Defensivos agrícolas: expectativa de vendas menores em 2005

             As vendas totais de defensivos agrícolas no Brasil, em 2004, atingiram valor recorde. Alcançaram o valor de US$4,495 bilhões contra US$3,136 bilhões no ano anterior, o que representa acréscimo de 43,3% no faturamento do setor, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG). Em termos de quantidade física, foram vendidas 463,6 mil toneladas de produto comercial (aumento de 23,3%) e 214,7 mil toneladas de princípio ativo (incremento de 17,7%) (figura 1).

Figura 1 - Quantidade vendida de defensivos agrícolas, em produto comercial, Brasil, 2000-2004

Fonte: Elaborada a partir de dados do SINDAG.

            O aumento do consumo de defensivos pode ser explicado principalmente pelo acréscimo na demanda por fungicidas, em função da ocorrência da ferrugem asiática nas plantações de soja no País e da expansão da área plantada de várias culturas na safra 2004/05. O quarto levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)1 apontou crescimento de 8,6% na área de soja, em relação à safra 2003/04, de 11,9% na área de trigo, de 6,1% na de algodão e de 5,5% na de arroz.
            O consumo de defensivos em 2004, em quantidade de produto comercial, cresceu para diversas culturas, quando comparado com o do ano anterior. São exemplos o trigo (53,2%), o algodão (36,3%), a soja (36,2%), a banana (34,1%), o arroz irrigado (16,2%), o arroz sequeiro (11,4%), o café (13,1%), a cana-de-açúcar (12,3%) e a batata inglesa (9,6%).
            Segundo o SINDAG, a cultura que mais consumiu defensivos agrícolas em 2004 foi a da soja, com a quantidade estimada em 208.381 toneladas de produto comercial, o que corresponde a 44,9% do total. Em seguida, aparecem milho (11,7%), algodão herbáceo (7,9%), cana-de-açúcar (6,5%), citros (5,8%) e café (4,2%), o que perfaz, somente essas seis culturas, 81,0% da quantidade consumida nesse ano. Ao considerar as vendas para tratamento de sementes de soja, algodão e milho, a participação desse conjunto de culturas sobe para 82,1% da quantidade total comercializada.
            Todos os segmentos do setor, com exceção dos acaricidas, apresentaram resultados econômicos positivos em 2004 para a indústria, quando comparados com os do ano anterior. Os herbicidas responderam por 54,1% da quantidade vendida de defensivos. O faturamento, de US$1,830 bilhão, cresceu 20,1% quando comparado com o de 2003, em função do maior consumo em várias culturas, tais como soja, cana-de-açúcar, algodão, arroz, feijão e trigo (figura 2).

Figura 2 - Participação das classes na quantidade vendida de defensivos agrícolas, em produto comercial, Brasil, 2004

Fonte: Elaborada a partir de dados do SINDAG.

            A cultura da soja respondeu por 55,1% do valor das vendas de herbicidas. Também se destacaram as participações da cana-de-açúcar (12,3%) e do milho (10,9 %). Assim, somente essas três culturas respondem por 78,3% das vendas.
            Os fungicidas foram o segmento que apresentou o maior aumento em termos de valor (94,5%), passando de US$ 713,5 milhões em 2003 para US$1,388 bilhão em 2004. Isto se deve ao crescimento no uso desse insumo, especialmente para o combate da ferrugem asiática na soja. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)2, a ferrugem é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, que provoca desfolha precoce da soja e redução do peso do grão.
            As vendas de inseticidas, que representaram 23,7% do valor total, acusaram aumento de 47,0% (US$1,066 bilhão em 2004 em relação aos US$725,2 milhões de 2003). Destinaram-se principalmente à soja (27,1%), seguida de algodão (25,2%), tratamento de sementes (11,4%), milho (9,0%), cana-de-açúcar (5,3%) e café (4,2%).
            A comercialização de acaricidas movimentou US$78,0 milhões em 2004, valor 2,6% inferior, em termos nominais, ao registrado em 2003 (US$80,0 milhões). O consumo de acaricidas no Brasil está concentrado quase na sua totalidade em São Paulo. Em 2004, o Estado respondeu por 85,8% das vendas brasileiras em quantidade de produto comercial e representou 85,2% do faturamento dessa classe. Isto pode ser explicado pelo fato de a citricultura ser responsável por 93,1% da quantidade nacional comercializada de acaricidas e São Paulo ser detentor de mais de 70,0% da área colhida com laranja no País (587,9 milhões de hectares na safra 2004)3.
            No segmento 'outros', que engloba antibrotantes, reguladores de crescimento, espalhantes adesivos e óleo mineral, registrou-se incremento de 40,1% nas vendas (US$131,5 milhões em 2004 em relação a US$93,8 milhões em 2003). Isto se deve, especialmente, ao acréscimo nas vendas para as culturas de soja, algodão, cana-de-açúcar, arroz, café e fumo.
            No caso de tratamento de sementes, soja e milho são as culturas que vêm apresentando nos últimos anos os maiores gastos na compra de inseticidas (US$ 46,8 milhões e US$ 38,5 milhões, respectivamente, em 2004). Em menor proporção, aparecem o algodão, o arroz, o trigo e o feijão. Por sua vez, quanto se considera os fungicidas, destacam-se as aquisições especialmente para a soja (US$ 36,2 milhões, em 2004), seguida de trigo, milho, algodão, arroz e feijão.
            No exame do comportamento das vendas, em termos de valor, por Unidade da Federação, o Estado do Mato Grosso ocupou a primeira posição (19,2%), seguido de São Paulo (17,7%), Paraná (15,7%), Rio Grande do Sul (10,1%), Goiás (9,6%), Minas Gerais (8,2%), Mato Grosso do Sul (6,9%) e Bahia (4,4%). As demais unidades da Federação,juntas, responderam por 8,2%.
            A previsão do setor é de que as vendas de defensivos em 2005 sejam inferiores às observadas no ano anterior. Isto por causa da retração na receita dos produtores, do nível de endividamento dos agricultores e da estiagem que afetou a região Sul do País, especialmente o Estado do Rio Grande do Sul, mas também Paraná e Mato Grosso do Sul, provocando quebra na produtividade do milho, do feijão e da soja. Também os estoques dos revendedores estão maiores em 2005.
            Nos cinco primeiros meses de 2005, fontes do setor estimam que as vendas de defensivos caíram entre 10% e 15% quando comparadas com as de igual período do ano anterior. O nível de inadimplência, que anteriormente girava em torno de 1%, estava em 25% até o final de maio4.
            O governo federal aceitou criar uma linha de crédito de R$ 1 bilhão com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), acrescida de outra de R$ 3 bilhões do BNDES5, para refinanciar dívidas dos produtores rurais com indústrias de insumos (defensivos e fertilizantes) e tradings. Contudo, na última safra, de acordo com entidades do setor, somente 11,8% das vendas de defensivos foram financiadas com recursos oficiais. O restante foi financiado pelas indústrias, que estão adotando a via da renegociação caso a caso, região a região, para as dívidas contraídas por produtores rurais.6

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1 Companhia Nacional de Abastecimento. Quarto levantamento de avaliação de safras 2004/2005. Brasília, abril/2005. Disponível em www.conab.gov.br.
2 EMBRAPA: www.embrapa.gov.br
3 LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro: IBGE, abr.2005.
4 BOUÇAS, C. Renda mais baixa na agricultura e dívidas afetam vendas de insumos. Jornal Valor Econômico, 24,25 e 26/06/2005. B14.
5 BNDES: www.bndes.gov.br
6 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-57/2005

Data de Publicação: 06/07/2005

Autor(es): Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor