Safra 2016/17 Revigora as Vendas do Segmento de Fertilizantes

No Brasil, as entregas de fertilizantes ao consumidor final, nos sete primeiros meses de 2016, totalizaram 16.528 mil toneladas de produtos, com expansão de 10,4%, em relação ao mesmo período de 2015, que contabilizou 14.970 mil t (Tabela 1). A recuperação das cotações praticadas para parte das commodities precificadas em Bolsa de Valores (particularmente o milho e soja)1, associada ao regime favorável de precipitações que predominou ao longo do primeiro semestre de 2016, induziu aceleração dos pedidos por parte dos agricultores. A expectativa de que a recente tendência de valorização do real frente ao dólar viesse a ocasionar adiamento das compras não se verificou. Ademais, os satisfatórios preços recebidos pelos agricultores de soja e milho, e também as lavouras de cana-de-açúcar, café e laranja que exibiram elevações significativas ao longo de 20162, induziram a antecipação dos pedidos. Ainda assim, apesar dessa expansão registrada nos sete últimos meses, as entregas ainda se situam ligeiramente abaixo das contabilizadas no mesmo período de 2014.

Refletindo o avanço registrado nas entregas de fertilizantes, incrementou-se também a quantidade de nutrientes distribuídos. O nitrogênio (N), no período de janeiro a julho de 2016, atingiu 2.063 mil t, com acréscimo de 10,6% em relação ao mesmo período do ano anterior (quando perfez 1.865 mil t) (Tabela 2). As quantidades de fósforo (P2O5) no mesmo período registraram incremento de 7,2%, totalizando comercialização de 2.295 mil t, contra 2.140 mil t entre janeiro a julho de 2015. No caso do potássio (K2O), observou--se crescimento de 10,5%, elevando as entregas de 2.418 mil t de nutrientes, entre janeiro e julho de 2015, para 2.672 mil t no mesmo período de 2016. Portanto, em termos de nutrientes (N, P2O5 e K2O), foram entregues 7.030 mil t, representando expansão de 9,4% frente a igual período do ano anterior3 (Tabela 2).

No período de janeiro a julho de 2016, na chamada região Centro-Sul, verificou-se incremento da demanda, com destaque para Santa Catarina, que exibiu expansão de 24,1% nas entregas. Contabilizando dois dígitos positivos no incremento da demanda por fertilizantes, incluem-se os Estados do Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro e

 


Minas Gerais, além do Distrito Federal. Em contrapartida, no Norte e Nordeste constatou--se variação errática com estados exibindo forte alta na demanda (Amapá e Pará), enquanto outros mostraram expressiva queda (Piauí e Ceará) (Tabela 1).

Entre janeiro e julho de 2016, o Estado do Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, da safra de inverno de milho e de algodão, liderou o ranking nas entregas (3.685 mil t de produtos), sendo responsável por 22,3% do total nacional. As vendas nesse estado nos primeiros sete primeiros meses de 2016 contabilizaram acréscimo de 17,9%, quando comparadas com igual período do ano anterior. O segundo lugar em participação na quantidade vendida foi ocupado pelo Estado do Paraná, com 2.282 mil t, seguido por São Paulo com 1.832 mil t, Rio Grande do Sul e Goiás com 1.681 mil t e 1.641 mil t, respectivamente (Tabela 1).

A indústria nacional de fertilizantes iniciou 2016 com estoque de passagem de 5.504 mil t de produtos, representando redução de 4,51% frente ao acumulado na transição do ano anterior4. Menores estoques indicam melhor parametrização do mercado por parte da indústria e redução de custos financeiros derivados do carregamento desses produtos (Tabela 3).

 


 

Acompanhando as cotações do petróleo, houve forte tendência de baixa nas cotações dos principais fertilizantes no mercado internacional. O cloreto de potássio, principal produto intermediário importado pelo Brasil, pronto para embarque, foi cotado em julho de 2016 a US$217,72/t FOB, representando queda de 31,2% frente ao preço médio vigente no mesmo mês do ano anterior (Tabela 4). Variação negativa de dois dígitos foram registradas para todos os mais relevantes produtos utilizados na fabricação de fertilizantes empregados na agropecuária brasileira.

Entre janeiro e julho de 2016, o principal porto de desembarque de fertilizantes e de matérias-primas intermediárias foi Paranaguá (PR), representando 37,2% do total, seguido de Rio Grande (RS) (16,1%), Santos (SP) (13,0%) e São Francisco do Sul (SC) (10,0%), este último suplantando Vitória (ES), que ocupava a quarta posição nos sete primeiros meses de 2015. Esses quatro portos concentraram 76,3% dos desembarques de produtos intermediários no país. Os portos de Santos e São Francisco do Sul registraram expansão de 43,2% e 53,0%, respectivamente, no desembarque de produtos e fertilizantes, enquanto Paranaguá e Rio Grande, ao contrário, exibiram contração nos desembarques na comparação dos sete primeiros meses de 2015 e 2016.

A ligeira recuperação nas entregas de fertilizantes entre janeiro e julho de 2016 não repercutiu em alavancagem da produção nacional, pois se constatou queda de 1,7% na produção nacional (de 5,15 milhões de t para 5,059 milhões de t entre 2015 e 2016, respectivamente). Aparentemente, a mobilização de estoques somada à apreciação do real constituem os fatores responsáveis pela queda contabilizada na produção nacional, particularmente no caso do sulfato de amônio, que exibiu redução de produção associada à elevação dos custos das matérias-primas empregadas.

A comercialização de fertilizantes em 2015 seguiu o padrão sazonal convencional desse mercado com concentração das vendas no segundo semestre (com comercialização ganhando impulso a partir de maio), simultaneamente ao plantio das culturas de verão. Constatou-se que 61,2% das entregas (18,50 milhões de t de produtos) ocorreram no segundo semestre, com pico das vendas em setembro (12,4% do total das entregas) (Figura 1).

O dispêndio de divisas com importações de matérias-primas e produtos intermediários para fertilizantes, entre janeiro a julho de 2016, alcançou US$3,52 bilhões FOB, com decréscimo de -13,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, influenciados pela


  


 

queda dos preços médios das matérias-primas e produtos intermediários para fertilizantes importados. Nos primeiros sete meses de 2016, a queda de preços foi de US$301,18/t para US$238,40/t, comparativamente ao mesmo período do ano anterior.

Em que pese todo o dinamismo do agronegócio brasileiro, a incerteza quanto aos rumos de nossa economia brasileira e de seu contexto político imprimem desaceleração do investimento produtivo, de tal modo que não se vislumbra forte expansão da área cultivada, especialmente, com grãos. O movimento de antecipação de compras, associado ao razoável patamar para a relação de troca entre fertilizantes e as principais commodities, permite que se estime expansão das entregas em 2016 frente a 2015. A quantidade de fertilizantes entregues deve retornar ao patamar das 32 milhões de t, ou seja, incremento entre 4% e 5%.


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1LIMA FILHO, R. R.; SILVA, A. S. L. da; AGUIAR, G. A. M. Milho e soja com as maiores altas. Agroanalysis, Rio de Janeiro, p. 24-25, ago. 2016.

 

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.
iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2>. Acesso em: 25 ago. 2016.

 

3SINDICATO DA INDÚSTRIA DE ADUBOS E CORRETIVOS AGRÍCOLAS, NO ESTADO DE SÃO PAULO - SIACESP. Perspectivas de mercado. São Paulo: SIACESP, 2016. 17 p.

 

4Op. cit. nota 3.


Palavras-chave: mercado de fertilizantes, indústria de fertilizantes, preços de fertilizantes.

Data de Publicação: 09/09/2016

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor