1,64
0,03
0,01
0,00
0,22
1,50
1,13
0,62
1,66
1,79
Invest. Institucionais
Invest. Instituc. Nacional
3,19
7,95
6,08
5,61
0,12
0,57
1,07
3,20
3,00
2,70
1,42
2,24
12,44
13,16
12,24
12,87
18,61
16,82
Invest. Instituc. Estrangeiro
0,70
2,57
2,22
1,64
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
4,75
4,88
4,48
4,64
6,41
6,04
Invest. Não Residente - Agro
0,21
0,15
0,18
0,00
0,00
1,86
0,00
0,34
8,36
5,86
6,45
12,51
5,94
4,27
1,97
2,65
1,47
1,05
P. Jurídica Não Financeira
80,12
74,62
73,05
61,19
69,51
73,04
58,36
55,34
55,21
57,77
60,22
34,83
34,84
51,58
55,43
48,41
31,43
37,54
Pessoa Física
15,70
14,71
18,47
30,75
28,64
21,89
38,10
37,07
31,79
33,64
31,90
50,42
41,81
24,61
24,75
30,81
40,42
36,76
Total (%)
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Total (n.º de contratos)
5.137
7.513
11.421
13.088
9.100
8.043
7.543
7.658
11.730
11.711
12.492
8.391
2.235
10.254
11.362
10.963
7.941
8.514
VENDA
P. Jurídica Financeira
0,00
0,13
0,09
0,08
1,38
2,83
4,30
3,43
2,34
0,50
0,15
0,18
0,72
0,04
0,80
0,30
0,42
0,05
Invest. Institucionais
Invest. Instituc. Nacional
4,93
5,63
3,67
5,24
3,25
3,43
4,19
6,23
5,03
3,27
2,46
2,50
3,28
2,10
2,56
1,59
1,36
2,45
Invest. Não Residente - Agro
1,73
1,32
0,08
2,13
10,74
2,18
0,00
0,09
7,85
8,90
7,55
12,53
2,12
4,26
2,00
2,23
1,45
0,87
P. Jurídica Não Financeira
30,76
24,12
28,10
24,77
34,90
29,80
25,63
33,18
32,96
34,80
38,38
28,13
44,06
38,88
31,01
61,54
33,64
32,88
Pessoa Física
62,58
68,80
68,06
67,78
49,73
61,76
65,88
57,07
51,82
52,53
51,46
56,66
49,82
54,72
63,63
34,34
63,13
63,75
Total (%)
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Total (n.º de contratos)
5.137
7.513
11.421
13.088
9.100
8.043
7.543
7.658
11.730
11.711
12.492
8.391
2.235
10.254
11.362
10.963
7.941
8.514
  • (1) Dados referentes ao último dia de pregão do mês
    Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf

                Nesse caso, os exportadores e os produtores mais tecnificados deverão utilizar, de forma crescente, as ferramentas financeiras do mercado futuro - como instrumento de proteção patrimonial e de suporte à procura de maior estabilidade de renda na atividade -, bem como as diferentes inovações tecnológicas na concretização de maior competitividade da carne bovina brasileira no mercado interno e internacional. Para os pecuaristas, o mercado futuro permite estabelecer o preço no seu produto e com isso ter o controle em todas as etapas da produção, o que aumenta a eficiência e a rentabilidade do seu negócio.1
     

    ________________________
     

    1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-62/2005.


      
      
     

  • Data de Publicação: 18/07/2005

    Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor