Café liderou tendência de alta das commodities em janeiro

 

            Em janeiro, o café arábica apresentou reversão da tendência observada em dezembro de 2005, com fortes altas nas cotações. Dessa forma, o produto destacou-se pela maior alta no conjunto das commodities. Essa elevação foi resultado da constatação por parte dos principais agentes do mercado de que, pelo menos nos próximos três anos, a demanda ficará superior à oferta. Isto deverá reduzir drasticamente os estoques dos países tanto importadores quanto produtores.
            Nesse contexto, os preços futuros apontam para alta do produto, apoiada pelo aumento da demanda no Hemisfério Norte, que em parte reflete o rigoroso inverno que os afetam.
            Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica subiram 20,76%, em relação à cotação média de dezembro de 2005 (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou crescimento de 10,08% (igualmente para a segunda posição), devido à menor oferta dos países Asiáticos. No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve alta de 17,70% (segunda posição). O indicador OIC-Composto diário aumentou 16,90% em relação à média do índice de dezembro, puxado pela alta do arábica (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2004 a 2006

                                                            Fonte: Gazeta Mercantil

            O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque subiu para US$ 13,60 a saca, 68,11% superior à média do mês anterior. Isto pode ter sido influenciado pela desvalorização do real (6,19% em janeiro), pela maior pressão da demanda no mercado de Nova Iorque e, finalmente, pela recomposição de margens tanto dos traders nos países importadores quanto dos exportadores brasileiros.
            As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram tendência contínua de alta durante todo o mês de janeiro, com destaque para a forte elevação nos primeiros dez dias do mês (gráfico 2).

Gráfico 2 - Cotações diárias em janeiro de 2006 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
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                                                                    Fonte: Gazeta Mercantil.

            O mercado de robusta, na Bolsa de Londres, também manteve a tendência crescente, só que com menor intensidade do que aquela verificada no arábica na Bolsa de Nova Iorque. O comportamento das cotações no mercado de Londres em janeiro, segunda posição, pode ser observado no gráfico 3.

Gráfico 3 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de janeiro de 2006

                                                                Fonte: Gazeta Mercantil

            Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em janeiro, indica variação positiva acumulada de 16,99% em doze meses. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, aumentaram 17,26% no acumulado dos últimos doze meses. Por sua vez, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de 69,86%, nos últimos doze meses, enquanto a estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 27,55% no mesmo período.
            Na cafeicultura paulista, as cotações médias em janeiro do café arábica cresceram 18,74% em relação à média de dezembro de 2005, em função da forte alta nas cotações internacionais, esboçando, porém, crescimento acumulado nos últimos doze meses de apenas 4,09% (gráfico 4).

Gráfico 4 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2006

                                                            Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Balanço das exportações

            A partir da consolidação dos dados finais sobre as exportações brasileiras por tipo de produto, podem efetuar-se análises mais consistentes sobre o desempenho do comércio exterior de café brasileiro. Frente a 2004, em termos de volume embarcado, os resultados indicam relativa estabilidade dos embarques em 2005, com discreta queda de 1,34% no total, ainda que pesem os incrementos positivos observados para o conillon, o torrado e o solúvel de, respectivamente, 53,30%, 41,28% e 10,72% (tabela 1).

Tabela 1 – Desempenho das exportações brasileiras de café, 2004 e 2005

Mês/Ano
Conillon
Arábica
Torrado
Verde
Solúvel
Total
Volume (sc 60kg)
2004
719.256
22.522.594
37.120
23.278.970
3.183.956
26.462.926
2005
1.102.650
21.429.154
52.442
22.584.246
3.525.168
26.109.414
Var % 05-04
53,30
-4,85
41,28
-2,98
10,72
-1,34
Receita (US$1.000)
2004
35.092
1.692.729
6.233
1.734.055
287.783
2.021.838
2005
74.474
2.437.454
10.946
2.522.875
385.124
2.907.999
Var % 05-04
112,23
44,00
75,61
45,49
33,82
43,83
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos do CECAFE

            Em análises anteriores, chamava-se a atenção para a possibilidade de as exportações de café alcançarem o resultado de US$ 3 bilhões. Na realidade, o resultado obtido em 2005 registrou US$ 2,9 bilhões, ou seja, expansão de 43,83%, confirmando as expectativas.
            Espetacular foi o crescimento das receitas para o conillon e o torrado, com incremento de 112,23% e 75,61%, respectivamente. As receitas cambiais obtidas pelo agronegócio devem ainda manter tendência de alta, ainda que esbocem algum arrefecimento ao longo do ano, respaldado pela impossibilidade brasileira de expandir significativamente as exportações. É que os volumes disponíveis são limitados para cumprir com o abastecimento interno e honrar os contratos já celebrados.

Forte redução nos embarques

            Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE)1 apontam para expressiva redução nos embarques em janeiro de 2006. Foram exportadas 1,6 milhão de sacas, com redução de 42,2% frente a dezembro de 2005, quando as vendas externas atingiram 2,278 milhões de sacas.
            Essa redução dos embarques, associada à menor oferta por parte de outros grandes competidores internacionais, obriga o consumo de estoques estratégicos. Também sugere que a alta nas cotações até agora registrada possa perdurar para além do período em que os preços tradicionalmente são mais elevados (dezembro a março).

Mais recursos para a lavoura

            Está em apreciação no Congresso Nacional a possibilidade de se recompor o FUNCAFE, com o aporte de R$ 530 milhões ao total já previsto de R$ 1,6 bilhão. Esses recursos são destinados à execução da política cafeeira na corrente safra (equalização, custeio e comercialização). Porém, a pauta do Congresso Nacional encontra-se trancada pelo infindável surgimento de dossiês e outras denúncias.

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1CECAFE: www.cecafe.com.br
2 Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-011/2006

Data de Publicação: 08/02/2006

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor