Máquinas agrícolas automotrizes: represamento dos negócios já faz parte do passado

            No primeiro trimestre de 2007, o mercado de máquinas agrícolas automotrizes apresentou forte recuperação das vendas para o mercado interno, com expansão de 24,3% no período janeiro a março de 2007 frente à igual período do ano anterior. No trimestre foram comercializadas 7.228 máquinas agrícolas, representando incremento de 1.413 novos equipamentos junto ao mercado. Em 2006, foram produzidas 46.069 máquinas, com declínio de 12,9% frente a 2005, quando 52.871 máquinas foram produzidas no País (Tabela 1).
            Pela primeira vez na história do setor, as colhedoras foram os ícones dessa recuperação ao exibir taxa de 57,5% no aumento do volume comercializado no mercado interno. O forte represamento das vendas ao longo das três últimas safras, decorrente do declínio das cotações das principais commodities negociadas em bolsas de valores, associado ao elevado custo unitário desses equipamentos, fez desabar as vendas a partir de 2004. Essa tendência é finalmente revertida pelo desempenho das vendas para o mercado interno no primeiro trimestre de 2007, pois se patenteia uma reversão na propensão dos agricultores em investir em suas explorações agropecuárias. As 622 colhedoras comercializadas em 2007 permitem inferir que esse mercado voltará a patamares de negócios no mercado interno da ordem dos 2.000 equipamentos, ou seja, avanço em direção à normalidade da demanda desse mercado.
            Os tratores de rodas, maior item de vendas internas em volume de equipamento, apresentaram crescimento de 31,1% no primeiro trimestre do ano, com comercialização no mercado interno de 5.704 equipamentos. Considerando a sazonalidade de demanda de tratores de rodas, com concentração de vendas no segundo semestre, possivelmente esse mercado feche o ano com a colocação de 30 mil novos tratores.
            A problemática macroeconômica da apreciação cambial agiu em sentido contrário, deprimindo a demanda por máquinas agrícolas brasileiras pelos importadores internacionais, pois as exportações foram duramente afetadas pelo real valorizado. Nos tratores de rodas, as exportações declinaram 10% no primeiro trimestre, se somada à queda de 31% observada em 2006. O mercado de colhedoras, ainda mais dependente das transações com o exterior, notadamente para os países do MERCOSUL, exibiu queda nos embarques de 22% no primeiro trimestre. Somente os produtos com maior sofisticação tecnológica (componentes eletrônicos, conexão com sistemas de georeferenciamento, entre outras inovações) conseguiram manter volume de embarques satisfatórios.
            O pessoal ocupado nas montadoras manteve-se estável no período, evidenciando o tratamento conjuntural que as empresas deram ao declínio nas vendas, pois não houve movimento de desligamentos proporcional ao encolhimento dos negócios.
            O resultado das exportações no ano se manterá próximo dos US$2 bilhões, ou seja, similar ao melhor resultado apurado pelo setor (ocorrido em 2006), confirmando a hipótese de que os produtos exportados possuem maior intensidade tecnológica e, em razão disso, um valor agregado maior.


Tabela 1 - Produção, Vendas e Exportação de Máquinas Agrícolas Automotrizes, Brasil, 2005 e 2006 e Janeiro a Março de 2006 e 2007

Item

 

Unidade


 

2005

(a)

2006

(b)

Janeiro a março
Var. %

(b/a-1)*100


 

Var. % 

(c/d-1)*100


 

2006

(c)

2007 

(d)

Tratores de rodas              
Produção
u.
40.871 
35.589 
7.993 
9.185 
-12,9
14,9
Vendas no mercado interno
u.
17.729 
20.435 
4.350 
5.704 
15,3
31,1
Nacionais
u.
17.543 
20.134 
4.296 
5.676 
14,8
32,1
Importados
u.
186 
301 
54 
28 
61,8
-48,1
Exportação
u.
23.968 
16.524 
3.682 
3.313 
-31,1
-10,0
Total das vendas
u.
41.697 
36.959 
8.032 
9.017 
-11,4
12,3
Colhedoras              
Produção
u.
4.229 
2.315 
1.108 
1.193 
-45,3
7,7
Vendas no mercado interno
u.
1.534 
1.030 
395 
622 
-32,9
57,5
Nacionais
u.
1.533 
1.030 
395 
618 
-32,8
56,5
Importados
u.
-
0,0
Exportação
u.
3.001 
1.867 
842 
660 
-37,8
-21,6
Total das vendas
u.
4.535 
2.897 
1.237 
1.282 
-36,1
3,6
Cultivadores motorizados              
Produção
u.
2.183 
1.940 
562 
421 
-11,1
-25,1
Vendas no mercado interno
u.
2.141 
1.857 
533 
406 
-13,3
-23,8
Nacionais
u.
2.141 
1.857 
533 
406 
-13,3
-23,8
Importados
u.
Exportação
u.
34 
46 
16 
35,3
128,6
Total das vendas
u.
2.175 
1.903 
540 
422 
-12,5
-21,9
Tratores de esteiras              
Produção
u.
2.681 
2.781 
661 
655 
3,7
-0,9
Vendas no mercado interno
u.
408 
300 
50 
63 
-26,5
26,0
Nacionais
u.
408 
300 
50 
63 
-26,5
26,0
Importados
u.
Exportação
u.
2.202 
2.593 
579 
566 
17,8
-2,2
Total das vendas
u.
2.610 
2.893 
629 
629 
10,8
0,0
Retroescavadoras              
Produção
u.
2.907 
3.444 
943 
744 
18,5
-21,1
Vendas no mercado interno
u.
1.410 
2.050 
487 
433 
45,4
-11,1
Nacionais
u.
1.410 
2.050 
487 
433 
45,4
-11,1
Importados
u.
 
Exportação
u.
1.473 
1.399 
367 
307 
-5,0
-16,3
Total das vendas
u.
2.883 
3.449 
854 
740 
19,6
-13,3
Máquinas agrícolas (total)              
Produção
u.
52.871 
46.069 
11.267 
12.198 
-12,9
8,3
Vendas no mercado interno
u.
23.222 
25.672 
5.815 
7.228 
10,6
24,3
Nacionais
u.
23.035 
25.371 
5.761 
7.196 
10,1
24,9
Importados
u.
187 
301 
54 
32 
61,0
-40,7
Exportação
u.
30.678 
22.429 
5.477 
4.862 
-26,9
-11,2
Total das vendas
u.
53.900 
48.101 
11.292 
12.090 
-10,8
7,1
Emprego1
pessoas
13.202 
13.136 
13.423 
13.448 
-0,5
0,2
Receita cambial
US$
2.048.548 
2.106.777 
544.154 
526.454 
2,8
-3,3

1Emprego refere-se ao mês de março.


            As vendas mensais de máquinas agrícolas automotrizes que exibiam tendência de desaceleração desde meados de 2004, desconsiderando-se, obviamente, os desvios sazonais característicos desse setor, voltam a crescer nesse início de 2007, pois as venda para o mercado interno mostram vigorosa recuperação, sinalizando que o mercado deverá encontrar novo patamar de suporte para as vendas mensais, com comercialização de 4.000 máquinas ao mês (Figura 1).

Figura 1 - Vendas Mensais de Máquinas Agrícolas Automotrizes no Mercado Interno, Brasil, Janeiro de 2001 a Março de 2007. 

Fonte: ANFAVEA (nov.2006).


A distribuição das vendas por classe de potência indica o avanço da participação das máquinas mais robustas até 2004 (Figura 2). Os tratores de rodas com potência entre 100 e 199cv já exibiram volume de vendas similar às observadas para os tratores de 50 a 99cv, como nos anos de 2003 e 2004. O ciclo de queda nas cotações das commodities, safras 2004/05 e 2005/06, somente não completamente superado devido à apreciação cambial, atuou com maior intensidade sobre os produtores empresariais, demandantes desses equipamentos mais pesados, derrubando suas vendas para patamares similares àqueles observados antes mesmo da existência do programa do MODERFROTA, lançado no segundo semestre de 1999.


Figura 2 - Vendas no Mercado Interno de Tratores de Rodas, por Potência, Brasil, 1999-2006.

Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA).


            A despeito de grande endividamento existente no setor agropecuário, a mudança de cenário, a partir do grande interesse mundial despertado pelos chamados biocombustíveis, parece engendrar um novo ciclo de investimento na produção agrícola brasileira. Esse interesse alcança produtores rurais e governos de outros países, ávidos pelas oportunidades de negócios suscitadas pelas questões relativas ao aquecimento global. Associado a esse fenômeno, a existência de política governamental de financiamento subsidiado para a aquisição de máquinas agrícolas (MODERFROTA) poderá permitir uma rápida recomposição e/ou expansão da frota com importantes desdobramentos na competitividade e lucratividade dos produtores.
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1Dados disponíveis em: <www.anfavea.com.br>.
Palavras-chave: mercado de máquinas agrícolas, venda de máquinas agrícolas.

Data de Publicação: 26/04/2007

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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