Amendoim: perspectivas para a safra 2006/07

            A produção brasileira de amendoim na safra 2005/06 está estimada em 267,6 mil toneladas, uma redução de cerca de 11% em relação à safra anterior. A área diminuiu um pouco mais (13%), ficando em torno de 113,1 mil hectares1. O Estado de São Paulo respondeu por cerca de 80% da produção nacional na safra 2005/06.
            O destaque paulista foi a safra das águas que, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA)2, produziu 181,3 mil toneladas, uma redução de 8% em relação à safra 2004/05, em uma área de 65,4 mil hectares (11% menor). Já na segunda safra (da seca), foram produzidas 26,6 mil toneladas, com aumento de 30%, numa área de 11,6 mil hectares (25% a mais) 3.
            Essa situação pode ser explicada pelo aumento da demanda na indústria confeiteira, motivada pelas festas juninas e pelo incremento na oferta de produtos em forma de aperitivo em virtude dos jogos da copa do mundo de futebol, tendo em vista as expectativas de aumento de 10% no consumo, em relação a 2005, anunciadas pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (ABICAB)4. Dessa forma, o produtor respondeu ao estímulo da demanda e aumentou a produção da safra da seca.
            Por outro lado, quando do plantio da safra das águas 2005/06, em grande parte realizada nas áreas de renovação de canaviais, as condições de mercado estavam favoráveis à cana. Dessa forma, foi mantida parte dos canaviais, além da concorrência com outras culturas como a soja. O resultado foi a redução de área disponível para as lavouras de amendoim e por conseqüência no volume produzido.
            Apesar da redução nos níveis de oferta, os preços do amendoim em casca, segundo o IEA, não sofreram grandes alterações quando comparados aos praticados em 2005 (figura 1).

Figura 1 - Preços Médios Recebidos pelos Produtores de Amendoim, Estado de São Paulo

Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA)

            O diferencial ficou para o grão de película vermelha (cultivares eretos) mais consumido no mercado interno, que segundo informações de beneficiadores das duas regiões produtoras (Alta Mogiana e Alta Paulista), atingiu valores entre R$ 25,00 e R$ 28,00 o saco de 25 kg, por conta da alta procura e baixa oferta. De certa maneira, foi priorizada a produção do grão de película castanha (cultivares rasteiros) de padrão tipo exportação para suprir os contratos de vendas externas, que são firmados com seis meses a um ano de antecedência, principalmente quando o destino é o continente europeu (figura 2).

Figura 2 - Exportações Paulistas de Amendoim Descascado, Volume e Valores (*)


Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento Econômico (SECEX/MDIC)
(*) Considerado o acumulado de janeiro a setembro para cada ano no período 2004-2006

            Assim, mesmo com a valorização cambial, nota-se incremento no volume exportado. Em 2006, o amendoim descascado, uma das principais mercadorias do segmento exportada pelo Estado de São Paulo, registrou aumento de 12% quando comparado com o ano anterior. Em relação aos valores obtidos na exportação, o acumulado em janeiro-setembro apresenta redução de cerca de 3% na comparação com igual período de 2005.
            Em linhas gerais, o segmento do amendoim no Estado de São Paulo encontra-se estável. Porém os meses de julho, agosto e setembro deste ano registram, juntos, US$ (FOB) 559 mil em importações de amendoim descascado. Isto porque a indústria confeiteira paulista vem sendo em parte suprida do produto por essa forma de grão in natura e, por outro lado, porque as exportações vêm sendo mantidas.
            Para o produtor de amendoim, um dos aspectos importantes a ser observado é o custo de produção que varia conforme a variedade plantada. Para as rasteiras com maior ciclo de produção e mais intensivas em tratos culturais, é estimado um custo operacional total5 por hectare em torno de R$ 2.660,00 (área própria) e de R$ 2.710,00 (área arrendada). Para as variedades eretas, R$ 2.320,00 em área própria e R$ 2.430,00 em arrendada.
            Os itens de maior peso no custo de produção são os defensivos e as operações de máquinas, que juntos representam de 37% a 53% do total. Os defensivos variam de 23% a 27% do custo total de produção e, para as operações de máquinas, esse percentual vai de 14% a 26%. Tal dinâmica está condicionada ao preço do petróleo no mercado internacional, que avançou mais que a queda do dólar, o que encareceu custos6.
            Dessa forma, as operações mecânicas bem como os insumos petroquímicos ficaram mais caros6. Por outro lado, a maioria dos preços dos defensivos agrícolas caiu em agosto de 2006, quando comparados a agosto de 2005. Isto foi ocasionado principalmente pela retração da demanda, queda do dólar e adoção de novas tecnologias, mostrando assim, de certa forma, uma situação mais favorável ao produtor7.
            A partir desse contexto, torna-se de grande importância a avaliação de cada operação da produção agrícola. Por exemplo, as operações para aplicação de defensivos no caso do amendoim paulista podem custar em média5 R$ 78,00 por hectare. Aqui devem ser consideradas as variações de preços, de acordo com os defensivos aplicados e o maquinário utilizado nas operações.
            As expectativas para a safra das águas 2006/07 apontam para um possível aumento na área plantada e também no volume produzido; isto considerando as condições dos estoques de passagem, que estão menores que no ano anterior. Por outro lado, há que se considerar as condições favoráveis para a cana-de-açúcar, que em média pode alcançar 145 quilos de Açúcar Total Rentável (ATR), ou seja, 1,41% a mais que na safra 2005/06, a um preço estimado em R$ 55,00 por tonelada8 de cana.
            Isto implica na possibilidade de parte dos canaviais não ser renovada e dessa forma a área para produção de amendoim não estar disponível. A região da Alta Mogiana, a maior produtora paulista da safra das águas, tem na renovação de canaviais espaço para o amendoim. A presente situação é semelhante na região da Alta Paulista, tendo em vista o avanço da cultura da cana para o oeste do estado.9

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1 CONAB: www.conab.gov.br
2 Previsão de Safras IEA/CATI, 4º levantamento, abril de 2006
3 Previsão de Safras IEA/CATI, 5º levantamento, junho de 2006
4 Vai balançar a rede, Copa será o motor de giro recorde previsto para doces e salgadinhos à base de amendoim, Doce Revista, abril de 2006. (www.docerevista.com.br)
5 Calculado com base na metodologia de custo desenvolvida pelo IEA, a partir de coeficientes técnicos fornecidos pela Cooperativa dos Plantadores de Cana de Guariba (COPLANA)
6 GONÇALVES, J. S. Agropecuária Brasileira: determinantes do futuro para além da crise. In: Análise e Indicadores do Agronegócio, v.1, n.9, setembro/2006. Disponível em www.iea.sp.gov.br
7 FERREIRA, C.R.R.P.T. et al. Defensivos Agrícolas em Queda. In: Análise e Indicadores do Agronegócio, v.1,n.10, outubro, 2006. Disponível em www.iea.sp.gov.br
8 SACH, R. C.C. Preços Recebidos pela Cana-de-açúcar e Perspectivas para a Safra 2006/07. In: Análise e Indicadores do Agronegócio, v.1, n 9, setembro/2006. Disponível em www.iea.sp.gov.br
9 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-108/2006.

Data de Publicação: 26/10/2006

Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor