Defensivos Agrícolas: em 2014, faturamento do segmento foi o destaque

Em 2014, as quantidades totais vendidas de defensivos agrícolas no Brasil, em produto comercial, aumentaram quando comparadas com aquelas observadas no ano anterior. Foi transacionada quantidade recorde de 914.220 toneladas (acréscimo de 1,3% em relação a 2013) (Figura 1). Porém, em ingrediente ativo1, observou-se decréscimo de 4,2%, no referido período, totalizando 352.336 toneladas, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (SINDIVEG). Esse bom desempenho comercial pode ser explicado, principalmente, pela safra recorde de soja e pela necessidade de combate às pragas e às doenças incidentes nas lavouras, com destaque para a ferrugem asiática e a lagarta Helicoverpa armigera, bem como o ressurgimento de velhas pragas conhecidas, como a mosca branca e a lagarta falsa medideira.


 

Na safra 2014/15, no Brasil, de acordo com o sétimo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), prevê-se que a área cultivada com as principais culturas seja somente 0,5% maior que a cultivada na safra 2013/14, passando de 57,06 para 57,33 milhões de hectares. A soja se destacou com estimativa de produção de 94.280 mil toneladas, na safra 2014/15, representando incremento de 9,5% em relação à safra anterior, com aumento da área colhida de 4,4%, no referido período2. Porém, em importantes culturas demandadoras de defensivos, são estimadas retrações de área, como algodão (12,9%), feijão total (5,7%) e milho safra (7,2%).

Comparativamente com o ano anterior, o aumento na comercialização de defensivos agrícolas em 2014 resultou de melhores vendas, em quantidade de produto comercial, para algumas importantes culturas, como soja (5,9%) e milho safrinha (1,3%). Outros produtos que também tiveram crescimento da demanda foram culturas de inverno (31,8%), tomate envarado (123,4%), arroz irrigado (0,6%) e pastagem (0,4%). Em contrapartida, outras culturas registraram retração, em quantidade vendida: milho safra (16,0%), algodão (14,7%), cana-de-açúcar (12,0%), amendoim (6,8%), feijão (1,8%) e batata-inglesa (0,9%).

A classe de defensivos de maior acréscimo nas vendas em quantidade de produto comercial foi a dos fungicidas, que, em 2014, aumentou 17,2% (em relação ao ano anterior), seguida de “outras” com incremento de 11,8%. Por sua vez, decresceram as vendas de acaricidas e herbicidas (ambas com 2,2%), e inseticidas (1,0%), no referido período.

O mercado brasileiro de defensivos agrícolas totalizou US$12,249 bilhões em 2014, contra US$11,454 bilhões em 2013, representando aumento de 6,9% em 12 meses. As vendas em valor cresceram 12,2% para os fungicidas, 7,4% nos inseticidas e 4,4% em herbicidas, enquanto a dos acaricidas decresceu 1,5%.  

No Brasil, em 2014, a classe de inseticidas foi a que respondeu pelo maior valor das vendas, sendo responsável por 39,9% do faturamento total, ou seja, US$4,89 bilhões. Para a soja, destinou-se a maior parte das vendas (60,3%), seguida de algodão, cana-de-açúcar, milho safrinha, café, milho safra, feijão, batata-inglesa e culturas de inverno. Em quantidade de produto comercial, os inseticidas representaram 25,5% do total. Destaque-se que, do total de inseticidas comercializados (232.692 toneladas), 97,4% foi de inseticidas de aplicação foliar (226.684 toneladas) e 2,6% (6.008 toneladas) para tratamento de sementes.

A necessidade de combater a ferrugem asiática contribuiu para o aumento das vendas de fungicidas. As condições climáticas favoráveis à doença e o não cumprimento do vazio sanitário, em algumas regiões, contribuíram, entre outros fatores, para a disseminação da doença3.

A comercialização de fungicidas, em 2014, movimentou US$2,91 bilhões no Brasil, o que correspondeu a 120.712 toneladas de produto comercial e 36.328 toneladas de ingrediente ativo. Observou-se que 95,7% dos fungicidas vendidos, em produto comer­cial, foram para aplicação foliar e o restante para tratamento de sementes. As vendas de fungicidas em valor destinaram-se, principalmente, para soja (62,6%), milho safrinha, culturas de inverno, algodão, café, feijão e batata-inglesa. 

 Em 2014, os herbicidas movimentaram US$3,90 bilhões, ou seja, 31,9% do faturamento total do setor, respondendo por 52,2% (476.860 toneladas) da quantidade total vendida em produto comercial (Figura 2), assim distribuídas: 347.780 toneladas e 129.080 toneladas de herbicidas não seletivos e seletivos, respectivamente. As vendas de herbicidas, em quantidade, destinaram-se, principalmente, para soja (53,7%), cana-de-açúcar (12,4%), milho safrinha (8,7%) e safra (5,9%), pastagem (5,4%) e algodão (3,6%).


 

Os acaricidas, em 2014, foram responsáveis por 1,0% (US$116,99 milhões) do faturamento total do setor. O consumo de acaricidas no Brasil, em produto comercial, está mais da metade concentrado em São Paulo, representando, em 2014, 54,4% (6.116 toneladas) do total das vendas brasileiras em quantidade de produto comercial e 44,1% (US$51,56 milhões) do faturamento dessa classe. Respondeu a citricultura de São Paulo por 47,9% do valor comercializado de acaricidas, situando-se nesse Estado a maior área colhida com laranja no Brasil.

Em 2014, a soja foi a principal consumidora de defensivos no Brasil, sendo responsável por 55,6% (US$6,80 bilhões) do valor total das vendas. A cana-de-açúcar ocupou a segunda posição, com vendas de US$1,03 bilhão (participação de 8,4%), com queda de 11,0% em relação a 2013, refletindo o alto endividamento que carrega o segmento. Em seguida, aparece o algodão (7,5%), milho safrinha (5,3%) e o milho safra (3,5%). Somadas, as vendas para essas culturas concentram cerca de 80% do valor total comercializado no país. Culturas de inverno, café e pastagem demandaram 2,8%, 2,5% e 2,4%, respectivamente.

O mercado brasileiro, em 2014, comercializou o valor total de US$12,25 bilhões em defensivos. No ranking das vendas, em valor, por unidade da Federação, Mato Grosso se destacou como o maior estado consumidor em 2014, representando 21,0%, ou seja, US$2,57 bilhões (correspondendo a 193.240 toneladas de produto comercial). Em seguida, aparecem Rio Grande do Sul (12,9%), Paraná (12,8%), São Paulo (12,1%), Goiás (10,3%), Minas Gerais (8,3%), Bahia (6,0%) e Mato Grosso do Sul (5,7%). As demais unidades da Federação, juntas, responderam por 10,9% do valor total. 

Neste mercado, 48,7% do valor comercializado foi dos genéricos (US$5,96 bilhões) e 51,3% (US$6,29 bilhões) das especialidades. Constatou-se a predominância de genéricos na classe de acaricidas, em termos de valor, 72,0%, seguido de herbicidas (70,0%) e “outras” (64,2%). Porém, nas classes de fungicidas e inseticidas, houve a predominância das especialidades, sendo responsáveis por 64,2% e 62,6%, respectivamente, de acordo com o SINDIVEG.

Ressalte-se que, em 2014, em quantidade comercial de defensivos vendidos, os genéricos representaram a maior parcela (75,9%), ou seja, 694.390 toneladas de produto comercial, enquanto as especialidades ficaram com apenas 24,1% (219.830 toneladas).

O Brasil continua bastante dependente das importações. Em 2014, foram importadas 418 mil toneladas de produtos técnicos e formulados, com acréscimo de 2,4% em relação ao ano anterior, assim distribuídas: 56,2% de produtos técnicos e 43,8% de formulados4.

A classe dos inseticidas, em 2014, foi a que apresentou o maior crescimento na quantidade importada, 13,3% em relação ao ano anterior, totalizando 127,5 mil toneladas, correspondendo a US$2,7 bilhões. Esse aumento refletiu a maior incidência de pragas, tais como a Helicoverpa armígera, falsa-medideira, lagarta-militar, o bicudo-do-algodão, entre outras. A importação de fungicidas teve acréscimo de 8,2% e os herbicidas apresentaram retração de -5,1%, no referido período5, 6.

A China se destacou como principal fornecedor para o Brasil, respondendo por 26,3% do total importado, seguida dos Estados Unidos (21,3%), Argentina (7,6%), Índia (6,3%), Inglaterra (5,5%), Suíça (5,0%) e Israel (4,4%)7.

De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA)8, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), nas principais regiões produtoras da agricultura paulista, quando se comparam os preços dos defensivos agrícolas comercializados no Estado em janeiro de 2015 com os do mesmo mês de 2014, a média dos índices de preços, em valores corrigidos pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV)9, ficou praticamente estável (aumento de  0,4%) para o conjunto dos 82 defensivos monitorados (Figura 3).

Na análise das relações de troca, constatou-se que, em janeiro de 2015, as lavouras de café beneficiado, cana-de-açúcar, feijão das águas, laranja para indústria e milho apresentaram relações de troca mais favoráveis para os agricultores, quando comparadas com janeiro de 2014, ou seja, ganho do poder de compra dos produtores paulistas na aquisição da cesta de defensivos agrícolas, enquanto as culturas da soja e algodão em pluma, ao contrário, apresentaram relações de troca mais desfavoráveis10

No caso da soja, houve uma perda no poder aquisitivo dos produtores, em janeiro de 2015, em relação ao mesmo mês do ano anterior, influenciado principalmente pela queda do preço recebido pelos agricultores que, em valores correntes, passou de R$61,11/sc. 60 kg em janeiro de 2014, para R$56,03/sc. 60 kg em janeiro de 2015. Observou-se que em janeiro de 2014 eram necessárias 5,11 sc. para adquirir uma cesta de defensivos agrícolas, tendo aumentado para 5,61 sc., em janeiro de 2015, acréscimo de 9,8% (Figura 4).

A previsão de vendas da indústria de defensivos agrícolas no Brasil para 2015 é de que haja crescimento pequeno de 1% ou 2%, ou de que elas permaneçam estáveis em relação ao ano anterior. No primeiro bimestre de 2015, as vendas foram fracas, sendo que em março de 2015 houve uma pequena reação. Fato que refletiu nas importações de produtos técnicos e formulados, que caíram em torno de 20% no primeiro trimestre de 2015, em relação ao mesmo período do ano anterior. Os produtores estão aguardando melhor definição do dólar para efetuarem as compras11.

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1Constitui-se em um ingrediente/princípio ativo a molécula e/ou formulação química destinada a debelar a praga ou doença.

 

2COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Acompanhamento da safra brasileira: grãos safra 2014/2015 sétimo levantamento. Brasília: CONAB. Disponível em: <http://www.conab.
gov.br/>.  Acesso em: abr. 2015.

 

3CAETANO, M. Venda de defensivos cresceu em ritmo menor no Brasil em 2014. Valor Econômico, São Paulo, 28 abr. 2015. Disponível em: <http://www.valor.com.br/agro/4024022/venda-de-defensivos-cresceu-em-ritmo-menor-no-brasil-em-2014>. Acesso em: maio 2015.

 

4______. Importação de defensivos bate novo recorde. Valor Econômico, São Paulo, 26 fev. 2015. Disponível em: <http://www.valor.com.br/ agro/3927872/ importação-de-defensivos-bate-novo-recorde>.  Acesso em: abr. 2015.

 

5SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESA VEGETAL - SINDIVEG. Banco de dados. São Paulo: SINDIVEG. Disponível em: <http://www.sindiveg.org.br/news_ed_08.php>. Acesso em: maio 2015.

 

6INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA.  Defensivos agrícolas. São Paulo: IEA, 2015. Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/defensivos.aspx>. Acesso em: abr. 2015.

 

7Op. cit. nota 5.

 

8Op. cit. nota 6.

 

9FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - FGV. Índices gerais de preços. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2015. Disponível em: <http://portalibre.fgv.br/>. Acesso em: mar. 2015.

 

10INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA.  Relação de troca. São Paulo: IEA, 2015.  (Projeto IEA/FUNDEPAG). Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/RelaTroca.aspx>. Acesso em: abr. 2015.

 

11Op. cit. nota 3.

 

Palavras-chave: mercado de defensivos agrícolas, indústria de defensivos, fitossanidade, pragas, doenças.

Data de Publicação: 19/05/2015

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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