Café: transações no mercado futuro arrefecem no 1o semestre

            Dentro do conjunto das commodities transacionadas na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F)1, para o primeiro semestre de 2005, os contratos de café arábica representaram 49,6%, patamar aquém daquele já alcançado em 2003, de 66,4% (tabela 1).

Tabela 1 – Número de contratos de café arábica e total, 2000 a 2005

Ano
Café arábica
Incremento
(%)
Total de contratos
Incremento
(%)
Participação (%)
2000
339.691
-
668.181
-
50,8
2001
488.982
44,61
748.668
21,06
65,3
2002
483.524
-1,63
766.770
4,74
63,0
2003
517.110
10,03
778.466
3,06
66,4
2004
674.351
46,98
1.050.252
71,13
64,2
2005(1)
226.527
-28,81(2)
457.120
-5,60(2)
49,6(2)
(1) Referente ao primeiro semestre de 2005 e (2) Em relação ao primeiro semestre de 2004
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf

            Essa majoritária participação do arábica no número de contratos, no conjunto dos celebrados nas transações realizadas, demonstra que o produto já alcançou o ponto de maturidade em termos de grau de utilização (em futuros e em opções), ultrapassando o patamar do mero aprendizado. A atuação da cadeia produtiva do café no mercado de títulos financeiros, notadamente em futuros, representa aspecto relevante, pois permite aos cafeicultores e demais agentes da cadeia protegerem seu patrimônio, compartilhando parte dos riscos intrínsecos à atividade.
            No primeiro semestre de 2005, o mercado de café viveu dois momentos: o primeiro trimestre, com expressiva alta, foi seguido de perda no segundo trimestre do ano. Na BM&F, a cotação da segunda posição para o café arábica cresceu 16,34% no semestre, o que pode explicar a redução de 28,81% no número de contratos em relação ao mesmo período de 2004.
            Os produtores, que acreditavam em alta contínua no mercado do produto e deixaram de fixar seu preço até março, renunciaram à oportunidade de fechar posição no mercado futuro para entrega em julho, quando em geral estão realizando parte das vendas para dar suporte a colheita, com a conseqüente queda de preços. As cotações para julho de 2005 confirmaram essa inferência, passando a exibir declínio a partir de março desse ano (gráfico 1).

Gráfico 1 – Evolução das cotações médias mensais para julho, café arábica, junho 2004 a julho 2005

Fonte: Dados elaborados pelo IEA a partir de cotações diárias da BM&F

            Os contratos, enquanto cambiais, possuem um valor de face que pode igualmente ser acumulado ao longo do ano. Em 2004, por exemplo, o valor dos contratos de café arábica totalizou US$ 5,50 bilhões, ou seja, mais que três vezes o saldo dos embarques de café verde rumo ao exterior. A dimensão desse montante transacionado na BM&F revela o interesse por esses (e a liquidez desses) papéis.
            Caso todos os títulos fossem exercidos no mercado físico, seria preciso acumular o volume colhido em duas safras para saldar os compromissos acertados em 2004, quando cerca de 67,4 milhões de sacas foram negociadas. No primeiro semestre de 2005, em relação ao mesmo período do ano anterior, o volume negociado caiu 28,81%, enquanto o valor cresceu 28,76%, devido à favorável recuperação de preços do produto.
            Esse fenômeno representa maior liquidez para o ativo, neutralizando as entradas e as saídas de agentes que podem eventualmente amplificar a volatilidade das cotações (tabela 2).

Tabela 2 – Volume e valor dos contratos de café arábica, 2000 até primeiro semestre de 2005

Ano
Equivalente Produto (sc.60kg)
Valor (US$1.000)
2000
39.969.100
3.973.264
2001
48.898.200
2.925.862
2002
48.352.400
2.515.911
2003
51.711.000
3.235.004
2004
67.435.100
5.538.576
2005(1)
22.652.700
3.111.913
(1) referente ao primeiro semestre de 2005
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf

            Ao analisar o número de contratos negociados mensalmente, nos últimos quatro anos, verifica-se que, em 2005, se tem um crescimento expressivo dos negócios realizados em junho. Constata-se também que ocorreu menor volatilidade no número de contratos celebrados frente a igual período de anos anteriores, sugerindo relativo desinteresse na fixação de posição no futuro, enquanto a tendência de mercado era altista, o que redundaria em menor número de transações contabilizadas (gráfico 2).

Gráfico 2 - Número mensal de contratos de café arábica negociado na BM&F, 2002-05

Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf

            O perfil dos participantes do mercado de contratos de café arábica é formado por pessoas físicas e jurídicas, tanto nacionais como residentes no exterior. Dois terços dos comprados em junho de 2005 pertenciam à categoria de investidor não-residente-agro. As pessoas jurídicas não-financeiras, que representavam dois terços até dezembro de 2004, vêm perdendo posição relativa.
            No caso dos vendidos, as pessoas jurídicas não-financeiras, que concentravam mais de 50% dos negócios até dezembro de 2004, tiveram sua participação reduzida para 37% em junho de 2004, enquanto os investidores não residentes-agro aumentaram sua parcela. Ainda neste grupo de vendidos, aparecem os investidores institucionais nacionais, cuja participação em 2005 tem se mantido em torno de 30%. Esses investidores, normalmente, recorrem aos títulos financeiros como forma de se proteger contra riscos em relação a oscilações de preço em Nova Iorque.
            Tanto para compra quanto para venda, os investidores de perfil pessoa física apresentam baixa participação no contexto das transações. Já os investidores residentes no exterior praticamente não aparecem como compradores e mantêm-se abaixo de 1% do total para o caso de vendedores (tabela 3).

Tabela 3 - Distribuição dos Contratos de Café Arábica em Aberto por Tipo de Participante, 2004-05 (1)
(em percentagem)

Item
jan/04
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov 
Dez
jan/05
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
COMPRA
P. Jurídica Financeira
0,43
1,39
0,55
1,01
0,72
0,61
0,74
1,14
0,59
0,36
0,02
2,53
2,64
2,22
2,21
1,73
1,45
0,33
Invest. Institucionais
Invest. Instituc. Nacional
0,20
0,59
1,05
0,58
0,07
0,36
0,65
1,00
0,00
0,77
0,09
1,20
1,26
1,26
0,89
0,92
0,98
0,52
Invest. Instituc. Estrangeiro
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,11
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,10
0,00
0,00
Invest. Não Residente - Agro
29,54
25,59
18,83
16,05
14,50
11,23
12,14
13,75
24,99
19,48
31,98
30,12
35,91
37,54
45,94
46,98
58,03
62,66
P. Jurídica Não Financeira
67,16
68,80
70,85
71,12
82,84
79,67
73,57
69,21
68,40
65,75
64,05
60,00
52,87
55,24
45,08
44,48
33,46
27,94
Pessoa Física
2,67
3,63
8,72
11,24
1,87
8,13
12,90
14,90
6,02
13,53
3,86
6,15
7,32
3,74
5,88
6,09
6,08
8,55
Total (%)
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,30
100,00
100,00
Total (n.º de contratos)
24.288
20.894
20.562
20.676
19.618
19.428
22.412
21.644
19.070
22.212
20.836
20.935
21.990
21.741
21.788
22.599
20.894
21.147
VENDA
P. Jurídica Financeira
0,41
2,47
2,48
2,49
1,60
1,67
2,24
1,89
0,10
0,17
0,48
0,44
0,10
0,51
0,18
0,32
0,91
0,50
Invest. Institucionais
Invest. Instituc. Nacional
22,95
28,30
29,40
29,79
33,77
35,05
29,96
26,50
25,31
21,14
9,98
14,40
15,81
22,83
29,75
30,27
32,20
30,40
Invest. Instituc. Estrangeiro
0,00
0,00
0,34
0,33
0,37
0,68
0,44
0,42
0,83
1,01
0,48
0,28
0,40
0,47
0,91
0,88
1,66
1,92
Invest. Não Residente - Agro
6,12
4,87
7,27
10,72
7,41
17,97
19,85
21,31
16,46
22,91
10,11
17,34
20,72
16,77
18,05
19,21
22,53
26,83
P. Jurídica Não Financeira
61,69
58,73
58,25
54,76
47,07
41,99
45,27
48,10
52,36
52,70
66,39
61,10
57,00
50,57
46,08
45,49
39,24
36,71
Pessoa Física
8,83
5,63
2,26
1,91
9,78
2,64
2,24
1,78
4,94
2,07
12,56
6,44
5,97
8,85
5,03
3,83
3,46
3,36
Total (%)
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
Total (n.º de contratos)
24.288
20.894
20.562
20.676
19.618
19.428
22.412
21.644
19.070
22.212
20.836
20.935
21.990
21.741
21.788
22.599
20.894
21.147
(1) Dados referentes ao último dia de pregão do mês
Fonte:
http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf

            Essas informações indicam, no caso dos comprados, que existe grande importância dos investidores pessoas jurídicas não-financeiras. Eles constituem as torrefadoras de café torrado e moído e a indústria de solúvel, cujo objetivo é garantir um determinado preço para a sua matéria prima, o café verde.
            Nos últimos 12 meses, é crescente a participação dessa categoria, embora ela venha perdendo importância (68,40%) desde setembro de 2004, em relação aos investidores não-residentes-agro, que apresentam participação crescente, atingindo 45,94% em março de 2005 e voltando a crescer desde então para atingir 62,66% em junho.
            Quanto à posição vendida, as pessoas jurídicas não-financeiras são os investidores mais expressivos, representando, em junho de 2005, 36,71% do total de investidores. Estes representam as cooperativas cujo objetivo é garantir um determinado preço na venda de seu café verde. Logo em seguida, aparecem os investidores institucionais nacionais, com 30,40% no mesmo mês, que representam fundos que atuam no mercado com o objetivo de obter ganhos para os seus clientes.
            Alterações no perfil dos investidores são aguardadas, enquanto desdobramentos das ações implementadas pela BM&F. Uma delas, que consiste na atração de investidores tipo pessoa física tanto do país quanto do exterior, tem merecido significativos esforços dos gestores da bolsa. Espera-se que disso resulte maior expressão desse tipo de investidor.
            Da parte governamental, a possibilidade de oferta de contratos de opções pode continuar tendo importante efeito na atração de industriais da torrefação e da solubilização, que, inclusive, perderam participação no último semestre.2

______________________________
1 São elas: açúcar, álcool anidro, algodão, bezerro, boi gordo, café arábica, café conillon, milho e soja
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-65/2005

Data de Publicação: 22/07/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor