Álcool: projeção da produção e exportação no período 2005/06 a 2015/16

            O segmento sucroalcooleiro tem demonstrado dinamismo considerável e participa com parcela relevante da atividade agrícola paulista e brasileira.1 Na safra 2004/05, o Brasil colheu 378,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, com uma área plantada de 5,4 milhões de hectares. Produziu 26,2 milhões de toneladas de açúcar e 15,2 bilhões de litros de álcool, dos quais grande parte foi para o mercado interno (12,8 bilhões de litros)2.
            As exportações de álcool em 2004 foram de 2,4 bilhões de litros e renderam US$ 465,3 milhões, representando apenas 1,5% no total do saldo da balança comercial. Até o final do corrente ano espera-se produção de 16 bilhões de litros de álcool, dos quais 13,5 bilhões de litros para o mercado interno e 2,5 bilhões para exportação.
            O mercado interno do álcool vem ganhando destaque no segmento agroindustrial brasileiro, proporcionado pela retomada do aumento do consumo doméstico em conseqüência do preço competitivo do combustível em relação à gasolina. Por outro lado, há um potencial de crescimento nas vendas externas do álcool, que possivelmente será utilizado para atender parte da demanda mundial por etanol.
            O álcool está em expansão por ser um combustível ainda barato, renovável e cujo emprego como alternativa para a matriz energética mundial está em fase de crescimento. A tendência de aumento da produção de álcool no Brasil ocorre por vários fatores, como aumento da frota de carros bi-combustível (demanda interna), Protocolo de Quioto (demanda externa) e aumento do preço do petróleo, entre outras coisas.
            Uma questão relevante na expansão da utilização do álcool como alternativa de substituição da matriz energética predominantemente fóssil é a possível mudança da atual configuração de produção de petróleo concentrada em poucas regiões, basicamente o Oriente Médio. Além disso, deve se avançar para uma forma desconcentrada, que abrangerá outras áreas de possíveis produtores do combustível verde. Isto constitui uma oportunidade para os países que possuem abundância de terras, sol e água, que é o caso de alguns países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
            Para isso, é necessário disseminar a tecnologia de produção, de forma que mais países produzam álcool a partir da cana-de-açúcar ou de outras fontes renováveis, como a hidrólise da celulose. Dessa forma, diminuem-se os riscos de crises de oferta e abre-se caminho para tornar o produto uma commodity convencional. Assim, os consumidores passam a ter um pouco mais de segurança quanto a disponibilidade do produto.
            Conhecer a trajetória provável dos desdobramentos do agromercado do álcool brasileiro mostra-se estratégico e constitui objeto deste trabalho.3 A projeção da produção e da exportação de álcool foi realizado pelo método subjetivo-empírico, por meio de entrevistas com pessoas ligadas ao segmento e levantamentos de dados nas usinas com os quais foi possível calcular e fazer as projeções. Para a produção, foram utilizadas as seguintes variáveis: mix de utilização, preço do álcool e do açúcar, produtividade por hectare da cana-de-açúcar e do álcool, demandas interna e externa.
            Estima-se, pelo método utilizado, que em 2010 o Brasil produza cerca de 26 bilhões de litros de álcool e exporte algo como 5 bilhões de litros. Apesar do protecionismo em alguns países ao programa de bio-etanol, com a manutenção do mix 52:484 em prol do álcool, o Brasil teria capacidade de produzir cerca de 27,3 bilhões de litros/ano. Seguindo o mesmo raciocínio, em 2015, a projeção é que a produção brasileira seja de 36 bilhões de litros5, dos quais 28 bilhões de litros para o mercado interno e cerca de 8 bilhões de litros para exportação.
            O gráfico 1 mostra a tendência de crescimento da produção brasileira de álcool a uma taxa anual média de 7,4%.

Gráfico 1 - Projeção de produção de álcool no Brasil entre as safras 2005/06 e 2015/166

Fonte: IEA

            Na projeção das exportações brasileiras de álcool, foram utilizadas as seguintes variáveis: adição de álcool à gasolina por parte de outros países, mudança na matriz energética fóssil internacional, preço do açúcar e do álcool nos mercados interno e externo, suprimento da demanda nacional de álcool, melhoria na infra-estrutura de escoamento7, câmbio e barreiras técnica, entre outras.
            Esta demanda externa crescente verificada em 2004 - que aumentou 218,2%, para 2,390 bilhões de litros, em comparação com os 751 milhões de litros do ano anterior8 - já é percebida com a adoção de percentuais de adição de álcool à gasolina por parte de alguns países, devido a vários fatores dentre os quais a provável escassez de petróleo no mundo e as questões ambientais. Alguns países, como Canadá, Peru, Colômbia, Paraguai e Venezuela, já adicionam o álcool à gasolina na proporção de 10%, enquanto outros países adotam percentuais menores, como EUA (5,6% no estado da Califórnia e 10% no estado de Minnesota), Japão (3%), Índia (5%) e países membros da União Européia9 (até 5% a partir de 2006) 10.
            A projeção no gráfico 2 mostra uma exportação crescente à taxa média anual de 11,5%, com elevação superior a partir da safra 2009/10, de 31,5 % ao ano, em relação à safra anterior. Isto se deve ao início previsto de funcionamento do 'alcoolduto', anunciado pela Petrobrás por meio de sua subsidiária Transpetro11, o que facilitará o escoamento da produção para exportação.

Gráfico:2 Projeção de exportação de álcool brasileiro entre a safra 2005/06 e 2015/16

Fonte: IEA

            O Brasil têm papel preponderante no suprimento da demanda internacional, como maior produtor e exportador de álcool do mundo. Portanto, é preciso que os entraves12 sejam minimizados no Brasil, bem como seja consolidado um mercado mundial de álcool carburante, para suprir essa demanda e para que as exportações de álcool se mantenham em ritmo crescente e constante.13

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1 MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO E INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. SECEX. Balança Comercial Brasileira. Rio de Janeiro, 1996-2004. disponível em http://aliceweb.mdic.gov.br Acessado em julho de 2005.
2 VICENTE, J.R. et al. Balança Comercial do Agronegócio Paulista em 2004. Disponível em http://www.iea.sp.gov.br/out/icomex.htm. Acessado em Novembro de 2005.
3 O estudo com os detalhes e aprofundamentos serão demonstrado no prognóstico que será lançado ainda este ano pelo IEA.
4 Significa que 52% da produção de cana-de-açúcar serão destinados à produção de álcool e os outros 48%, para a produção de açúcar.
5 Considerando uma produtividade de 85 toneladas e 6.600 litros de álcool por hectare e um aumento de 6,45% na área plantada.
6 Considerando uma média de 18% da produção total de álcool direcionado para a exportação e o restante para o mercado interno.
7 TORQUATO, S. Alves. Avanços e Entraves na Logística de Exportação do Álcool. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=2855. Acesso em Outubro de 2005.
8 Idem nota 7
9 Refere-se ao bloco econômico, político e social de 15 países europeus composto por: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Reino Unido, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal e Suécia.
10 REVISTA IDEA News. O Álcool que o mundo quer. Ano 5 – Nº 58 – Agosto de 2005.
11 Divulgado na XIII Fenasucro e III Agrocana, por meio de material de divulgação.
12 Idem nota 7
13 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-110/2005.

Data de Publicação: 23/11/2005

Autor(es): Sérgio Alves Torquato (storquato@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor