Preços Agropecuários encerram o mês de dezembro em alta de 0,73% fechando ano de 2010 em patamares muito superiores

 
            O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1,2 encerrou o mês de Dezembro de 2010 com variação positiva de 0,73%. O IqPR-V (produtos de origem vegetal) e o IqPR-A (produtos de origem animal) registraram altas de 0,98% e 0,11%, respectivamente (Tabela 1).
 

            Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, devido a sua importância na ponderação dos produtos, tanto o IqPR e o IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) sofrem fortes reduções e terminam dezembro/10 com variações negativas de 0,31% e 0,71% (Tabela 1).

Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Dezembro de 2010 e Acumulado nos Últimos 12 Meses.


 

Índice Acumulado
São Paulo
São Paulo - sem cana
Variação 

Dezembro/10

Acumulada 

12 meses

Variação 

Dezembro/10

Acumulada 

12 meses

IqPR
0,73 % 
36,40 %
- 0,31 %
52,25 %
IqPR-V
0,98 % 
37,46 %
- 0,71 %
70,85 %
IqPR-A
0,11 %
32,02 %
?
?

 

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

 

            Os produtos do IqPR que registraram maiores altas no mês de Dezembro, em comparação com o mês anterior foram: tomate (18,27%), carne de frango (13,22%), milho (9,83%), café (8,64%) e ovos (5,44%) (Tabela 2).
 

           No caso do tomate, numa situação de demanda aquecida e safra menor, as chuvas recentes geraram perdas de colheita com impacto conjuntural no abastecimento do produto, elevando seus preços. Verifique-se que se trata de período de recuperação face a preços anteriores muito baixos.


 

            Quanto à carne de frango , mesmo com o aumento de sua produção no comparativo com 2009, o reajuste no volume exportado reduziu a oferta do produto no mercado interno, em um momento que se apresenta aumento de sua demanda enquanto produto substituto às outras carnes (bovina e suína), devido ao seu preço mais atrativo. A subida no valor dos principais itens que compõem os custos de produção da avicultura de corte (milho) reforça o repasse para cima no preço da carne de frango.
 

 

            O preço do milho vem aumentando em decorrência de pressões do mercado internacional, face aos baixos estoques de passagens mundiais. Além disso, a perspectiva de que a oferta somente esteja normalizada no final do primeiro trimestre de 2011 leva a formação de expectativas altistas, precificando a possibilidade de maior escassez.
 

            No caso do café, os preços desta commodity se elevam devido às pressões da demanda internacional e doméstica e aos menores estoques. Ademais, a redução em especial da safra colombiana abre espaço para vendas de café brasileiro de qualidade superior, elevando os preços médios no mercado interno de arábica, como o café paulista.
 

            Para os ovos, ocorre reposição dos valores pagos em parte também explicado pelo maior preço da carne bovina, além da pressão da demanda decorrente do aumento da massa salarial frente à queda do desemprego e aumento da renda média. Isso vem aumentando a demanda de produtos da panificação, confeitaria e massas alimentares (macarrão) que demandam ovos.
 

            Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços em Dezembro foram: feijão (45,26%), batata (44,52%), carne bovina (5,58%) e carne suína (5,53%) (Tabela 2).
 

            Quanto aos preços do feijão, a concentração da colheita em função de que o atraso do plantio pela seca levou a que muitos semeassem ao mesmo tempo, produziu a entrada de volumes expressivos das colheitas da safra das águas, num mesmo momento conjuntural. Com isso os preços despencarem na principal região produtora paulista, os quais atuais já estão abaixo dos custos de produção, provocando prejuízo aos produtores.
 

            O caso da batata o processo se mostra similar onde a considerável quantidade ofertada no período, levou a expressivas reduções conjunturais dos preços recebidos. De qualquer maneira essa queda expressiva ao eliminar a rentabilidade desse produto perecível prenuncia novo ciclo de alta nos meses seguintes.
 

            Para a carne bovina, os preços mais elevados dos últimos anos levaram a atitude parcimoniosa nas compras dos frigoríficos, levando a queda de preços em plena safra, uma vez que as pastagens favorecidas pela estação sustentaram a engorda das boiadas. Isso impactou na mesma dimensão a carne suína, substituto direto no mercado de consumo de carnes vermelhas.
 

 

            Em dezembro de 2010, 10 produtos apresentaram alta de preços (8 de origem vegetal e 2 de animal) e 9 apresentaram queda (5 de origem vegetal e 4 de origem animal).
 
 

 

    Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Dezembro de 2010.

 

 

Origem
Produto
Unidade
Cotações (R$)
Variação mensal (%)
Variação Dez/10-Dez/09 (%)
Novembro

/10

Dezembro /10
VEGETAL
Algodão
15 kg
...
...
...
...
Amendoim
sc.25 kg
33,34
33,44
0,29
49,29
Arroz
sc.60 kg
33,92
34,38
1,37
-3,52
Banana nanica
cx.21 kg
12,99
12,22
-5,90
71,51
Batata
sc.60 kg
37,58
20,85
-44,52
-42,17
Café
sc.60 kg
334,58
363,49
8,64
38,29
Cana-de-açúcar 
t de ATR
359,70
367,70
2,22
15,61
Feijão
sc.60 kg
124,90
68,36
-45,26
37,33
Laranja p/ Indústria
cx.40,8 kg
14,23
14,63
2,85
104,44
Laranja p/ Mesa 
cx.40,8 kg
20,25
20,23
-0,12
140,18
Milho
sc.60 kg
22,07
24,24
9,83
46,28
Soja
sc.60 kg
43,83
45,63
4,12
6,70
Tomate p/ Mesa
cx.22 kg
13,08
15,47
18,27
-40,71
Trigo
sc.60 kg
27,65
26,83
-2,96
7,33
ANIMAL
Carne Bovina
15 kg
108,99
102,91
-5,58
42,35
Carne de Frango
kg
1,83
2,07
13,22
26,40
Carne Suína
15 kg
66,16
62,50
-5,53
28,30
Leite B
Litro
0,82
0,81
-1,07
10,78
Leite C
Litro
0,72
0,72
-0,49
5,00
Ovos
30 dz
36,22
38,19
5,44
15,75
Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).


 

            A análise dos preços agropecuários em 2010 revela uma tendência de crescimento persistente durante o ano Os produtos vegetais tiveram os comportamentos altistas mais exacerbados, tendo se mostrado com ritmo de elevação significativo até março, queda em abril, nova alta até maio e após ter mostrado pequeno recuo até julho, desde quando retomam a escalada ascendente. Os produtos animais apresentaram persistente trajetória de aumento, embora em ritmo mais lento, durante todo o ano de 2010 (Figura 1). De qualquer forma, focando dezembro de 2009, no mês final de 2010 todos os indicadores de preços se mostram expressivamente mais elevados.

 

            Para a variação acumulada no ano de 2010, os resultados registraram variações positivas para o IqPR de 36,40% e para o IqPR-V (vegetais) de 37,46%, já o IqPR-A (animais) terminou o ano com variação de 32,02%. Desconsiderando a cana-de-açúcar do cálculo do índice que no período de dezembro de 2009 a dezembro de 2010 teve valorização de 15,61%, os índices apresentaram aumentos significativos: o IqPR fechou em 52,25% e o IqPR-V em 70,85%.

 

            A explicação para o comportamento de preços agropecuários mais altos em 2010 não pode ser atribuída à menor eficiência setorial. Duas linhas de explicações devem ser consideradas na análise desses aumentos de preços. A primeira, do lado da oferta, consiste no fato de que 2009 foi um ano de preços demasiadamente baixos, os menores dos últimos anos, para produtos relevantes na composição dos índices, como é o caso das laranjas.


  
 

Figura 1. Evolução do Índice Acumulado Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Dezembro de 2009 a Dezembro de 2010.

 


Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA).




            Em 2010, tanto a laranja para indústria (104,44%) como para a laranja in natura (140,18%) revela-se significativa recuperação de seus preços (Tabela 2). Em 2009 os preços recebidos pelos produtores de laranja foram os mais baixos em uma década, levando a conflitos exacerbados dos citricultores com as agroindústrias. Mas bastou os preços melhorarem em 2010 para mostrar que a oferta responde a preços em qualquer circunstância, afetando a orquestração de interesses intra-setoriais.

 

            Mas se em lavouras perenes como os pomares o ajuste se dá num prazo mínimo de doze meses, em lavouras temporárias isso se dá em questão de meses. Esse consiste no preço do feijão. Na análise de fechamento do mês de outubro último, mostrou-se a significativa alta dos preços do feijão (142,36%), em relação ao ano passado. Neste encerramento de 2010, os preços de feijão em dezembro continuavam mais altos (37,33%) em relação ao mesmo período de 2009. Isso reflete a realidade em que os preços despencaram a partir da segunda quinzena de outubro e atualmente já se encontram menores que os custos de produção.

 

            Os preços do feijão estiveram muito baixos durante todo o ano de 2009 chegando a atingir o piso de R$ 42,00/sc de 60 kg, em plena colheita da safra de verão, em janeiro de 2010. Esse patamar remunerava em torno da metade dos custos de produção. Isso desestimulou o plantio da seca nos meses seguintes, e num movimento de recuperação de preços com idas e vindas que acabaram conformando em agosto de 2010 preços compatíveis com a remuneração adequada do produto, cobrindo os custos de produção acrescidos de rentabilidadeadequada.

 

            Aí entra em cena a segunda ocorrência com a seca atrasando o plantio da nova safra das águas, levando a movimentos especulativos, uma vez que se vislumbrou um período de escassez até a entrada da colheita das águas. E quando esta se verificou os preços do feijão entraram em declínio levando à perspectiva que em janeiro de 2011 a realidade dos preços seja semelhante à de 2010. Como pontificou o maior dos filósofos alemães, a história não se repete, pois na primeira vez manifesta-se como história nas demais como tragédia. Esse parece ser o vaticínio para a produção dessa importante lavoura alimentar.

 

            Merecem destaques os incrementos de preços, nos últimos doze meses, do algodão que sequer foi possível obter cotação ao nível de produtor paulista nos últimos meses como reflexo da significativa queda dos estoques internacionais em plena entressafra brasileira-, da banana nanica (71,51%)- fruta que recuperou-se de situação de preços baixos do final 2009-, do amendoim (49,29%), do milho (46,28%) – fato que também resulta de preços muito baixos em 2009-, do café (38,29%) – que vem recuperando preços no mercado internacional após período de preços baixos-, da carne bovina (42,35%), da carne de frango (26,40%), da carne suína (28,30%), dos ovos (15,75%) e cana-de-acúcar (15,61%) – reflexo dos preços internacionais do açúcar que elevou o percentual de moagem para esse fim e provocou a atual disparada dos preços do álcool combustível-.

 

            Em linhas gerais, o consumidor em dezembro de 2010 pagou mais pelo feijão, pelas carnes e para abastecer seu carro. Esses produtos tiveram em 2009, na média, preços baixos, o que enseja períodos de recuperação, tanto assim que praticamente todos apresentam preços atuais remuneradores cobrindo os custos de produção com alguma rentabilidade. Mas existem preços conjunturalmente menores em 2010 quando comparados com 2009, como nos casos da batata (-42,17%) e do tomate para mesa (-40,71%), ambas olerícolas de elevada perecibilidade onde se manifesta gangorra de preços de enorme amplitude de curto prazo.

 

            Esse movimento foi acirrado após janeiro de 2010 (Figura 1). Em função do ritmo do crescimento econômico verificado em 2010, com aumento da massa salarial – pelo efeito convergente de redução do desemprego e maior nível do salário médio- há uma significativa e persistente pressão da procura. Mas essa pressão que provoca alta dos preços na entressafra da produção agropecuária, não sustenta esses patamares de preços no início da colheita da safra das águas, que para alguns produtos como o feijão ocorre em novembro, mas para outros se estenderá até março de 2011.

 

            De qualquer maneira, para a maioria dos produtos a conjuntura atual conduz à formação de expectativas que indicam preços crescentes, fato que somente será revertido ou não em função da magnitude dos volumes colhidos, do comportamento dos preços internacionais e da resistência das estruturas de mercado: dos consumidores aos movimentos especulativos. Mas para produtos como feijão, tomate de mesa e batata expectativa de curto prazo prognostica preços crescentes, na manifestação da elevada amplitude dos preços no curto prazo revelada pela volatilidade da gangorra de preços, em que quando o produtor tem produto não tem preço e quando tem preço não tem produto. E essa instabilidade da renda não produz consistentes investimentos, o que se mostra preocupante.

_______________________
1A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/12/2010 a 31/12/2010 e base = 01/11/2010 a 30/11/2010.

2Artigo completo com a metodologia: Pinatti, E.; Sachs, R.C.C.; Angelo, J.A.; Gonçalves, J.S. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.9, p.22-34, set.2008. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573

 

Data de Publicação: 06/01/2011

Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor