Máquinas Agrícolas: inversão de tendência

            Findou a euforia. Durante os últimos quatro anos encerrados em 2004, a regra consistiu em festejar o invejável desempenho exibido pelo segmento de máquinas agrícolas automotrizes, ou seja, crescimento, respectivamente, de 13,8% e de 15,8% na produção e nas vendas (tabela 1).

TABELA 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas agrícolas automotrizes, Brasil, 2002 a 2004

Item Unidade
2002
2003
2004
(b/a-1)*100
(c/b-1)*100
.
(a)
(b)
(c)
Trator de roda
Produção
u.
40.352 
46.435 
51.923 
15,1
11,8
Vendas no mercado interno
u.
33.217 
29.476 
28.803 
-11,3
-2,3
Nacionais
u.
33.186 
29.405 
28.636 
-11,4
-2,6
Importados
u.
31 
71 
167 
129,0
135,2
Exportação
u.
7.923 
16.589 
23.552 
109,4
42,0
Total das vendas
u.
41.140 
46.065 
52.355 
12,0
13,7
Colheitadeiras
Produção
u.
6.851 
9.195 
10.443 
34,2
13,6
Vendas no mercado interno
u.
5.648 
5.440 
5.603 
-3,7
3,0
Nacionais
u.
5.616 
5.434 
5.598 
-3,2
3,0
Importados
u.
32 
-81,3
-16,7
Exportação
u.
1.199 
3.232 
4.533 
169,6
40,3
Total das vendas
u.
6.847 
8.672 
10.136 
26,7
16,9
Cultivadores Motorizados
Produção
u.
1.079 
Vendas no mercado interno
u.
1.050 
1.585 
1.685 
51,0
6,3
Nacionais
u.
1.050 
1.585 
1.685 
51,0
6,3
Importados
u.
Exportação
u.
46 
Total das vendas
u.
1.096 
1.585 
1.685 
44,6
6,3
Tratores de esteiras
Produção
u.
1.665 
1.520 
2.229 
-8,7
46,6
Vendas no mercado interno
u.
551 
449 
526 
-18,5
17,1
Nacionais
u.
543 
449 
526 
-17,3
17,1
Importados
u.
Exportação
u.
1.117 
1.067 
1.718 
-4,5
61,0
Total das vendas
u.
1.668 
1.516 
2.244 
-9,1
48,0
Retroescavadeiras
Produção
u.
2.063 
1.605 
2.275 
-22,2
41,7
Vendas no mercado interno
u.
2.102 
1.045 
1.164 
-50,3
11,4
Nacionais
u.
2.079 
1.045 
1.164 
-49,7
11,4
Importados
u.
23 
Exportação
u.
136 
528 
1.189 
288,2
125,2
Total das vendas
u.
2.238 
1.573 
2.353 
-29,7
49,6
Máquinas agrícolas (total)
Produção
u.
52.010 
58.755 
66.870 
13,0
13,8
Vendas no mercado interno
u.
42.568 
37.995 
37.781 
-10,7
-0,6
Nacionais
u.
42.474 
37.918 
37.609 
-10,7
-0,8
Importados
u.
94 
77 
172 
-18,1
123,4
Exportação
u.
10.421 
21.416 
30.992 
105,5
44,7
Total das vendas
u.
52.989 
59.411 
68.773 
12,1
15,8
Emprego 1
pessoas
9.736 
11.654 
13.292 
19,7
14,1
Receita Cambial
US$
642.853 
962.011 
1.727.443 
49,6
79,6
1 Emprego refere-se a dezembro
Fonte: ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (http://www.anfavea.com.br)

            A criação e implementação do programa MODERFROTA, passando pela securitização das dívidas dos agricultores e ainda pela estupenda alavancagem das cotações das commodities, formou, sem dúvida, os alicerces que impulsionaram os negócios das montadoras. Estabeleceu-se, assim, no País um verdadeiro pólo de atração para os novos investimentos em escala produtiva e em tecnologia para o segmento de máquinas agrícolas automotrizes.
            Esse fato, paulatinamente, credenciou o segmento enquanto relevante player no mercado mundial desses equipamentos, ainda que beneficiados pela significativa desvalorização da moeda brasileira. Entretanto, no segundo semestre de 2004 e com maior ênfase em 2005, verifica-se uma reversão nos componentes desse cenário. Em primeiro lugar, ocorre declínio nos preços das principais commodities, seguido de valorização da moeda e de expressivo aumento nos custos de produção da indústria, capitaneado pelo preço do aço e dos pneumáticos.
            Os dados mais recentes demonstram a assertiva. Em janeiro de 2005, as vendas de máquinas no mercado interno foram 29,1% menores que as observadas no mesmo mês do ano anterior, embora tenham repetido o volume comercializado (somando-se as exportações) em dezembro de 2004 (1,7 mil máquinas). Houve pequeno aumento nas exportações (2,7%), que reflete muito mais o cumprimento de contratos celebrados em momento anterior.
            Isto tenderá a refletir, nos próximos meses, o mesmo comportamento observado para as vendas no mercado interno, uma vez que a trajetória de apreciação cambial do real se fortaleceu. Enquanto perspectivas para 2005, estimativas do segmento apontam para uma retração de 10% nas vendas.
            Se, pelo lado do agronegócio, as transações envolvendo máquinas agrícolas devem arrefecer, no segmento de infra-estrutura, demandante por máquinas de esteira e retroescavadeiras, o corrente ano poderá garantir a retomada das vendas no mercado interno com a dinamização dos negócios, uma vez que os referidos equipamentos apresentaram incremento de vendas próximo aos 50% em 2004 (tabela 1).
            Da provável queda nas vendas de máquinas agrícolas, não se deve concluir que o faturamento das empresas seguirá a mesma direção. O maior conteúdo tecnológico dos equipamentos e o seu maior porte implicam em valores mais elevados e, conseqüentemente, patamares de faturamento não proporcionais à diminuição das vendas. Ademais, as maiores vendas de máquinas para o segmento de infra-estrutura, bem como para os setores de cana-de-açúcar, café e laranja, poderão fornecer oxigênio adicional às montadoras.

Avanço na faixa de potência

            No Brasil, tem havido substancial aumento da participação das máquinas com maior potência no conjunto das vendas. Essa tendência ficou ainda mais evidente nos dois últimos anos, em que se observa queda no número de unidades comercializadas na faixa de 50CV a 99CV, com relativa estabilidade das transações envolvendo máquinas na faixa de 100CV a 199CV (figura 1).
 

Figura 1 – Número de unidades comercializadas no mercado interno por faixa de potência, Brasil, 1999 a 2004

                  Fonte: ANFAVEA

            Uma maior faixa de potência dos equipamentos utilizados na condução das lavouras reflete-se em aumento de produtividade por hora máquina e em diminuição dos custos unitários. Essa tendência coaduna-se com o crescimento da escala das lavouras, notadamente, aquelas instaladas na vastidão dos cerrados, sendo portanto um fenômeno legitimador dos ganhos de eficiência do agronegócio.

Novo desencontro entre ciclo de negócios e investimentos

            Os segmentos de grãos e fibras ressentem-se de substancial queda em suas cotações, enquanto cana-de-açúcar, café e frutas concorrem na valorização de seus produtos. Esse momento ocorre em paralelo com o início do vencimento das primeiras parcelas de financiamento contratadas em âmbito do MODERFROTA, podendo ocasionar inadimplemento de produtores especializados em grão e fibras.
            Poderá surgir forte tensão no setor, a menos que haja uma política pública de amparo aos produtores que não provisionaram recursos suficientes para honrar os compromissos, ou que ainda carregam parcelas de outros financiamentos contratados no passado. 1

1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-10/2005 


 

Data de Publicação: 23/02/2005

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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