Café: prenúncio da safra brasileira pressiona o mercado

            O início da colheita de café no Brasil, que inicia com o robusta, exerce pressão sobre o preço da commodity no mercado internacional. Com as perspectivas da safra brasileira, os torradores estão comprando aos poucos e, dado o aumento da oferta na origem, as cotações não se mantiveram. Assim, houve expressiva queda dos preços em março, apesar dos fundamentos altistas no mercado (baixos estoques dos países produtores e consumidores e oferta abaixo do consumo no ano-safra 2005/06).
            Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica caíram 5,10%, em relação à cotação média de fevereiro de 2006 (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou queda de 6,59% (igualmente para a segunda posição), devido à maior oferta dos países produtores. No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve baixa de 6,64% (segunda posição). O indicador OIC-Composto diário apresentou redução de 4,75% em relação à média do índice de fevereiro (gráfico 1).

Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2004 a 2006

                                                            Fonte: Gazeta Mercantil

            O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque cresceu para US$ 10,66 a saca, 19,51% superior à média do mês anterior, devido à maior oferta brasileira no mercado de Nova Iorque. Esse diferencial nos últimos doze meses pode ser verificado no gráfico 2.

Gráfico 2 – Cotações do café arábica, segunda posição, nos mercados de Nova York e BM&F (São Paulo), 2005-06

                                                                                Fonte: Gazeta Mercantil

            As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram forte tendência de queda nos primeiros dez dias do mês de março. Em seguida, continuaram flutuando em novo patamar (gráfico 3).

Gráfico 3 - Cotações diárias em março de 2006 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição

                                                                    Fonte: Gazeta Mercantil

            O mercado de robusta na Bolsa de Londres também manteve forte tendência de queda durante todo o mês de março. O comportamento das cotações no mercado de Londres em fevereiro, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 4.

Gráfico 4 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de março de 2006

                                                               Fonte: Gazeta Mercantil

            Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em março, indica variação positiva acumulada de 6,22% no ano de 2006 e queda de 14,10% em doze meses. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, tiveram alta de 7,77% em 2006 e queda de 16,52% no acumulado dos últimos doze meses.
            Por sua vez, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação positiva acumulada de 15,46%, nos últimos doze meses e de 0,03% em 2006. Já a estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 7,14% em 2006 e queda de 8,55% no acumulado dos últimos doze meses.
            Ao analisar o comportamento do café nos diferentes mercados internacionais no período de 2000 a 2006, verifica-se que as médias do primeiro trimestre de 2006 são superiores às médias do ano de 2005, quando as cotações tiveram forte recuperação. A comparação das médias das cotações nos vários anos de análise pode ser observada no gráfico 5.

Gráfico 5 - Cotações médias anuais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2000 a 2006

                                                                       Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Na cafeicultura paulista, as cotações médias do café arábica caíram 6,05% em março, comparado com a média de fevereiro de 2006, em função da baixa em todos os mercados internacionais. Houve, portanto, queda acumulada nos últimos doze meses de 22,58%, enquanto em 2006 observou-se alta acumulada de 4,10% (gráfico 6).

Gráfico 6 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2006

                                                            Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Ao analisar as médias anuais dos preços recebidos pelos cafeicultores paulistas de arábica no período de 2000 a 2006, verifica-se que a média do primeiro trimestre de 2006 é 2,86% inferior à de 2005, quando ocorreu forte recuperação das cotações do produto. As perdas ocorridas no primeiro trimestre de 2006 são verificadas tanto em valores nominais quanto nos preços reais deflacionados pelo Índice de Preço ao Consumidor Ampliado (IPCA) do IBGE (gráfico 7).

Gráfico 7 – Preços médios anuais do café arábica recebido pelos produtores paulista, no período de 2000 a 2006

                                                                    Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Previsão de safra: divergências surpreendem

            Em 07/04/2006, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)1, com o apoio das Secretarias Estaduais de Agricultura, divulgou os dados da segunda previsão da safra 2006/07, que atingirá 40,62 milhões de sacas. Isto representa queda de 3,32% frente à primeira previsão, quando se estimava colheita de 42,01 milhões de sacas.
            Embora o número atual apresente ligeira queda, algumas mudanças são bastante importantes para determinados estados como São Paulo. Na previsão de dezembro, estimava-se para o Estado uma área de 153 mil hectares de cafeeiros em produção. Agora, na previsão de abril, a área passou para 204 mil hectares.
            Com tamanha modificação na área cultivada, os reflexos sobre a produtividade foram igualmente monumentais. Em dezembro, previa-se produtividade média de 29 sacos por hectare e agora, em abril, esse indicador cai para 22,5 sc/ha, algo mais dentro daquilo que os especialistas do setor consideram razoável.
            Essa divergência intensifica-se ao cotejar esse aumento de área em São Paulo com as reduções em Minas (15 mil hectares) e no Espírito Santo (33 mil hectares). Estranhamente, a soma das quedas mineira e capixaba corresponde quase que exatamente ao incremento paulista. Aparentemente, o erro na estatística de área produtiva de São Paulo no dado divulgado em dezembro foi corrigido. Porém, não se sabe por qual via: lícita, com o afinamento dos cadastros, ou ilícita, com manobras internas dos números apurados.

Exportações no primeiro trimestre de 2006

            As exportações, em volume, transacionadas no primeiro trimestre de 2006 somaram 5,7 milhões de sacas, com substancial queda frente a igual período de 2005 quando o volume exportado foi de 6,9 milhões de sacas (tabela 1). Ou seja, houve redução de 1,19 milhão de sacas exportadas no período, das quais 939,6 mil somente de café arábica.
            No caso do café solúvel, a diminuição dos embarques decorre essencialmente da perda de competitividade do produto brasileiro em função da valorização do real. Em encontros com representantes do segmento do solúvel, o momento é definido como de acentuada crise, em que os clientes recorrem às indústrias brasileiras por absoluta falta de outras origens capazes de atender aos pedidos.

Tabela 1 – Volume das exportações brasileiras de café, janeiro a março de 2005 e 2006
(em sc)

Produto
Janeiro
Fevereiro
Março
2005
2006
2005
2006
2005
2006
Conilon
16.512 
27.468 
31.376 
37.454 
45.539 
38.450 
Arábica
1.980.016 
1.617.902 
1.535.331 
1.601.612 
2.448.886 
1.805.128 
Torrado
3.887 
8.128 
3.642 
3.139 
4.912 
3.465 
Subtotal
2.000.415 
1.653.498 
1.570.349 
1.642.205 
2.499.337 
1.847.043 
Solúvel
264.734 
159.764 
248.243 
168.952 
315.361 
239.628 
Total
2.265.149 
1.813.262 
1.818.592 
1.811.157 
2.814.698 
2.086.671 
Fonte: elaborado a partir de dados do CECAFE2

            O montante do saldo cambial obtido com as exportações de café, apurado no primeiro trimestre de 2006, pouco destoa do resultado de 2005, com aproximadamente US$ 688 milhões para os dois períodos (tabela 2). A valorização das cotações do produto no mercado internacional, ainda que menores volumes tenham sido embarcados, permitiu a manutenção do saldo das exportações.

Tabela 2 – Receita das exportações brasileiras de café, janeiro a março de 2005 e 2006
(em US$/sc)

Produto
Janeiro
Fevereiro
Março
2005
2006
2005
2006
2005
2006
Conilon
871 
1.953 
1.758 
3.050 
2.670 
3.266 
Arábica
181.530 
183.120 
149.747 
196.499 
268.518 
224.583 
Torrado
747 
1.441 
716 
729 
959 
801 
Subtotal
183.148 
186.515 
152.221 
200.279 
272.147 
228.650 
Solúvel
24.475 
19.912 
24.943 
21.398 
31.274 
32.455 
Total
207.623 
206.427 
177.164 
221.677 
303.420 
261.105 
Fonte: elaborado a partir de dados do CECAFE (www.cecafe.com.br)

Segmento mobilizado

            A cafeicultura ficou de fora do recente pacote de apoio aos agricultores (R$ 1,238 bilhão para comercialização e prorrogação de R$ 7,7 bilhões de empréstimos de custeio e de investimento). Todavia, as lideranças dos Conselhos Nacionais do Café e da Agricultura estão empenhadas em inserir dentro do pacote medidas que também contemplem a dívida dos cafeicultores, notadamente as de alongamento de financiamentos do FUNCAFE. As negociações estão avançando e, muito provavelmente, o governo irá também propor mais vantagens para o segmento. 2

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1 CONAB: www.conab.gov.br
2 Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-35/2006.

Data de Publicação: 12/04/2006

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor