Café: Forte Instabilidade De Preços E Declínio Das Exportações

Mercado

As cotações do café nos diferentes mercados internacionais mostram fortes quedas ao longo de fevereiro de 2003, praticamente retornando ao patamar observado em novembro de 2002. No mercado de Nova Iorque, o café arábica (contrato C, segunda posição) perdeu 13,01% nas cotações para maio, enquanto na Bolsa de Londres o café robusta apresentou queda de 13,58%, para o mesmo mês. Na BM&F as cotações para o arábica, posição de maio, declinaram 16,18% em fevereiro. Finalmente, considerando o preço composto diário da OIC ( www.ico.org) , verifica-se igualmente que houve redução de 10,79% (Gráfico 1).

Gráfico 1. Cotações Médias Mensais do Café, Mercados de Futuros, 2001-2003

Fonte: Gazeta Mercantil

Esse comportamento das cotações do café estão em contradição com os fundamentos do mercado, pois se trabalha com um cenário de oferta de cerca de 6 milhões de sacas inferior à demanda para o próximo no ano safra 2003/04, inclusive ressalvando que se trata da primeira ocorrência desse gênero nos últimos cinco anos. Embora preveja-se a manutenção dos estoques dos países consumidores no curto prazo, esses deverão se reduzir no futuro próximo, potencializando o fenômeno da escassez.

O principal fator que tem influenciado o mercado do café, bem como de outras commodities, é iminência da guerra entre EUA e Inglaterra contra o Iraque, o que tem mudado a posição dos investidores nas bolsas, levando-os a trocar suas posições das aplicações no mercado de commodities para aplicações em ouro, títulos em euros e dólares, dos governos dos Estados Unidos e dos países europeus. Portanto, os cafeicultores brasileiros devem ficar atentos não se precipitando, aguardando melhor definição do cenário de guerra, para comercializar seu produto. Esse conservadorismo pode resultar em ganhos futuros uma vez que a safra brasileira de café 2002/03 deverá se reduzir de 33% a 50%, dependendo da estimativa considerada, contribuindo decisivamente para a mencionada menor oferta mundial do produto.

Todavia, mesmo com a queda das cotações de café em mercados de futuros, nos últimos 12 meses, se verifica uma alta acumulada menos expressiva, que foi de 12,62% para o café arábica na BM&F, de 27,75% na Bolsa de Nova Iorque, para o arábica, e de 67,03% para o robusta na Bolsa de Londres.

No mercado interno os preços médios recebidos pelos cafeicultores em fevereiro apresentaram ligeiro crescimento em decorrência da maior taxa de reais por dólar (desvalorização) e pelo fato de que até o dia 20 as cotações vinham se mantendo constantes desde o final de janeiro. Porém, em fevereiro quando se compara as cotações em 03/02 com as de 28/02, verifica-se que os preços médios diários caíram 13,38%, o que praticamente paralisou o mercado. (Gráfico 2).

Gráfico 2.- Preços Médios Mensais Recebidos pelos Produtores de Café no Estado de São Paulo no Período de 2000-03.

 

Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Finalmente, quando se avalia a evolução dos preços de café recebidos pelos produtores nos últimos 12 meses, verifica-se que cresceram 75,27%. Nessas condições os cafeicultores, tanto na comercialização de seus estoques como no da venda antecipada da próxima safra, devem acompanhar o quadro de volatilidade das cotações futuras, reflexo das flutuações que se observa nos mercados internacionais, visando melhorar suas estratégias de negociação.

Exportações de café: participação declinante

Analisando-se as exportações brasileiras de café no último qüinqüênio (1998-2002) verifica-se uma perda relativa da posição nas exportações totais do país e em especial dos agronegócios (Gráfico 3). Assim, as exportações de café, que em 1998 representaram 5,08% do total do valor das transações brasileiras, têm sua participação caindo continuadamente, até atingir 2,24 % em 2002. No caso da sua participação nas exportações do agronegócio brasileiro também cai fortemente, de 11,26% em 1998 para 5,20% em 2002.

Gráfico 3. Participação do Valor das Exportações Brasileiras de Café no Total do Valor das Exportações e das Exportações Agronegócios do País, 1998-2002

Fonte: Instituto de Economia Agrícola e Anuário Coffee Business

Esta redução está associada à queda nas cotações internacionais do produto, uma vez que se verificou um volume crescente de exportação de café verde. Concomitantemente, o agronegócio brasileiro apresentou expansão de produtos tradicionais como a soja e seus derivados e o surgimento de novos produtos como as carnes (bovinas, de aves e suína) e os pescados (camarões cultivados), além de um leque amplo de frutas, que estão ganhando a preferência dos mercados internacionais.

Do ponto de vista do mercado internacional do café em volume exportado a participação brasileira evoluiu de 22,3% em 1998 para 30,10% em 2002, assumindo uma destacada liderança global. Esse crescimento não foi observado apenas no café verde (de 53% no período), mas também verificado notadamente no café torrado, que em 1998 não passava de 2.400 sacas negociadas, crescendo para 69 mil sacas em 2002. O último semestre de 2002 foi particularmente favorável para as vendas de café torrado, somando exportações de 97,8 mil sacas entre fevereiro de 2002 e janeiro de 2003. No caso do solúvel, o volume exportado evoluiu de 1,67 milhões de sacas em 1998 para 2,55 milhões de sacas em 2002. Esses dados indicam o esforço que a cadeia produtiva do café vem realizando para exportar produtos com maior valor agregado nos últimos anos.

A Alemanha que lidera a reexportação mundial de café (verde e torrado), tornou-se, desde 2000, nosso principal importador, desbancando os Estados Unidos. Assim, em 1998, enquanto que para os USA eram destinados 17,20% de café verde e para a Alemanha cerca de 15,80% , elas evoluem para 14,30% e 16,70%, respectivamente, em 2000, atingindo 19,05% para o USA e 20,65% para a Alemanha, em 2002.

Novos financiamentos para a cafeicultura

O novo governo aprovou uma nova linha de crédito para a cafeicultura. O Conselho Monetário Nacional autorizou, em 27/02/3003, a criação de uma linha de crédito de R$ 300 milhões, com recursos do FUNCAFÉ, para financiar a colheita e a estocagem de café. Alteração digna de nota foi a elevação da taxa de juros de 9,50% aa para 13% aa, com respaldo no aumento da taxa SELIC, consistindo numa justificativa que não convenceu/agradou o segmento. As autoridades monetárias prevêem que essa linha esteja disponível aos cafeicultores no menor prazo possível.

 

Data de Publicação: 10/03/2003

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor