Fertilizantes: expectativa de aumento de consumo em 2010

            As entregas de fertilizantes ao consumidor final no País, nos sete primeiros meses de 2010, apresentaram ligeiro acréscimo (1,6%) quando comparado com o mesmo período de 2009, totalizando 10,693 milhões de t de produto (t métrica). Segundo as fontes do setor, em termos de nutrientes, os fertilizantes nitrogenados mostraram crescimento de 2,1%, tendo em vista o incremento na demanda para as culturas da cana-de-açúcar e algodão, com ênfase nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, e também no Estado de São Paulo. Os fertilizantes fosfatados exibiram retração de 13,9%, o que explica a queda das entregas para a cultura do milho (safrinha e safra verão) e do trigo. No caso dos fertilizantes potássicos, o crescimento registrado foi de 24,3%, retomando patamares históricos de entregas, sendo que, na fórmula média, o teor de K2O passou de 12,5% em 2009 para 15,2% em 2010.

            De acordo com o Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas, no Estado de São Paulo (SIACESP), no período de janeiro a julho de 2010, os fertilizantes mostraram acréscimo nas entregas, em relação à igual período de 2009, nas seguintes regiões: Centro-Oeste (7,7%), Sudeste (1,5%), Nordeste (26,4%) e Norte (16,9%). Em alguns Estados, houve aumento nas entregas, no referido período, como Mato Grosso do Sul (9,4%), Mato Grosso e São Paulo (em ambos registrando-se 7,9%), Goiás (6,2%) e Bahia (24%) (Tabela 1).

            A região Sul (importante consumidora de fertilizantes, responsável por 30,2% das entregas desse insumo em 2009), em contrapartida, foi influenciada pela retração no consumo nas culturas do trigo e do milho, no período de janeiro a julho de 2010, quando comparado com o mesmo período do ano precedente. Assim, constatou-se, queda acentuada nas entregas nos Estados de Santa Catarina (-18,7%), Paraná (-14,7%) e Rio Grande do Sul (-9,6%).

            No período de janeiro a julho de 2010, a produção da indústria nacional de produtos intermediários para fertilizantes foi superior (14,2%) ao registrado no mesmo período do ano anterior, totalizando 5,174 milhões de t de produtos. Também as importações brasileiras de fertilizantes, no referido período, cresceram (58,4%) perfazendo 7.216 milhões de t de produto1. Paranaguá (PR) foi o principal porto de desembarque de fertilizantes, seguido de Santos (SP) e Rio Grande (RG).

Tabela 1 – Entregas de Fertilizantes ao Consumidor Final, por Região e Estado, Brasil, 2008-2009, e Janeiro a Julho de 2009 e 2010
(1.000 t)

Fonte: Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA-BRASIL), Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas, no Estado de São Paulo (SIACESP), Sindicato da Indústria de Adubos do Rio Grande do Sul (SIARGS) e Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos do Nordeste (SIACAN).

            Em 2009, as vendas de fertilizantes no Brasil ficaram praticamente estáveis (aumento de apenas 0,2%) em relação ao ano anterior, perfazendo o total de 22,471 milhões de t de produto. Essa quantidade está bem aquém da observada em 2007 (24,609 milhões de t), que se constituiu em recorde histórico. A soja, principal cultura que emprega fertilizantes no Brasil, segundo estimativas da ANDA, em 2009, apresentou acréscimo nas entregas de 5,4% em relação ao ano anterior, perfazendo 7.859 milhões de t (35% do total nacional). Também foi referenciado aumento nas entregas para importantes culturas no referido período, tais como: cana-de-açúcar (7,5%) e café (15,1%). Contudo, várias culturas registraram retração nas entregas como milho (-16,3%), algodão herbáceo (-14,1%), feijão (-13,3%), trigo (-5,3%) e laranja (-6,3%).

            Todos os estados da região Centro-Oeste apresentaram queda no consumo em 2009, quando comparado com o ano anterior. Por exemplo, Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, que liderou o ranking nas entregas (2,205 milhões de t de produto), contabilizou retração de 7,9% em relação a 2008. Também, importantes Estados consumidores desse insumo, como São Paulo e Paraná, exibiram declínio nas entregas. Por outro lado, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina e a maioria dos estados da região Nordeste apresentaram melhor desempenho comercial no mencionado período.

            A comercialização de fertilizantes em 2009 seguiu o padrão sazonal convencional de concentração das vendas no segundo semestre, simultaneamente ao plantio das culturas de verão. Constatou-se que 63,2% das entregas ocorreram no segundo semestre (Figura 1).
 
 

Figura 1 - Fertilizantes Entregues ao Consumidor Final, Brasil, Janeiro de 2007 a Julho de 2010.

Fonte: AMA-BRASIL, ANDA, SIACESP, SIARGS e SIACAN.

            A produção da indústria nacional de produtos intermediários para fertilizantes em 2009 foi de 8,372 milhões de t de produto, quantidade 5,7% inferior ao registrado no ano precedente. Observou-se, assim, queda nas quantidades produzidas, em termos de nutrientes, tanto dos fertilizantes nitrogenados (-1,4%) como dos fosfatados (-8,0%), enquanto houve aumento na produção dos potássicos (18,1%) na jazida de Taquari, município de Vassouras, Estado de Sergipe.

            No caso das matérias-primas utilizadas para a fabricação de fertilizantes, constatou-se menor produção de amônia, rocha fosfática industrial, ácido fosfórico e ácido sulfúrico2.

            Também decresceram, em 2009, as importações brasileiras de fertilizantes (28,4%), as quais totalizaram 11,0 milhões de t. O cloreto de potássio continuou sendo o principal produto importado, respondendo por 30,4% do total, seguido de ureia (18,6%), sulfato de amônio (14,7%) e nitrato de amônio (9%). No caso das matérias-primas para produção de fertilizantes, a retração foi de 32,9% no referido período.

            As cotações dos principais fertilizantes no mercado internacional, que haviam crescido consideravelmente em 2008, apresentaram retração em 2009. Os preços médios FOB dos fertilizantes importados, que atingiram os US$589,14/t em 2008 passaram para US$360,46/t em 2009 (queda de 38,8%)3. Destaque-se a queda nos preços correntes de vários fertilizantes nitrogenados no mercado internacional como a ureia, influenciados em grande parte pela redução do preço do barril do petróleo.

            O dispêndio de divisas com importações de matérias-primas e produtos intermediários para fertilizantes, em 2009, foi estimado em US$4,36 bilhões - FOB, com retração de 61,4% em relação ao ano anterior. Esse menor desembolso com as aquisições no exterior decorre não exclusivamente da queda das cotações unitárias, como também do processo de valorização da moeda doméstica.

            Nos sete primeiros meses de 2010, o preço médio dos fertilizantes importados ficou 17% abaixo do observado no mesmo período do ano anterior, situando em US$325,56/t FOB. As cotações do cloreto de potássio contribuíram para esse declínio. Em julho de 2009, o preço médio do cloreto de potássio importado, que alcançou US$641,93/t FOB, baixou para US$357,55/t FOB em julho de 2010.

            Como reflexo da queda dos preços dos fertilizantes no mercado internacional, seus preços no mercado interno decresceram em 2009 em relação aos preços elevados observados em 2008. Os preços médios de fertilizantes pagos pelos agricultores na região Centro-Sul, FOB fábrica, equivalente à vista (ICMS incluso), que em 2008 se situou em U$606,24/t, caiu para US$421,31/t em 2009 (queda de 30,5%). Essa queda nos preços contribuiu para que em 2009 fosse observada uma relação de troca mais favorável para os agricultores frente à experimentada em 2008, para a maioria das culturas demandadoras de fertilizantes (como soja, cana-de-açúcar, café, arroz e algodão), exceto laranja4.

            A indústria nacional de fertilizantes iniciou 2009 com estoque bastante alto, com 6.404 t de produto. Contudo, finalizou com estoque de 3,470 t milhões de produto, fato que contribuiu para compensar a redução ocorrida nas quantidades importadas e produzidas de fertilizantes em 2009, em relação a 2008 (Tabela 2).

            Em setembro de 2010, a brasileira Vale anunciou portentosos investimentos em mina situada na encosta andina argentina. O imenso potencial disponível nessa reserva mineral poderá no médio prazo vir a tornar o Brasil muito menos dependente de importações de potássio de distantes locais distantes como Canadá e Marrocos, além de baratear o preço final do produto devido a menor despesa com frete5.

Tabela 2 - Balanço de Fertilizantes, Brasil, 2007-2009
(1.000 t)


 

Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS – ANDA. Anuário estatístico do setor de fertilizantes 2008-2009. São Paulo: ANDA, 2010.

            As previsões do setor de fertilizantes para 2010 são otimistas, estimando-se que o consumo brasileiro atinja de 23 a 23,5 milhões de t, contra as 22,5 milhões de t observadas no ano anterior, tendo em vista, principalmente, a expectativa de aumento da área plantada de soja na safra 2010/11, em relação à safra anterior. Outras culturas, como cana-de-açúcar, café, algodão e laranja, impulsionadas pelas favoráveis cotações internacionais, também poderão ampliar a demanda por fertilizantes. Em agosto de 2010, o segmento registrou evolução das entregas entre 4% e 5% e prevê-se para setembro um percentual ainda maior para a expansão das entregas de fertilizantes6.
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1ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS – ANDA. Principais indicadores do setor de fertilizantes. São Paulo: ANDA, 2010. Disponível em: <http://www.anda.org.br/estatisticas.aspx>. Acesso em: set. 2010.

2ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS – ANDA. Anuário estatístico do setor de fertilizantes 2008-2009. São Paulo: ANDA, 2010.

3Op. cit. nota 2.

4Op. cit. nota 2.

5ROSAS, R. Vale usará tecnologia inédita em suas minas para extrair potássio na Argentina. Valor Econômico, São Paulo, 10 set. 2010. p. B6.

6LOPES, F. Consumo de adubo seguirá forte, diz Rabobank. Valor Econômico, São Paulo, 9 ago. 2010. p. B11.

Palavras-chave: mercado de fertilizantes, indústria de fertilizantes.

Data de Publicação: 04/10/2010

Autor(es): Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor