Artigos
Rio Grande do Sul Recebe Mais Uma Indicação Geográfica para Espumantes e Vinhos: Indicação de Procedência Pinto Bandeira
                                 O 
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão federal que segundo a 
Lei n. 9.279/962 é responsável por este instrumento de diferenciação, 
concedeu em 13 de julho de 2010 mais uma Indicação Geográfica (IG) para vinhos 
tintos, brancos e espumantes no País para Pinto Bandeira, na modalidade 
Indicação de Procedência (IP)3. 
             No 
que se refere às IGs, a União Europeia tem 1.927 vinhos registrados, sendo 1.134 
Denominações de Origem Protegida (DOPs) e 587 Indicações Geográficas Protegidas 
(IGPs). Além destes, foram também concedidos registros para 324 bebidas 
alcoólicas, todas na modalidade IGP, e para outros 905 produtos agrícolas e 
gêneros alimentícios, dos quais 487 são DOPs e 418 IGPs4. Como ainda 
não há nenhuma Denominação de Origem (DO), Pinto Bandeira é a sétima IP 
brasileira, a terceira do Rio Grande do Sul e a segunda para vinhos finos 
tintos, brancos e espumantes neste Estado e no País. 
             A 
nova IP foi concedida para a Associação dos Produtores de Vinho de Pinto 
Bandeira (ASPROVINHO), que desenvolvia ações para sua obtenção desde 2003, 
quando constituiu uma comissão técnica junto com parceiros como a Empresa 
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Uva e Vinho e a Universidade de 
Caxias do Sul, e mais tarde a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a 
EMBRAPA Clima Temperado e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O 
antigo distrito de Bento Gonçalves já tinha se emancipado entre 2001 e 2003, 
quando retornou a sua condição anterior. Porém, a localidade voltou a ser 
município também em julho deste ano5. A região é conhecida pela alta 
qualidade de seus vinhos de montanha. 
             Pela 
ordem cronológica, a primeira concessão de uma IP pelo INPI foi feita para a 
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (APROVALE), para 
os vinhos tintos, brancos e espumantes em 2002. A segunda foi obtida pelo 
Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (CACCER) em 2005, com o 
reconhecimento oficial da qualidade dos grãos produzidos na região do cerrado 
mineiro. A terceira IP foi concedida em 2006 para a Associação dos Produtores de 
Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (APROPAMPA), com o reconhecimento 
formal da carne bovina e seus derivados oriundos desta região. 
             No 
ano seguinte, foi concedida a quarta IP brasileira para a Associação dos 
Produtores e Amigos da Cachaça Artesanal de Paraty (APACAP), para a aguardente 
tipo cachaça e a aguardente composta azulada produzida por seus associados. Em 
2009 o INPI concedeu, respectivamente, a quinta e a sexta IPs do país, quando 
foram oficialmente reconhecidos o Couro Acabado do Vale do Sinos, por intermédio 
da Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul (AICSul), e as 
Uvas de Mesa e Mangas do Vale do Submédio São Francisco, por meio da União das 
Associações e Cooperativas de Produtores de Uvas de Mesa e Mangas do Vale do 
Submédio São Francisco (UNIVALE). 
             A 
ASPROVINHO foi criada em 2001, por cinco vinícolas e cooperativas de pequeno, 
médio e grande porte: Don Giovanni, Amadeu, Valmarino, Pompéia e Aurora. Conta 
ainda com mais três produtores associados: Vinícola Dalla Costa, Vinhos Bigolin 
e Vinícola Terraças. A Associação visa proteger a cultura da localidade e seus 
vinicultores, assim como preservar a qualidade e afirmar a identidade dos vinhos 
e espumantes ali produzidos. Além disso, tem, entre seus objetivos, implementar 
ações para organizar e preservar o espaço físico da região, explorando e 
divulgando seu potencial turístico e estabelecendo os critérios e normas para o 
uso da IG dos vinhos da região de Pinto Bandeira. Com isso, seus associados 
atuam para promover estratégias de agregação de valor e criação e valorização de 
marcas coletivas locais6. 
             A 
produção de vinho em Pinto Bandeira remonta ao final do século XIX, como parte 
da cultura dos imigrantes italianos que ali chegaram por volta de 1876. A 
região, situada no alto do planalto basáltico da encosta superior do nordeste do 
Rio Grande do Sul, apresenta topografia e relevo acidentados. A maior parte da 
viticultura, situada acima de 500 m sobre o nível do mar, está a cargo de 
produtores familiares, em pequenas propriedades. Nos topos de morros e meias 
encostas, sobretudo as com melhor exposição ao sol, são cultivados cerca de 
1.200 ha de videiras. Deste total, 450 ha são destinados à produção de 
variedades viníferas, cujo cultivo se intensificou, sobretudo a partir de 
19307. 
             A 
ASPROVINHO destaca a produção de espumantes de seus associados, que já recebeu 
diversos prêmios internacionais. São elaborados predominantemente pelo método 
tradicional, na própria garrafa, a partir de um vinho base de composição 
excelente, proveniente de cultivares chardonnay e riesling itálico. Os tipos 
brut têm aroma fino, cítrico, com nuances de fermento e tostado. O sabor mostra 
conteúdo alcoólico moderado, equilibrado por uma acidez refrescante, enquanto o 
paladar é delicado, nítido e com persistência média. O espumante Moscatel também 
é produzido, com destaque para as notas de ervas-de-quintal (alecrim, manjericão 
e sálvia), pêssego, mel, flores brancas, abacaxi e frutas cítricas, com doçura 
agradável, e que é balanceada pela acidez refrescante8. 
             Para 
elaboração de vinhos finos tintos as uvas mais produzidas são cabernet 
sauvignon, merlot e cabernet franc, seguidas das tannat. Suas principais 
características são a coloração com tonalidade rubi e eventualmente violácea, os 
aromas de frutas vermelhas escuras (framboesa e amora), com leve toque de 
vegetal (sutil pimentão verde), corpo mediano, com taninos leves e acidez média 
a alta. Isso faz com que os vinhos de Pinto Bandeira mantenham a vivacidade da 
cor durante seu envelhecimento9. 
             
Quanto aos vinhos finos brancos, predominam as uvas chardonnay e riesling 
itálico. O chardonnay tem coloração amarelo-palha, cujo aroma remete a nuances 
de abacaxi, maçã verde, frutas cítricas e, eventualmente, manteiga, tostado e 
levedura. Apresenta sabor refrescante, de intensidade média, que se torna mais 
persistente no caso de contato com tonéis de carvalho. O riesling itálico, por 
sua vez, tem aroma bastante fino, de menor intensidade, com predomínio de notas 
de frutas cítricas e flores brancas, com paladar delicado, fresco, com sabor 
nítido de persistência média a curta10. 
             Onze 
dos 48 pedidos de registro e registros concedidos de IGs pelo INPI não são de 
origem agroindustrial, e envolvem uma ampla gama de produtos como facas e 
tesouras, equipamentos eletrônicos, águas minerais e serviços a elas associados 
(como o artesanato e o turismo), panelas de barro e pedras como gnaisses e 
mármores. Do número total, 22 são pedidos de DOs e 26 de IPs, sendo que 16 são 
de produtos estrangeiros que pedem equivalência de reconhecimento no país, como 
são os casos do presunto de parma, conhaque, proseccos e vinhos de várias 
nacionalidades, além da tequila mexicana11. 
             Entre 
os 32 pedidos de registro e registros brasileiros para produtos agropecuários, 
além dos 7 já concedidos, observam-se novas regiões que pleiteiam o 
reconhecimento de cafés, aguardentes, doces e confeitaria de frutas, queijos, 
arroz, têxteis de algodão naturalmente colorido, artesanatos, camarão e cacau em 
amêndoas12. 
             O elo 
comum entre todas estas propostas é a ativação de recursos específicos, que 
traduzem projetos de formação territorial, que podem ser consolidados e 
valorizados com a concessão de IGs, sejam elas DOs ou IPs. A nova IP concedida 
para Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul, vem reforçar, juntamente com o Vale 
dos Vinhedos, o reconhecimento oficial da vocação e aptidão desta região da 
Serra Gaúcha para a produção de vinhos finos e espumantes com um padrão superior 
de qualidade.  2 A Lei de Propriedade Industrial 
9.279, de 14 de maio de 1996, estabelece no Brasil duas modalidades de 
Indicações Geográficas: a IP - Indicação de Procedência e a DO - Denominação de 
Origem. As IPs consideram o nome geográfico de um país, cidade da região ou da 
localidade do seu território, que tenha se tornado reconhecido como centro de 
extração, produção ou fabricação de determinado produto ou prestação de serviço. 
Nas DOs, o nome geográfico designa produto ou serviço que tenham qualidades ou 
características que se devem exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, 
incluídos aí fatores como os naturais e os humanos. 
 3INSTITUTO NACIONAL DE 
PROPRIEDADE INDUSTRIAL - INPI. O Brasil ganha mais uma indicação geográfica 
para vinhos. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: 
<http://www.inpi.gov.br/noticias/brasil-ganha-mais-uma-indicacao-geografica-para-vinhos>. 
Acesso em: 22 jul. 2010. 
 4VICENTE, N. Sistema de 
protecção de indicações geográficas na União Européia. Seminário 
Internacional sobre Marcas de Qualidade, 19-21 de maio de 2010. Notas da 
palestra. Mimeografado. 
 5DE TONI, N. Pinto Bandeira 
perdeu R$ 38,7 milhões enquanto era distrito de Bento Gonçalves. Pioneiro, 
Caxias do Sul, 16 jul. 2010. Disponível em: 
<http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/plantao/10,2973999, 
Pinto-Bandeira-perdeu-R-38-7-milhoes-enquanto-era-distrito-de-Bento-Goncalves.html>. 
Acesso em: 23 jul. 2010. 
 6ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE 
VINHO DE PINTO BANDEIRA - ASPROVINHO. Valorização dos vinhos de montanha. 
Disponível em: <http://www.asprovinho.com.br/asprovinho.asp>. Acesso em: 
22 jul. 2010. 
 7TONIETTO, J. Pinto Bandeira 
no caminho da indicação geográfica de vinhos. Bento Gonçalves, RS: Embrapa 
Uva e Vinho, 2007. Disponível em: http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/artigos/pinto_bandeira_ 
ig.pdf . Acesso em: 20 jul. 2010. 
 8ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE 
VINHO DE PINTO BANDEIRA - ASPROVINHO. Vinhos e espumantes de montanha: 
personalidade própria. Disponível em: <http://www.asprovinho.com.br/ 
asp_vinhosdemontanha. asp>. Acesso em: 22 jul. 2010. 
 9Op. cit., nota 8. 
 10Op. cit., nota 8. 
 11INSTITUTO NACIONAL DE 
PROPRIEDADE INDUSTRIAL - INPI. Pedidos e registros de IG. Disponível em: 
<http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/indicacao/pedidos-de-ig>. Acesso em: 
27 jul. 2010. 
 12Op. cit., nota 
11.  Palavras-chave: indicação geográfica, 
indicação de procedência, vinhos, Brasil.   
___________________________________________________________________________________________________________ 
1Artigo elaborado como parte do 
Projeto CAPES/COFECUB 624/09. 
  
  
Data de Publicação: 10/08/2010
Autor(es): Maria Celia Martins De Souza (mcmsouza@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
 
                    







 
                    
                        
