Café: mercado instável no inverno brasileiro

           Os preços do café arábica apresentaram leve tendência de crescimento em maio, enquanto o preço médio do robusta praticamente se manteve estável. No mercado de Nova Iorque, o café arábica (Contrato C, segunda posição) teve alta de 3,62% na posição de setembro. No mercado de robusta da Bolsa de Londres, houve redução no preço de 0,51%. Na BM&F, o café arábica atingiu alta de 2,57%, enquanto o preço composto diário da OIC aumentou 2,53% (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros, 2001 a 2003

                 Fonte: Gazeta Mercantil

            No mês de maio, porém, o mercado internacional de café foi fortemente influenciado pelas expectativas de geada no Brasil, se bem que, nos últimos 30 anos, se observou apenas uma ocorrência de geada em maio. Essa expectativa gerou forte flutuação nas cotações do café arábica na Bolsa de Nova York, contrato C, segunda posição, como pode ser observado no gráfico 2. A flutuação foi tão intensa que no dia 30/05/03 os preços caíram fortemente, atingindo o menor nível dos últimos nove meses.

Gráfico 2 - Cotações diárias no mês de maio na Bolsa de Nova York, para café arábica, contrato C, segunda posição, 2003

                 Fonte: Gazeta Mercantil

            Essa alta nas cotações médias mensais dos cafés arábicas indica que, mesmo com a possibilidade de ocorrência de geadas no Brasil, o mercado não manifesta tendência expressiva de recuperação das cotações do produto, mesmo com a expectativa quanto à pequena safra brasileira que está sendo colhida, entre 28 e 32 milhões de sacas. Isto indica que provavelmente os elevados estoques existentes nos países consumidores continuarão a inibir a tendência altista.
            É importante destacar que a tendência é a de maior recuperação para as cotações dos cafés arábicas, enquanto o robusta apresenta relativa estabilidade nas suas cotações médias nos últimos três meses, indicando a maior oferta desse produto no mercado internacional.
            O cafeicultor brasileiro, após a forte valorização do real, vem enfrentando preços médios mensais levemente crescentes, o que deverá mudar em junho com os leilões de opções recentemente aprovados pelo governo e com a intensificação da colheita da safra atual (gráfico 3).
            Todavia, mesmo com as instabilidades das cotações de café em mercados de futuros nos últimos 12 meses, verifica-se alta acumulada menos expressiva: de 33,89% nas cotações médias mensais para o café arábica na BM&F; de 28,93% para o arábica na bolsa de Nova Iorque; e de 45,40% para o robusta na de Londres.

Gráfico 3 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café no Estado de São Paulo, período de 2000 a 2003

                 Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

            Da mesma maneira, quando se avalia a trajetória dos preços recebidos pelos produtores (em reais) nos últimos 12 meses, verifica-se que cresceram 64,09%. É importante destacar, contudo, que desde outubro de 2002 os preços têm se mantido nos mesmos patamares, o que tem gerado enorme insatisfação por parte de produtores e cooperativas. A conseqüência direta é a pressão sobre o governo para implementar leilões de opções para setembro e novembro, no sentido elevar os preços do produto, o que se espera que ocorra em junho.

Onze de junho: primeiro leilão dos contratos de opções

            Se por um lado não houve discussão a respeito do volume estipulado para as compras dos leilões de opções (3 milhões de sacas dos quais 2,2 milhões para arábica e 800 mil para robusta), por outro, foram intensos os debates dentro e fora do governo sobre os preços mínimos a serem estabelecidos. Em três importantes fóruns com presença de lideranças da cafeicultura, o Senhor Presidente da República esquivou-se de se pronunciar sobre o assunto, aguardando estudos mais aprofundados, embora o secretário de produção e comercialização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tenha diversas vezes alertado para o iminente pronunciamento. Na melhor das hipóteses, produziu-se constrangimento desnecessário para o presidente.
            A evolução das discussões caminhou para consulta aos custos de produção preparados pela EMBRAPA, com o apoio das instituições estaduais de pesquisa e extensão. De posse dessas informações, os técnicos do Governo Federal definiram que seriam leiloadas as opções de venda para café sob preços mínimos de R$ 190,00 a saca para arábica e de R$ 104,00/sc para robusta com vencimento em setembro de 2003. Para o vencimento em novembro, os preços foram majorados para R$ 195,00/sc e R$ 107,00/sc, respectivamente para arábica e robusta.
            O momento de transição política vivenciado pelo País justifica a relativa demora na implementação da política dos contratos de opções. Essa diretriz de atuação complementa outras ações do governo para a defesa da cafeicultura, como o crédito de custeio e a prorrogação das dívidas dos cafeicultores. Outras políticas estão em maturação, como a utilização dos recursos do FUNCAFE no aumento da liquidez ao longo da cadeia como industriais e exportadores, pois se estima que sob financiamentos adequados esses segmentos teriam condições de retirar cerca de 2 milhões de sacas do mercado.
            Analisando esse conjunto de políticas, pode esperar-se que os cafeicultores venham a receber preços mais remuneradores para a atividade. Particularmente, os leilões de contratos de opção dentro dos volumes propostos podem constituir-se em concreta sinalização de preços para o mercado, ao contrário do que dizem alguns analistas do mercado de café que consideram o efeito dessa política apenas discreto (nada mais do que uma redistribuição do risco com algum impacto sobre a rentabilidade do negócio).
            Visões pessimistas sobre a oportunidade da disponibilização das opções podem ser surpreendidas por acentuada diminuição dos embarques brasileiros (resultado da apreciação do real e das dificuldades enfrentadas pelos cafeicultores brasileiros e os dos demais países concorrentes). A conjugação de tais efeitos pode formar ambiente propício para incrementos sustentados dos preços.

Redução da área de robusta no Vietnã: mais um blefe?

            A Associação Vietnamita do Café e do Cacau informa que pretende reduzir a área cultivada de café em 100 mil hectares. Através dessa política, essas autoridades pretendem diminuir a oferta de robusta com intenção de que a oferta do País se estabilize em torno das 10 milhões de sacas por safra (600 mil toneladas). Na realidade, estima-se que os cafeicultores vietnamitas tenham erradicado espontaneamente entre 10 mil e 20 mil hectares, ou seja, no máximo 3% da área total cultivada.
            Embora se deva reconhecer que a crise de preços também assolou a economia cafeeira vietnamita, o perfil dos sistemas produtivos lá praticados sustenta rentabilidade positiva aos cafeicultores para preços oscilando entre U$ 30,00 e U$ 35,00 por saca (similar ao custo de produção médio do conillon capixaba). Assim, o robusta vietnamita, além de produto muito competitivo, é também produto substituto do café brasileiro na maior parte dos blends das torrefadoras dos países importadores. Essa singularidade vincula o futuro das cafeiculturas vietnamita e brasileira, sob cenários de aumento ou de restrição na oferta de um ou de outro país, atuando no balizamento da evolução de suas economias cafeeiras. Caso não ocorra incremento da oferta em outros países, principalmente africanos, a erradicação vietnamita pode constituir-se em preços menos voláteis no futuro.

Data de Publicação: 11/06/2003

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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