Carne bovina: queda de preços não chega ao varejo em 2005

            A carne bovina é responsável por 13,2% dos gastos com alimentação domiciliar de uma família1, atrás em importância somente do leite. Por ser alimento nobre e indispensável na mesa dos consumidores, as variações de preços são significativas, principalmente para aqueles de baixa renda. 


            Em 2005, São Paulo produziu o volume de 78,21 milhões de arrobas (@) de carne bovina, o que torna a bovinocultura de corte uma das principais atividades agrícolas do Estado. O valor da produção da carne bovina foi de R$ 4,3 bilhões, que corresponde a 15,4% do valor da produção agropecuária (VPA) total do Estado, de 27,82 bilhões2, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA). 


            A cadeia produtiva da carne bovina (figura 1) compreende um conjunto de agentes interativos, que são os fornecedores de insumos, os sistemas produtivos (pecuária), as indústrias de transformação, a distribuição e comercialização e os consumidores finais (interno e externo).

Figura 1 - Síntese da cadeia produtiva da carne bovina

            Na figura 1, a letra A representa a fase de comercialização do boi gordo; B representa a fase de comercialização no atacado (traseiro, dianteiro e ponta de agulha de bovinos); e C representa a fase de comercialização no varejo (cortes de carne bovina in-natura). 


            O gráfico 1 apresenta o comportamento, em 2005, dos preços médios mensais recebidos pelo agricultor (boi gordo), dos preços praticados no mercado atacadista (traseiro, dianteiro e ponta de agulha de bovinos) e dos preços no âmbito do mercado varejista (cortes de carne bovina in natura) na cidade de São Paulo.

Gráfico 1 - Preços médios mensais no Estado de São Paulo, 2005

Fonte: Elaborado a partir dos dados do IEA, 2005

            As médias de preços no período foram de R$ 53,99/@ para o boi gordo, de R$ 3,48/Kg para carne bovina no atacado3 e de R$ 7,31/Kg para carne bovina no varejo4. Os preços das três categorias foram maiores em janeiro, com queda até setembro e aumento a partir de outubro para o boi gordo e o varejo. No atacado, a queda foi até julho e aumento a partir de agosto, portanto dois meses antes dos demais (gráfico 2). 


            No período considerado, a correlação entre os preços do boi gordo e da carne bovina no atacado foi de 44,4%; da carne bovina no atacado e no varejo, de 49,1%; e do boi gordo e da carne bovina no varejo, de 59,8%. Isto indica que estes produtos, apesar de fazerem parte da mesma cadeia produtiva, não têm uma alta relação, ao contrário do que seria esperado. Os preços do boi gordo e da carne no varejo, que não são contíguos na cadeia produtiva, estão mais correlacionados que os demais.

Gráfico 2 - Variação acumulada5, 2005

Fonte: Elaborado a partir dos dados do IEA, 2005

            Pelos valores apresentados no gráfico 1, pode se notar que as curvas dos preços do boi gordo, da carne bovina no atacado e da carne bovina no varejo apresentaram comportamento distinto. Isto se deve ao fato de as variáveis que influenciam seus valores agirem de maneira diferente em cada uma delas e os agentes atuantes nessas três categorias de preços não serem os mesmos, apesar de um mesmo agente poder atuar em mais de uma categoria de preço, como pode ser observado na figura 1. 


            Os coeficientes de variação (CV%) foram de 4,6% para o boi gordo, de 5,9% para o atacado e de 2,1% para o varejo. Estes CV% podem ser considerados médios para os preços do boi gordo e atacado e baixo para o varejo. 


            O preço do boi gordo (recebido pelo produtor) atingiu em 2005 a sua menor cotação histórica (desde o início do levantamento das cotações em 1954). Este fato fez com que as margens de lucro do produtor sofressem uma redução acentuada, chegando em vários casos a serem negativas. O preço do boi gordo tem sido influenciado, principalmente, pela taxa cambial e pela oferta de fêmeas para o abate. Com a denúncia de cartelização6 por parte dos frigoríficos com o objetivo de manipular os preços do boi gordo, os fatores citados teriam sua importância diminuída. 


            O preço da carne bovina no atacado tem sido influenciado, principalmente, pelo preço do boi gordo, pelo consumo e pelas exportações. Possivelmente, este último fator foi responsável pela antecipação de dois meses na reversão de tendência de queda dos preços, já que no período as expectativas eram de exportações em elevação. As projeções de aumento das exportações foram quebradas pelo surgimento, em outubro, do foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. 


            O preço da carne bovina no varejo teve a menor variação no período, pois o mercado varejista tem procurado alterar o mínimo possível os preços de seus produtos, já que os aumentos não são bem aceitos pelo consumidor. Assim, ao que parece, o varejista tem readequado suas margens de lucro para manter a estabilidade do preço da carne bovina no varejo. 


            Em dezembro, com o surgimento de novo foco de febre aftosa, a cotação do preço do boi gordo caiu consideravelmente. No atacado, ocorreu uma queda nos preços da carne bovina, porém em menor intensidade, já no varejo pesou a época de festas de final de ano. Com isso, houve aumento nos preços da carne bovina. 


            O ano de 2005 fechou com queda de 12,0% na cotação do preço do boi gordo. O preço da carne bovina no atacado apresentou menor recuo (8,7%), enquanto as cotações da carne bovina no varejo tiveram pequena elevação (0,9%).7

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1 Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF-1981/82), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da Universidade de São Paulo (FIPE/USP)
2 TSUNECHIRO, A . et al. Estimativa Preliminar do Valor da Produção Agropecuária do Estado de São Paulo em 2005, Informações Econômicas, São Paulo, v. 35, n.10, p.42-52, out. 2005
3 Para o cálculo do preço da carne bovina no atacado, adotou-se a relação de quartos da carcaça: traseiro=48%, dianteiro=38% e ponta de agulha=13%, que são os mais comumentes relatados na literatura.
4 Para o cálculo do preço da carne bovina no varejo, o IEA adota as seguintes ponderações: acém=14,9%, alcatra=7,7%, capa de filé=2,6%, contra-filé=9,0%, costela=15,0%, coxão duro=10,9%, coxão mole=10,3%, filé mignon=2,3%, lagarto=3,2%, músculo=2,6%, patinho=6,4%, peito=14,9%.
5 Variação acumulada, tendo janeiro como referência. Assim, pode se avaliar com mais clareza o comportamento dos preços no período.
6 Matéria publicada no Jornal Folha de S. Paulo, dia 27/11/2005, Caderno Dinheiro, 1a página.
7 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-002/2006.

Data de Publicação: 26/01/2006

Autor(es): Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor