Commodities: baixa generalizada nos diferentes mercados; somente o açúcar se salva

            O mercado mundial de commodities apresentou baixa generalizada no mês de agosto. A melhoria das condições do clima nos Estados Unidos favoreceu o desempenho da safra de grãos e fibras, o menor consumo de café no hemisfério norte e a realização de lucro por parte dos fundos, após as altas observadas em julho. Nesse contexto, somente o açúcar se salvou, com alta expressiva, rompendo a barreira dos 10 centavos de dólar por libra peso na bolsa de Nova York, em função da sinalização de escassez do produto.
            Dessa forma, das nove commodities internacionais analisadas neste artigo, sete tiveram baixa de preço nos mercados de futuros. O açúcar foi o único produto beneficiado com alta, enquanto a borracha natural se manteve praticamente estável.
            O boi gordo, cotado em dólar ou real por arroba, continuou a apresentar queda na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A enorme oferta do produto, mesmo com o crescimento das exportações e do consumo interno, não tem conseguido enxugar o excedente do mercado.
            Já no acumulado de 2005, a evolução das cotações das commodities indica alta, com exceção do boi que apresenta queda, mesmo nas suas cotações convertidas em dólar. Porém, no acumulado de 12 meses, apenas o milho e o boi gordo cotado em real apresentaram queda nas cotações, enquanto as demais commodities tiveram crescimento.
            A tabela 1 apresenta os resultados da análise das cotações externas das principais commodities agrícolas, com base nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em agosto e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços médios mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, agosto de 2005 e acumulado em 12 meses
(em percentagem)

Commodities
Mercado
Agosto de 2005
Acumulado 
2005
Acumulado 
12 meses
Açúcar
NY
4,82
12,41
20,24
Algodão
NY
-4,75
14,59
4,38
Café arábica
NY
-0,72
2,52
35,92
Café robusta
Lo
-9,50
38,55
58,00
Suco Laranja CC
NY
-7,60
11,26
38,66
Soja grão
CHT
-8,43
17,40
7,80
Milho 
CHT
-7,14
9,31
-2,83
Trigo
CHT
-3,09
9,13
3,21
Borracha SM20
Malásia
0,17
20,82
22,50
Boi
BM&F
-2,39
-2,31
4,07
Boi – em reais
BM&F
-1,23
-13,84
-16,81
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            A ocorrência de clima favorável ao desenvolvimento das culturas de grãos e algodão nos Estados Unidos contribuiu para melhorar a proporção de áreas com bom desempenho e as perspectivas de se obter produções acima das previsões do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês)1. Nessas condições, verificou-se tendência de queda nas cotações médias desses produtos no mês de agosto.
            O preço médio da soja, no mercado de Chicago, caiu 8,43% em relação à média de julho. Com o bom desenvolvimento da granação da cultura, associada à baixa incidência da ferrugem da soja, melhorou a expectativa de se atingir uma produção superior às 76 milhões de toneladas divulgadas pelo USDA em meados do mês.
            No caso do milho, o comportamento em Chicago foi mais ou menos o mesmo da soja, mas com queda de 7,14% em relação à média de julho. Já a cotação média do trigo não encontrou sustentação por conta da colheita no Hemisfério Norte. Assim, os preços médios dos contratos de segunda posição caíram 3,09%.
            Para o algodão, mesmo com as expressivas exportações norte-americanas, observaram-se fortes especulações por parte dos fundos de investimento, o que derrubou as cotações do produto em 4,75% no mercado de Nova York (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 

            Ainda no caso das commodities negociadas na bolsa de Nova York, têm-se o café arábica, o suco de laranja e o açúcar. No caso do suco de laranja, a expectativa de recuperação da produção na nova safra da citricultura da Flórida reduziu a cotação média do produto em 7,60%, em relação à média de julho. A alta acumulada foi de 38,86% em 12 meses e de 11,26% em 2005.
            Para o café arábica, a redução foi de 0,72% em relação à média de julho, com cotações muito voláteis ao longo de agosto. Como ainda reflete o verão no Hemisfério Norte, que apresenta níveis menores de consumo e menor demanda do produto, o mês de agosto terminou por retirar a sustentação dos preços. A tendência de queda nas cotações médias do produto, a partir de abril, praticamente levou os preços médios mensais de agosto aos níveis observados em janeiro de 2005.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            O açúcar foi a única commodity cujo preço médio apresentou crescimento, de 4,82% em relação ao valor médio de julho. Inclusive, neste mês superou a marca de 10 centavos de dólar por libra-peso, a maior cotação nos últimos quatro anos, em virtude do quadro de déficit mundial da oferta do produto. Assim, com a alta de agosto, o preço médio do açúcar teve crescimento de 12,41% no ano e de 20,24% nos últimos 12 meses.
            O café robusta na Bolsa de Londres voltou apresentar queda de 9,50% na cotação média em relação a julho, mantendo forte tendência de baixa iniciada naquele mês, em função de maior oferta deste tipo de café por parte dos países asiáticos. Mas o crescimento observado nas cotações médias do produto de novembro de 2004 a junho de 2005 resultou na elevada alta de 58% nos últimos 12 meses e de 38,55% no ano de 2005 (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A cotação média da borracha natural praticamente se manteve estável, pois cresceu apenas 0,17% em relação à média de julho. Essa relativa estabilidade, associada à valorização do real ocorrida em agosto, vai contribuir para um menor aumento no preço recebido pelos heveicultores paulistas no mês de setembro. Ocorre que a cotação da borracha importada, que constitui cerca de dois terços do consumo nacional do produto, participa na formação dos preços recebidos pelos produtores de borracha natural no Estado de São Paulo, onde se produz 50% da produção brasileira.

            O mercado de futuros do boi gordo na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) continuou em baixa em agosto, mesmo com o aumento das exportações e do consumo interno. Isto por causa do enorme excedente gerado no mercado devido à maior oferta de boi gordo e, principalmente, do elevado abate de matrizes e novilhas.
            Assim, a queda na cotação média foi de 2,39%, segunda posição, em dólar, em relação à média de julho. Mas em reais a queda na cotação média em agosto, de acordo com a BM&F, foi menor (1,23%). No acumulado de 12 meses, houve alta de 4,07% nas cotações em dólar e queda de 16,81% em reais, mostrando o efeito da desvalorização da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo.
            O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:

            A análise apresentada indica que o comportamento dos mercados de futuros internacionais e nacionais no mês de agosto foi totalmente desfavorável ao agronegócio brasileiro, com exceção do açúcar. Como se sabe, este é o momento em que os agricultores estão tomando decisões sobre o que e o quanto plantar e sobre que tecnologia utilizar no plantio da safra de grãos de verão do ano agrícola 2005/06.
            Para os produtos cujos preços são dependentes do mercado internacional, como soja, algodão e trigo, as perspectivas da boa safra norte-americana terão efeitos desfavoráveis nas decisões dos produtores. Para os produtos cujos preços são formados por varáveis que operam no mercado interno, como milho, arroz e feijão, a tendência manifestada nos últimos meses nos mercados desses produtos indica condições mais favoráveis ao milho e ao feijão, que vão interferir nas decisões da área a ser plantada.
            Além disso, uma série de decisões de política agrícola - como o atraso nas renegociações das dívidas da safra anterior, as liberações do uso de variedades transgênicas de soja, milho e algodão, a falta generalizada de crédito a taxas fixas de juros, que tende a aumentar os custos financeiros dos produtores, e a tendência dos mercados de commodities - deverá contribuir de forma decisiva para a definição da área total a ser plantada na safra de 2005/06, bem como para o volume de produção de grãos e fibras a ser obtido pelo país nesse ano agrícola.
            Informações preliminares obtidas sobre as intenções de plantio nos principais estados produtores de grãos e fibras do Centro-Sul do Brasil indicam uma tendência de redução da área cultivada em torno de 5% para o ano agrícola 2005/06, com perspectivas de expansão das áreas de milho e feijão e de redução das áreas de arroz, algodão e soja.
            Caso essa tendência se confirme, a produção brasileira no próximo ano agrícola poderá ser superior aos 113,50 milhões de toneladas da safra passada, com a recuperação da produtividade das regiões Sul e Sudeste que foram fortemente afetadas pela estiagem que se abateu na principal fase de desenvolvimento dos grãos, no período de dezembro de 2004 a março de 2005. Porém, estará longe da tão sonhada produção de 140 milhões de toneladas projetada pelas autoridades do Governo Federal.2

__________________________
1 USDA: www.usda.gov
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-80 /2005

Data de Publicação: 09/09/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor