Uso do Plástico nos Supermercados: das sacolas plásticas às embalagens dos alimentos

            No dia 25 de janeiro, a maioria dos supermercados paulistas deixou de distribuir sacolas plásticas para o consumidor, resultado do acordo entre a Associação Paulista de Supermercados (APAS) e o governo do Estado de São Paulo. Essa é uma parte da campanha 'Vamos tirar o planeta do sufoco'.1
 

            A intenção é deixar de utilizar 2,4 bilhões de sacolas por mês no Estado, o que representa 60 unidades per capita que deixariam de ser descartadas.2
 

            O governo federal iniciou, em 2009, com esse mesmo objetivo e em parceria com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a campanha 'Saco é um saco'.3
 

            Essa ação, mesmo sendo positiva, no sentido de incentivar a diminuição do número de embalagens plásticas utilizadas, reduzindo o volume desse material descartado no meio ambiente e mostrando uma prática sustentável, pode ser vista com certa ressalva, já que grande parte dos alimentos industrializados, que são um dos grandes itens fornecidos nas lojas, utiliza embalagem plástica.
 

            Como exemplo, existem produtos como arroz, feijão, açúcar, massas, biscoitos, margarinas, queijos, cogumelos, azeitonas, molhos de tomate, embutidos, frutas, verduras e legumes (embalados com resina plástica), entre outros, os quais também são acondicionados em embalagens plásticas que, descartadas, levam em torno de 100 a 400 anos para sua decomposição, dependendo do tipo de plástico utilizado.4
 

            Outro ponto importante são os produtos alimentícios de marca própria das grandes redes (Figura 1). Vários deles são comercializados em embalagens plásticas quando poderiam ser usadas as tradicionais. Exemplos são as azeitonas e os cogumelos.
 

            Vale lembrar ainda das frutas, verduras e legumes que, para serem pesadas, são acondicionadas em sacos plásticos (Figura 2).
 

            Algumas embalagens barateiam o preço do produto, mas levando em conta a questão da sustentabilidade, foco da ação dos supermercados, a grande preocupação deveria ser com embalagens menos nocivas ao meio ambiente. Ou seja, que se decomponham em menos tempo ou que possam ser recicladas pelo mesmo produto, como é o caso das garrafas pet, retornáveis e latas de alumínio.

Figura 1 - Comparação entre Tipos de Embalagens no Supermercado, São Paulo (SP), 2011.

 
Fonte: SILVA, R. O. P. Foto comparação entre tipos de embalagens no supermercado. 2011. 1 Fotografia.
 

Figura 2 - FLV Embalados no Supermercado, São Paulo (SP), 2011.

 
Fonte: SILVA, R. O. P. FLV embalados no supermercado. 2011. 1 Fotografia.
 

            Vale ressaltar que as grandes redes de supermercados têm como prática habitual fazer exigências aos seus fornecedores para colocar seus produtos nas gôndolas, prática essa considerada nociva ao mercado, mas que poderia ser saudável se utilizada no caso de embalagens. Isto é, as grandes redes poderiam comprar apenas os produtos que mantivessem ou optassem por embalagens menos poluidoras.
 

            Há de se considerar algumas questões que são pertinentes a essas ações. Segundo dados do Plastivida – Instituto Socioambiental dos Plásticos, 96% das sacolas plásticas distribuídas nos supermercados eram utilizadas para acondicionar o lixo doméstico. Agora, quem quiser adquirir as sacolas, deverá desembolsar R$0,19 por unidade. A economia das redes, segundo o mesmo instituto, poderá chegar a R$500 milhões com a medida.5 Esse valor já era embutido nos preços finais das mercadorias e não está previsto desconto a ser repassado ao consumidor.
 

            As sacolas reutilizáveis, assim como os cestos ou carrinhos de feira que são apontados como substitutos, serão nova fonte de ganho para os supermercados que lucrarão com mais esse produto.
 

            Outro ponto é o aumento da venda de sacos de lixo para pia e banheiro, para substituir as sacolas usadas para esse fim.
 

            Ou seja, o consumidor está pagando a conta de uma ação que supostamente seria para seu bem e do meio ambiente. Os supermercados só tiveram benefícios, aumentando suas vendas, enquanto o consumidor terá que desembolsar mais.
 

            Neste sentido, a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON-SP), após inúmeras reclamações, em conjunto com a Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público de São Paulo (MPE-SP), firmou com a APAS um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que prevê a proibição de vendas de sacolas biodegradáveis. Essas deverão ser oferecidas aos consumidores, por dois meses, até estes se adaptarem.6
 

            Entretanto, ainda segundo Frazão, o MPE-SP pretende fiscalizar os supermercados após esse período, com o intuito de banir definitivamente qualquer tipo de sacola descartável, incluindo a biodegradável.7
 

            As questões colocadas apontam para dois motivadores para o fim da distribuição de sacolas plásticas. Primeiro, o marketing voltado para a responsabilidade social, valorizada pelos consumidores mais conscientes, que cria uma imagem positiva das empresas. Em segundo lugar, o interesse econômico, já que haverá diminuição dos custos com embalagens e ao mesmo tempo a obtenção de um novo lucro com a venda de embalagens retornáveis, sacos biodegradáveis e mais sacos de lixos comuns.
 

            No caso dos biodegradáveis, existem dois tipos principais que são os oxi-biodegradáveis e os hidrobiodegradáveis. A degradação de ambos ocorre primeiro por meio de um processo químico (oxidação ou hidrólise), seguida por um processo biológico. Ambos emitem CO2 à medida que se degradam, mas o segundo tipo, que é feito geralmente à base de amido, pode emitir metano. Os dois podem ir para compostagem, mas apenas os oxibiodegradáveis podem ser economicamente reciclados.8
 

            Importante ressaltar que os plásticos biodegradáveis, por sua vez, de acordo com as recomendações da Avaliação do Desempenho de Embalagens Plásticas Ambientalmente Degradáveis e de Utensílios Plásticos Descartáveis para Alimentos, não podem simplesmente ser descartados na natureza ou em aterros, pois não há ambiente propício para sua degradação nesses locais. O melhor destino para eles é a compostagem, pois a biodegradação necessita de condições para que ocorram reações possiblitando que eles se decomponham. Ou seja, é preciso que sejam considerados todos os parâmetros físicos (temperatura, pressão, ação mecânica dos ventos, chuva e neve, de alagamentos, ação da luz, etc.), a composição química da água, do ar e do solo, além dos parâmetros biológicos (ação dos animais, vegetais e microorganismos).9
 

            Segundo Esmeraldo, os plásticos biodegradáveis na verdade são oxidegradáveis ou fragmentáveis. Para que o processo ocorra, é necessário incluir um aditivo que apenas acelera seu processo de degradação. 10
 

            Mesmo assim eles não se biodegradam, pois sua decomposição não ocorre em até seis meses, conforme estabelecido pelas normas técnicas nacionais e internacionais para que ocorra a biodegradação.11
 

            Ainda segundo o autor, esse tipo de plástico divide-se em milhares de pedacinhos ao se degradar, virando um pó no final do processo que poderá ir para córregos, rios, represas, lagos e mares. Isso pode levar a que se beba involuntariamente plástico oxidegradável misturado à água. Além disso, os fragmentos poderão ser ingeridos por animais, causando sérios danos econômicos e ambientais, com consequências imprevisíveis.
 

            Outro ponto a se considerar é que esse tipo de plástico é mais caro que o comum. Segundo informações de Letícia Mendonça, gerente do negócio de especialidades plásticas da Basf, empresa química, ele custa 20% a mais que o de origem fóssil e só sua produção em escala poderá diminuir seu custo.12
 

            Na verdade, a APAS poderia ter levado em conta todos esses aspectos antes de implantar sua campanha e fazer um programa mais consistente de substituição das embalagens plásticas nas suas gôndolas, incentivando, com isso, a utilização de materiais menos agressivos ao meio ambiente, prevendo estratégias que paulatinamente diminuíssem o número de embalagens plásticas dos alimentos e focando mais a conscientização dos consumidores.
 

            A associação poderia também fazer parcerias com instituições de pesquisa públicas buscando novas alternativas de embalagens, além de incorporar o PROCON-SP para elaborar materiais a serem distribuídos à população para sua educação sobre o tema e propor política pública de educação ambiental voltada para essa questão, tendo em conta a cidadania.
 

            Os supermercados poderiam ainda doar sacolas dentro de um programa de fidelidade do cliente por certo período, o qual daria direito ao consumidor a uma sacola reutilizável ao consumir determinado valor. Com isso, o supermercado não repassaria todo o custo dessa campanha para o consumidor, o que seria uma estratégia de marketing positiva perante a sociedade.
 

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1OLIVETTE, C. Campanha pelo fim das sacolas plásticas gera oportunidades. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 15 jan. 2012. Caderno Oportunidades, p. 3.

2Op. cit. nota 1.

3GONÇALVES, A. A partir de quarta-feira, sacolas de plástico vão ‘sumir’ do supermercado. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 22 jan. 2012. Caderno Vida, p. A25.

4SERVIÇO BRASILEIRO DE REPOSTAS TÉCNICAS – SBRT. USP Inovação. Tempo de decomposição dos plásticos. São Paulo: USP, 2009. Disponível em: <http://sbrtv1.ibict.br/upload/sbrt-referencial11329.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2012.

5Op. cit. nota 3.

6FRAZÃO, F. Supermercado muda regra e poderá oferecer sacola plástica por 2 meses. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 04 fev. 2012. Caderno Vida, p. A22.

7Op. cit. nota 6.

8PORTAL SÃO FRANCISCO. Plásticos Biodegradáveis. São Paulo, Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/plasticos/plasticos-biodegradaveis-7.php>. Acesso em: 30 jan. 2012.

9______. Plásticos Biodegradáveis. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/plasticos/
plasticos-biodegradaveis.php>. Acesso em: 30 jan. 2012.

10ESMERALDO, F. de A. Desconhecimento sobre sacola oxidegradável causará dano ambiental. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.plastivida.com.br/2009/pdfs/artigos/artigo-para-guarulhos.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2012.

11Op. cit. nota 10.

12LEAL, R. O plástico ficou ecológico. Revista InfoExame. São Paulo, ed. 301, mar. 2011. Disponível em: <http://www.abief.com.br/noticias.asp#193>. Acesso em: 23 jan. 2012.

Palavras-chave: sacolas plásticas, embalagens de alimentos, decomposição, sustentabilidade, meio ambiente.

Data de Publicação: 10/02/2012

Autor(es): Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Katia Nachiluk (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Pedro Staudt (nelson@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor