Café: cotações em fortes quedas nos últimos dois meses

            O mercado de café viveu intensa instabilidade nos últimos dois meses, como acontece todo ano no mesmo período, devido ao chamado mercado do clima com as tradicionais apostas especulativas nos riscos de geadas em cafezais brasileiros. Assim, observou-se enorme movimentação dos fundos desde março, com aumento das posições vendidas, à medida em que se configurou a baixa probabilidade de ocorrência de distúrbios climáticos danosos aos cafezais. Tais vendas se intensificaram na segunda quinzena de julho, provocando fortes quedas das cotações dos arábicas.
            Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica caíram 9,39% no mês de julho, em relação à cotação média de junho (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou queda de 4,86% para a segunda posição, a primeira redução desde fevereiro. No mercado de futuros da BM&F, também para a segunda posição, o preço do arábica caiu 10,30%. O indicador OIC-Composto diário apresentou leve redução de 8,11% em relação à média do índice de junho, devido ao menor recuo nas cotações do robusta.
            Nos últimos 4 meses, constata-se queda contínua do café arábica nos diferentes mercados, ainda mais amplificada pelo avanço da colheita no Brasil, que vem ocorrendo dentro do previsto, com mais de 60% já realizados (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005

Fonte: Gazeta Mercantil

            A tendência de queda nas cotações manifestou-se mais intensamente na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), mantendo o diferencial de US$ 13,50 a saca (60 kg), em relação às cotações da Bolsa de Nova Iorque nos últimos dois meses, cerca de 4% inferior ao observado no mês de junho.
            As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram alta instabilidade ao longo do mês, em função da ação do mercado de clima para o produto, com média 9,39% menor do que a mesma cotação observada em junho. Porém, tiveram forte queda em meados do mês e apresentaram recuperação nos últimos dez dias (gráfico 2).

Gráfico 2 - Cotações diárias em julho de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição

Fonte: Gazeta Mercantil

            O contrário ocorreu no mercado de café robusta na Bolsa de Londres, cujas flutuações foram menos intensas devido à menor oferta do produto no mercado internacional. O preço apresenta acentuada recuperação desde outubro de 2004, ainda que em julho tenha ocorrido queda de apenas 4,86%. O comportamento dos preços no mercado de Londres, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 3.

Gráfico 3 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de julho de 2005

Fonte: Gazeta Mercantil

            Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em julho de 2005, indica variação de 61,92% nos últimos doze meses. Em 2005, alcançou variação positiva acumulada de apenas 4,36%. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 48,14% nos últimos doze meses e apenas 3,27%, em 2005.
            Por fim, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de 67,12%, nos últimos doze meses, e de 53,09% em 2005. A estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 51,33%, em doze meses, e de 14,61% em 2005, fortemente influenciado pelos atuais preços praticados para o robusta.
            No nível do cafeicultor paulista, as cotações médias em julho recuaram 10,84% em relação à média de junho, em função da queda nas cotações internacionais. Mas a trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos 12 meses, aponta para alta acumulada de 31,50%, em doze meses, e de apenas 2,20% em 2005 (gráfico 4).

Gráfico 4 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002/05

Fonte: Instituto de Economia Agrícola
 

Desempenho recente do mercado mundial

            Dados divulgados pela Organização Internacional do Café (OIC)1 mostram que as exportações mundiais de café atingiram 7,66 milhões de sacas em junho de 2005, resultado 16,73% inferior às contabilizadas no mesmo período de 2004. Mas o total exportado nos primeiros nove meses deste ano cafeeiro cresceu 2,22%, totalizando 68,69 milhões de sacas. Ao considerar as exportações globais nos últimos 12 meses (julho de 2004 a Junho de 2005), constata-se aumento de 2,46% nos embarques (90,24 milhões de sacas), dos quais 60,61 milhões de sacas de arábica e 29,63 milhões de sacas de robusta.

Comportamento sazonal dos preços

            Muitos cafeicultores e analistas do mercado de café têm-se mostrado surpresos com a queda das cotações observada a partir de março de 2005. De fato, nos últimos meses, houve queda substancial dos preços da commodity conforme atesta a análise acima. Todavia, seria esse comportamento estranho ou existe um ciclo recorrente para os preços do café que reflete períodos de safra e entressafra?
            O padrão sazonal ocorre quando os preços oscilam entre picos e vales ao longo do ano agrícola. No período 1995-2004, os preços recebidos pelos cafeicultores paulistas esboçaram típico comportamento sazonal, com médias mais elevadas entre fevereiro e maio (entressafra) e mais baixas de julho a outubro (gráfico 5).

Gráfico 5 - Sazonalidade dos preços recebidos pelos cafeicultores, Estado de São Paulo, 1995-2004

Fonte: elaborado a partir de dados básicos do IEA

            A evidência de comportamento sazonal ampara a indicação de reter o produto da colheita para comercializá-lo a partir do início do próximo ano, caso exista essa possibilidade. Uma indicação consistente com os resultados estatísticos obtidos para o ajuste sazonal.
 
 

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1OIC: www.ico.org

2Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-70/2005

Data de Publicação: 08/08/2005

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor