Café: Tendência De Baixa No Mercado E Situação Da Colômbia

            O preço do café no mercado internacional apresentou forte reação até meados de outubro, em função de uma maior demanda e da estiagem que ameaçava a safra brasileira de café para 2001. Porém, bastou a chegada das chuvas nas principais regiões produtoras para que o mercado voltasse a patamares inferiores aos do início do mês. A cotação para dezembro, de 73,55 centavos de dólares por libra-peso, em 30/10/2000, é a menor registrada no vencimento mais negociado desde fevereiro de 1994. A expectativa é de que tão logo se defina a safra brasileira para o próximo ano, e dado o inverno no Hemisfério Norte que aquece a demanda para o produto, os preços do café possam reagir neste final de ano (Figura 1).

Figura 1 – Cotação do Contrato C de Café, Segunda Posição, Bolsa de Nova York, 20/09 a 31/10/2000.

                 Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da Bolsa de Nova York.

            Os preços praticados para as diversas qualidades de bebida no mercado interno oscilaram bastante em outubro. Tomando-se como referência os tipos finos e duros bem preparados, constata-se que após declinarem em 2,7% e 1,4%, respectivamente, na primeira semana de outubro, ocorre em seguida acentuado aumento nas cotações com incremento de 3,5% para os finos e de 3,4% para duros, observados na segunda semana, e que se mantém durante a terceira semana (com mais 6,7% e 6,8% para os tipos finos e duros respectivamente), puxados pelas notícias de severa estiagem nas principais zonas cafeeiras do Brasil. Contudo, o retorno das precipitações conduziu o mercado novamente a baixas com acentuadas perdas para todos os tipos (Figura 2).
            Alguns analistas esperam que em novembro poderá ocorrer declínio nos estoques certificados da Bolsa de Nova York o que daria sustentação para nova escalada de preços. Infelizmente, a distorção causada pela política de intervenção no mercado pode mascarar esse movimento ou na melhor das hipóteses beneficiar exclusivamente nossos concorrentes nesse mercado.

Figura 2 – Cotações Médias Semanais por Saca de Café Verde, Tipo 6 para Melhor, Safra 2000/01, FOB Armazém, 20/09/2000 a 27/10/2000.

                   Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de ESCRITÓRIO CARVALHAES, set.out./2000.
 

- Consequências da Política de Retenção

            A Organização Internacional do Café (OIC) divulgou que as exportações mundiais somaram 87.734 mil sacas de café no período de setembro de 1999 a agosto de 2000, observando-se aumento de 4,4% em relação ao volume exportado em igual período anterior (84.036 mil sacas). Na contramão do aumento do comércio mundial, o Brasil teve redução de 3.897 mil sacas (-16,8%) enquanto que Vietnã, México, Índia e Guatemala, no conjunto, aumentaram 6.138 mil sacas (+33,0%) (Tabela 1). Por mais que seja negado pelas autoridades e alguns empresários do setor, tal fato deve ser atribuído ao Plano de Retenção de Café conduzido pela Associação dos Países Produtores de Café (APPC). Outra conseqüência da desaceleração das exportações brasileiras de café é a da perda da participação no mercado norte-americano, declinando oito pontos percentuais entre os meses de janeiro e agosto de 2000 (market share de apenas 11% em relação aos 19% verificados em igual período de 1999), segundo informações do U.S. Bureau of Statistics. Essa perda correspondeu a 131,60 mil sacas que os norte-americanos deixaram de importar do Brasil, enquanto que no mesmo período as importações dos Estados Unidos da América aumentaram 3%.

TABELA 1 - Exportações Mundiais de Café Verde e Solúvel, Países Selecionados,
Set. 1998-ago. 1999 a Set. 1999-ago. 2000

(mil sc./60kg)

País
Set.1998-ago.1999 (a)
Set.1999-ago.2000
(b)
Variação (b)-(a) 
(em quantidade)
Variação (b)/(a)
(em %)
Brasil
23.121
19.224
- 3.897
-16,8
Vietnã
6.639
10.208
3.569
53,8
Colômbia
10.476
9.058
-1.418
-13,5
México
4.062
5.113
1.051
25,9
Guatemala
4.454
4.854
400
9,0
Índia
3.363
4.481
1.118
33,2
Peru
1.978
2.412
434
21,9
Total Geral
84.036
87.734
3.698
4,4
          Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da OIC, 2000.

            Embora o referido Programa tenha iniciado oficialmente a partir de 15 de julho, já estava sendo elaborado e anunciado bem antes e assim muitos produtores já no último trimestre de 1999 se recusavam a vender o produto na expectativa de que pudessem fazê-lo a melhores preços no futuro. Segundo dados da Federação Brasileira dos Exportadores de Café (FEBEC), entre setembro de 1999 e agosto de 2000, o preço médio de exportação foi de US$104/saca de café verde, podendo-se estimar em mais de 400 milhões de dólares o montante de receitas cambiais que o Brasil deixou de internalizar, o que é muito significativo no atual contexto das contas externas brasileiras. Alega-se que caso não houvesse a retenção os preços de exportação seriam menores, argumento que precisa ser mais bem analisado, primeiro, porque vivemos uma situação de excedente de café no mercado mundial e, segundo, porque os nossos clientes não tiveram dificuldades em encontrar outros fornecedores inclusive em concordância com nossos exportadores.

- Cafeicultura Mundial: o caso da Colômbia

            Nesta década, a Colômbia chegou a produzir mais de 18 milhões de sacas de café estabilizando, entretanto, sua produção entre 11 e 12 milhões, embora tenha produzido menos em anos mais recentes em decorrência de distúrbios climáticos. Sua meta é estabilizar a produção em 13 milhões de sacas. Apesar de contar com a poderosa Federação dos Cafeicultores, esse país enfrenta obstáculos internos de natureza sócio-política e estrutural para atingir essa meta. Antes de se analisar esses problemas, gostaríamos de comentar duas questões de natureza técnica. A primeira refere-se à variedade de café colombiana desenvolvida com o intuito de estender o período de colheita, mas que acabou por vulnerabilizar as lavouras à ação da broca, exigindo maior controle através de agroquímicos. Não se sabe se devido à utilização desses produtos para o controle da broca ou se a fatores ligados a própria variedade colombiana, alguns degustadores estariam notando perda de qualidade da bebida. A segunda questão refere-se ao processamento pós-colheita do café por via úmida, em que ainda predomina o sistema que utiliza água na proporção de 40 litros para cada quilo de café preparado. A carga poluente desses efluentes preocupa crescentemente os clientes dos cafés despolpados que têm pressionado por mudanças que agridam menos o meio ambiente.
            Entretanto, um dos maiores problemas da cafeicultura da Colômbia está relacionado com a política interna, envolvendo intensas atividades das facções contrárias ao governo estabelecido, situação que já perdura por algumas décadas. Ademais, o país enfrenta outro problema cuja solução aparentemente dependeria também de negociação política com as mencionadas facções, que é a questão do narcotráfico. Estima-se que o comércio ilegal de drogas movimenta no mundo mais de US$400 bilhões por ano o que indica a dimensão econômica do problema (grandes interesses em jogo).
            Finalmente, o problema de natureza estrutural da produção colombiana decorre do fato de que 95% das 565 mil propriedades cafeeiras possuem menos que 5 hectares que correspondem a mais de 60% da área cultivada com café (Tabela 2). Para essa categoria de agricultores, a atividade de produção de café representa apenas um meio de subsistência e não uma forma de negócio. Apenas 1,5% dos produtores são considerados empresários que vivem do café, respondendo por 22% da área cultivada. Situação aparentemente funcional é a interdependência entre esse dois segmentos produtivos, ou seja, o segmento que sobrevive em condições de subsistência é o fornecedor de mão-de-obra para o segmento mais empresarial. Portanto, o desafio da cafeicultura colombiana consiste em encontrar uma solução para essa dicotomia, possibilitando assim garantir a sustentabilidade econômica da atividade a longo prazo.

TABELA 2 – Estrutura da Produção Cafeeira na Colômbia, 1999
 

Estrato de Área
Propriedade
Área
no
%
ha
%
Menos 5ha
536.750
95,0
539.400
62,0
Entre 5,1 a 10ha
19.775
3,5
139.200
16,0
Mais 10ha
8.475
1,5
191.400
22,0
Total
565.000
100,0
870.000
100,0
         Fonte: Elaborada a partir de dados básicos da Federação de Cafeteros de Colômbia, 1999.
 
 
1 Convênio ESAQ-IEA-SAA/SP.

 

 

Data de Publicação: 21/11/2000

Autor(es): Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor