Café: mercado ensaia recuperação

            A tendência de alta no preço do café nos mercados internacionais acelerou-se em janeiro de 2004, ensaiando uma mudança no comportamento de mercado do produto. É a primeira vez desde 1998 que o ano-safra mundial apresenta uma oferta inferior à demanda.
            Verificou-se, assim, um aumento nos preços médios mensais nos diferentes mercados. No mercado de Nova Iorque, a cotação média do mês do café arábica (Contrato C, segunda posição de maio de 2004) subiu 15,67% em relação à média de dezembro de 2003. Na Bolsa de Londres, a majoração no preço do robusta chegou a 9,60%, enquanto na BM&F o arábica atingiu alta de 14,97%. Como resultado desse movimento de alta, o preço composto diário da OIC (Organização Internacional do Café) cresceu 11,84% (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros, 2002 a 2004

                       Fonte: Gazeta Mercantil

            A expressiva alta observada no mercado internacional de café arábica na Bolsa de Nova Iorque, para as cotações de maio de 2004, quando observadas durante janeiro, ainda não define uma tendência de preço para o setor, mas confirma a possibilidade de mudança da tendência acima indicada.

Gráfico 2 - Cotações diárias em Janeiro de 2004, na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, para Maio de 2004

                        Fonte: Gazeta Mercantil

            Por fim, verifica-se alta acumulada nas cotações mensais do café arábica, de 17,97% na BM&F e de 9,96% na Bolsa de Nova Iorque, mesmo considerando as recentes altas nas cotações de café nos mercados de futuros nos últimos 12 meses. Para o robusta, ao contrário, observa-se queda acumulada de 7,65% na Bolsa de Londres.
            O cafeicultor brasileiro respirou aliviado, em janeiro de 2004, com o impacto das cotações no mercado internacional do café. Mesmo enfrentando um real valorizado, o preço médio recebido subiu 21,16% em relação ao do mês anterior. A trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para uma alta de 6,18% (gráfico 3).

Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café no Estado de São Paulo, período de 2001 a 2004

                        Fonte: Instituto de Economia Agrícola

2 – Prorrogação das dívidas

            Em 29/01/2004, o Conselho Monetário Nacional (CMN) acatou solicitação do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1, cujo pleito amparava-se na tese da necessidade de 'reordenamento' do fluxo de comercialização da safra. A proposta constituiu-se de um pacote de prorrogações por 180 dias das dívidas dos cafeicultores em suas mais diversas modalidades, tais como: estocagem das safras 2000/01 e 2001/02; colheita da safra 2001/02; conversão de custeio para estocagem da safra 2001/02 e dos financiamentos concedidos para a política de retenção.
            Como pré-condição para acessar tal renegociação, as autoridades monetárias exigiram o pagamento de 30% do valor do vencimento original em até 60 dias a partir da data de publicação da resolução por parte do Banco Central, no caso de prestações vencidas até 29 de janeiro deste ano, e até a data do respectivo vencimento original para cada prestação com vencimento a partir de 30 de janeiro de 2004.
            Quanto aos recursos contratados junto ao PRONAF (Programa Nacional de Agricultura Familiar), foi concedido prazo até 30 de dezembro para a quitação das parcelas vencidas e vincendas. Também, para a safra 2004, foram majorados os preços mínimos de garantia tanto para o arábica quanto para o robusta.
            A prorrogação diz respeito a endividamentos antigos (safra 2000/01, por exemplo, e dos créditos para a retenção). Sem levar em conta as taxas praticadas, que quase geram subsídio explícito ao segmento, evidencia-se a enorme dificuldade encontrada pelos agentes financeiros para receber seus empréstimos, uma vez que as renegociações têm sido uma temática permanente.
            A reincidência de renegociações não pode gerar outra expectativa de que a médio prazo o governo conceda anistia a esses financiamentos, em prejuízo de todo um conjunto majoritário de bons pagadores e eficientes cafeicultores. Infelizmente, um pedaço de nossa cafeicultura padece do vício da tutela estatal, cuja cura não se verifica mesmo se valendo dos mais diversos receituários. A verdadeira mudança a ser almejada para o segmento é a da implementação de políticas públicas em benefício dos verdadeiros empreendedores da cafeicultura que felizmente despontam nas mais diversas regiões.
            Embora lamentemos a renegociação das dívidas do setor, esta decisão foi suficientemente ampla para a oxigenação de parte da cafeicultura brasileira. Sem o peso dos financiamentos em atraso, os cafeicultores poderão concentrar-se em revitalizar suas lavouras visando prepararem-se para o ciclo de melhores cotações que se avizinha e quitar seus empréstimos. Os bons gestores que souberem aproveitar esse privilégio poderão fazer parte do conjunto de cafeicultores que já se prepara para ser competitivo, ofertando cafés de alta qualidade.
            Esperamos que a promoção de novas ações governamentais, como a de mercado de opções para o café, no decorrer deste ano possa sinalizar e reforçar a mudança de rumo das políticas para o setor cafeeiro.

1 MAPA: www.agricultura.gov.br

Data de Publicação: 11/02/2004

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor