Amendoim: perspectivas de aumento da produtividade até 2010

            A produção paulista de amendoim no ano agrícola 2005/2006 está estimada em 201 mil toneladas, 7% a menos que a da safra anterior, reflexo da queda na área plantada.1 Já a produtividade média deve alcançar 2,6 quilos por hectare, o que é maior do que a registrada na safra anterior, em torno de 2,5 kg/ha. Se esse ritmo for mantido nos próximos cincos, a produtividade poderá atingir 2,8 kg/ha, um incremento de 9%.
            Tendências de comportamento, nos próximos cinco anos, para a cultura no Estado de São Paulo, foram apontadas neste estudo, que trabalhou dados referentes a área plantada, produção e produtividade, classificados por safra (águas e seca) e por região produtora (Alta Mogiana e Alta Paulista), para o período 1985-2005. O trabalho parte de extrapolações das séries de dados para cada variável independente e de elementos que refletem a conjuntura atual das condições de mercado e de produção.2
            Iniciou-se por classificar os dados por safra e região, pois a dinâmica de produção é distinta para cada uma das condições, tanto nos aspectos comerciais quanto para os fatores de produção agrícola.
            A área plantada da safra das águas, que responde por cerca de 91% da produção paulista, é estimada em 63 mil hectares, uma redução de 15% em relação à safra 2004/05. Já a produção está prevista em 175 mil toneladas, com queda de 11% quando comparada com a safra anterior.
            As previsões para a safra da seca 2005/06 são bem diferentes, ao indicar aumento de 23,5% na área plantada e de 20,8% na produção. Esse incremento ocorre em função da perspectiva da indústria confeiteira de aumentar em 10% o consumo de produtos a base de amendoim, além dos 40% historicamente registrados no período das festas juninas3.
            O atrativo extra é o futebol, favorecido pelo horário dos jogos da copa do mundo. Assim, a indústria confeiteira preparou-se para atender a demanda com novos produtos e novas embalagens4.
            Dessa maneira, o produtor agrícola procurou acompanhar a dinâmica do mercado consumidor. Nota-se que o contexto comercial em que se insere a safra da seca é diferente do presente na safra das águas.
            A mesma dinâmica acontece com as regiões produtoras. Na Alta Mogiana, a produção agrícola é realizada em renovação de canaviais, predominando a safra das águas. Na região da Alta Paulista, a produção agrícola é, em parte, realizada em renovação de pastagens e com equilíbrio entre as duas safras, até 2003 (figura 1).

Figura 1 - Área plantada com amendoim por safra e região, Estado de São Paulo, 1985-2005

Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI)

            Em termos de plantio, não se verifica propriamente uma tendência. A previsão é de manutenção da área plantada. Com exceção da área da seca na região da Alta Paulista cujos resultados são mais significativos5, para 2010, as projeções apontam área plantada na safra da seca em torno de 8 mil hectares e na safra das águas, de 26 mil hectares. Para a região da Alta Mogiana, a safra da seca não deverá passar de 3 mil hectares, enquanto a das águas atingirá cerca de 32 mil hectares.
            Quanto à produção, também não existe uma tendência. Os dados apontam uma produção em 2010, na região da Alta Paulista, de cerca de 18 mil toneladas na safra da seca e de 41 mil toneladas na safra das águas. No caso da Alta Mogiana, a produção ficará em torno de 7 mil toneladas (safra da seca) e de 97 mil toneladas (safra das águas).
            O grande diferencial está na variável produtividade, cujos cálculos apresentam tendência positiva e significativa. Assim, em 2010, a produtividade na região da Alta Paulista, para a safra da seca, ficaria em torno de 1,8 kg por hectare e para a das águas em 2,6 kg/ha. Em 2005, os valores ficaram em 1,7 kg/ha, para a seca, e 2,6 kg/ha, para as águas. Na região da Alta Mogiana, a produtividade nas duas safras deve aumentar em 2010 para 2,4 kg/ha (safra da seca) e 2,9 kg/ha (águas) (figura 2).

Figura 2 - Evolução e tendência de produtividade para a lavoura do amendoim, por safra e região produtora, Estado de São Paulo, 1985-2010

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do IEA/CATI

            Dessa maneira, em 2010, a produtividade total paulista para a lavoura de amendoim seria incrementada em 9%, o que representaria 2,8 kg/ha em relação aos 2,5 kg/ha de 2005. Isto indica que deverão ser mantidos os contínuos incrementos na produtividade, registrados principalmente a partir do início da década de 2000, como resultado da adoção de novas tecnologias na produção agrícola (colheita mecanizada e cultivares mais produtivos).
            O estudo permitiu observar que, atualmente, o monitoramento da dinâmica dos mercados interno e externo e do posicionamento da indústria confeiteira, bem como das mudanças institucionais que vêm ocorrendo nos últimos anos, tem ditado o comportamento da produção na cultura do amendoim. Assim, a análise das séries de dados das variáveis colaborou para o entendimento da movimentação da produção e da atividade.
            O destaque fica por conta das ações que buscam promover a qualidade do produto, como a secagem artificial introduzida no beneficiamento, o Pró-amendoim e o selo de qualidade ABICAB. Tais ações visam garantir alimentos seguros à base de amendoim, bem como expandir o mercado, cujo consumo interno per capita registrou aumento, no último ano, de 23%, de 650 gramas em 2004 para 800 gramas. Também houve acréscimo de 50% nas exportações desses produtos4, o mesmo ocorrendo com as vendas externas do amendoim em grão e em casca, cujo principal destino é a Europa.
            Por fim, é importante considerar o acompanhamento da evolução das culturas concorrentes, como a soja e a cana-de-açúcar (cultura principal). Esta tem avançado, nos últimos anos, para o oeste paulista e pode-se observar mudanças na produção da região da Alta Paulista, com a redução gradativa da área destinada à safra da seca, principalmente a partir de 2003 (figura 1) e maior ênfase na safra das águas, que ocorre no período de renovação dos canaviais, indicando tendência para uma dinâmica produtiva como a que ocorre na região da Alta Mogiana.6

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1 Segundo as previsões e estimativas das safras agrícolas, Estado de São Paulo, ano agrícola 2005/06, 3o levantamento, fevereiro de 2006. Instituto de Economia Agrícola (IEA), online www.iea.sp.gov.br
2 Conforme Castro et al. (1995), a visão prospectiva pode ser implementada com base em ferramentas e premissas: o futuro é parecido com o passado (técnicas de previsão ou métodos extrapolativos) e o futuro pode ser diferente do passado (técnicas exploratórias, como cenários, análise morfológica e método Delphi).
3 Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados www.abicab.org.br.
4 Vai Balançar a Rede. Copa será o motor de giro recorde previsto para doces e salgadinhos à base de amendoim. Doce Revista, edição de abril de 2006. online: www.docerevista.com.br
5 Resultados obtidos a partir de regressões lineares
6 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-65/2006.

Data de Publicação: 14/06/2006

Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor