MERCADO DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS AUTOMOTRIZES: alta dos suprimentos estratégicos

            No período de janeiro a maio de 2008, o mercado de máquinas agrícolas automotrizes apresentou acentuada recuperação das vendas para o mercado interno, com expansão de 52,8% frente à igual período do ano anterior. Nesse período foram produzidas 32.538 máquinas, representando incremento de 9.535 novos equipamentos ofertados ao mercado comparativamente ao total disponibilizado no mesmo período de 2007, quando foram produzidas apenas 23.003 unidades. Quanto às exportações, apesar da intensa valorização cambial, houve importante recuperação nas transações com alta entre janeiro e maio de 33,2%. Ao término do ano, espera-se que tenham sido produzidas mais de 70 mil máquinas, montante que será recorde na história do segmento. Tal desempenho confirma a hipótese de que a indústria de máquinas agrícolas brasileira alcançou patamar de maturidade tecnológica e integração de processos capazes de manter sua competitividade internacional mesmo sob ambientes de negócios sumamente desfavoráveis (Tabela 1).

            Em termos relativos, o ramo de montagem das colhedoras liderou essa recuperação, ao exibir variação de 116,6% na quantidade comercializada no mercado interno entre janeiro e maio de 2008. A escalada de preços das principais commodities, registrada nas bolsas, induziu aos agricultores a efetuarem a aquisição desses equipamentos, mesmo considerando os seus elevados custos unitários. Entre janeiro e maio de 2008, as 1.830 colhedoras de grãos comercializadas no mercado interno permitem que se estime que esse mercado voltará a patamares de negócios da ordem das 3.000 máquinas, montante de vendas considerado ideal para as dimensões do agronegócio brasileiro. Também houve forte elevação nas exportações de colhedoras, com crescimento de 75,3% frente à igual período do ano anterior.

            Os tratores de rodas, maior item de vendas internas em unidades de equipamentos, apresentaram crescimento de 47,5% nos cinco primeiros meses do ano, com comercialização de 24.940 máquinas. Em 2007, o Estado de São Paulo absorveu aproximadamente a terça parte das vendas realizadas no mercado interno. Considerando que a sazonalidade de demanda de tratores de rodas concentra suas vendas no segundo semestre, possivelmente esse mercado feche o ano com a colocação de mais de 50 mil novos tratores no ano. Novamente se registra importante crescimento das exportações com 8.876 unidades embarcadas no período (aumento de 34,9%).

Tabela 1 - Produção, Vendas e Exportação de Máquinas Agrícolas Automotrizes, Brasil, 2005, 2006 e 2007 e Janeiro a Maio de 2007 e 2008
(em unidade)


Item

 

2005

(a)

2006

(b)

2007

(c)

Janeiro a maio 
(c)/(b) (%) 
(d)/(e) (%) 
2007 

(d)

2008 (e)
Tratores de rodas
Produção
40.871 
35.586 
50.719 
17.805 
24.940 
42,5
40,1
Vendas no mercado interno
17.729 
20.435 
31.300 
10.782 
15.903 
53,2
47,5
Nacionais
17.543 
20.141 
30.691 
10.737 
15.364 
52,4
43,1
Importados
186 
294 
609 
45 
539 
107,1
1097,8
Exportação
23.968 
16.532 
20.068 
6.580 
8.876 
21,4
34,9
Total das vendas
41.697 
36.967 
51.368 
17.362 
24.779 
39,0
42,7
Colhedoras
Produção
4.229 
2.314 
5.148 
1.799 
3.433 
122,5
90,8
Vendas no mercado interno
1.534 
1.030 
2.377 
845 
1.830 
130,8
116,6
Nacionais
1.533 
1.030 
2.347 
836 
1.759 
127,9
110,4
Importados
30 
71 
688,9
Exportação
3.001 
1.867 
2.783 
1.010 
1.771 
49,1
75,3
Total das vendas
4.535 
2.897 
5.160 
1.855 
3.601 
78,1
94,1
Cultivadores Motorizados
Produção
2.183 
1.940 
1.722 
747 
700
-11,2
-6,3
Vendas no mercado interno
2.141 
1.857 
1.548 
713 
741 
-16,6
3,9
Nacionais
2.141 
1.857 
1.548 
713 
741 
-16,6
3,9
Importados
Exportação
34 
46 
129 
42 
180,4
-83,3
Total das vendas
2.175 
1.903 
1.677 
755 
748 
-11,9
-0,9
Tratores de esteiras
Produção
2.681 
2.781 
3.347 
1.297 
1.445 
20,4
11,4
Vendas no mercado interno
408 
300 
437 
141 
233 
45,7
65,2
Nacionais
408 
300 
427 
140 
225 
42,3
60,7
Importados
10 
700,0
Exportação
2.202 
2.593 
2.929 
1.130 
1.210 
13,0
7,1
Total das vendas
2.610 
2.893 
3.366 
1.271 
1.443 
16,3
13,5
Retroescavadoras
Produção
2.907 
3.444 
4.067 
1.355 
2.020 
18,1
49,1
Vendas no mercado interno
1.410 
2.050 
2.675 
806 
1.598 
30,5
98,3
Nacionais
1.410 
2.050 
2.675 
806 
1.598 
30,5
98,3
Importados
Exportação
1.473 
1.399 
1.339 
495 
462 
-4,3
-6,7
Total das vendas
2.883 
3.449 
4.014 
1.301 
2.060 
16,4
58,3
Máquinas agrícolas (total)
Produção
52.871 
46.065 
65.003 
23.003 
32.538 
41,1
41,5
Vendas no mercado interno
23.222 
25.672 
38.337 
13.287 
20.305 
49,3
52,8
Nacionais
23.035 
25.378 
37.688 
13.232 
19.687 
48,5
48,8
Importados
187 
294 
649 
55 
618 
120,7
1023,6
Exportação
30.678 
22.437 
27.248 
9.257 
12.326 
21,4
33,2
Total das vendas
53.900 
48.109 
65.585 
22.544 
32.631 
36,3
44,7
Emprego 
pessoas
13.202 
13.107 
16.064 
14.1951
17.1481
22,6
20,8
Receita cambial
US$1.000 
2.085 
2.041 
2.579 
971 
1.205 
26,4
24,1

1 O emprego se refere ao mês de maio do ano correspondente.

Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA).

            Os demais tipos de equipamentos produzidos e comercializados pelo setor exibiram comportamentos díspares. Enquanto os cultivadores motorizados apresentaram declínio na produção, os tratores de esteiras e retroescavadoras apresentaram variação da produção e vendas positivas e de dois dígitos. Estes dois últimos equipamentos, mais vinculados aos segmentos responsáveis pela construção e manutenção da infra-estrutura do País, beneficiam-se das ações previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da inversão privada que se aproveita da maré favorável em que navega a economia brasileira.

            Em 2007, o pessoal empregado nas montadoras já exibia crescimento relevante no montante de trabalhadores ocupados no segmento, passando nos primeiros cinco meses do ano a acelerar ainda mais o ritmo das contratações como número de funcionários expandindo-se em 20,8%. Finalmente, o resultado cambial das exportações no ano poderá ultrapassar os US$3 bilhões, com crescimento superior a 20% ao contabilizado em 2007 e confirmando o segmento como um dos mais dinâmicos da economia brasileira na capacidade em agregar valor à pauta de exportações.

            Segundo a ANFAVEA, o preço do aço perfaz cerca de 20% do custo de produção de um veículo de passeio. Os montadores de máquinas agrícolas estimam esse percentual em 15% do custo final do equipamento, tratando-se possivelmente do item de maior peso na pauta de suprimento das montadoras1. É em razão dessa característica, que um aumento nos preços do aço reflete imediatamente nos preços das máquinas. Entre 1999 e 2008 a elevação no preço do ferro, aço e derivados alcançou 527%, com significativo repique no último trimestre. Diante de tal majoração de preços, as montadoras de máquinas agrícolas vêem-se obrigadas a repassar aos clientes finais os aumentos dos custos de fabricação. Mesmo exibindo correlação acima de 99% entre os índices, o aumento acumulado desde o início do Plano Real somou 400% no segmento. Um descolamento das curvas passa a ocorrer a partir de janeiro de 2005 com relativa estabilização no índice de máquinas daí em diante, evidenciando que as montadoras não somente conseguiram melhorar sua produtividade, como também absorveram parte do aumento do custo do aço2 (Figura 1).

            Com a implantação do Moderfrota (Modernização da Frota de Máquinas e Equipamentos Agrícola), ao início de 2000, o segmento de máquinas agrícolas automotrizes robusteceu-se, e esse esquema de equalização dos juros com suporte do tesouro tornou a política mais favorável para a aquisição de tratores e demais máquinas3. O aumento da produção e vendas propiciou a renovação de mais de um terço da frota de máquinas agrícolas do País além de conferir maior conteúdo tecnológico para os equipamentos. Por ambos os fatos, o segmento é, na atualidade, uma relevante indústria para o País. No momento atual, todavia, o segmento carece de ações que harmonizem seus interesses visando construir mútuas vantagens (fornecedores, montadoras, governo e produtores rurais). Ao governo federal compete o arrojo necessário no sentido de desonerar as importações de aço para que se estabeleça maior competitividade no mercado interno e se contenha a majoração dos principais suprimentos da indústria de máquinas em momento que o problema inflacionário volta a rondar não só a economia brasileira, mas como todo o restante do mundo.

Figura 1 – Evolução dos Índices1 de Preços do Ferro, Aço e Derivados, e dos Preços das Máquinas Agrícolas, 1999 a Maio de 2008.

1Agosto de 1994 = base 100.
 

Fonte: CONJUNTURA ECONÔMICA. Rio de Janeiro: FGV (1999 a 2008 vários números).

A comercialização de tratores de rodas no mercado interno exibiu, entre 1999 e 2004, importante crescimento na participação da classe de potência mais elevada nas vendas totais (de 100cv a 199cv)4. Porém entre 2005 e 2006, a baixa rentabilidade das principais culturas registrada no período imprimiu forte recuo das vendas nas classes mais elevadas de potência para novamente serem retomadas a partir de 2007 (Figura 2). Na atualidade, com a necessidade de incrementar substancialmente a oferta de alimentos a custo competitivo, nada mais indicado que a introdução de tratores mais potentes, capazes de executar em menor tempo uma maior variedade de serviços agrícolas com custos muito inferiores, quando comparados com os tratores de menor potência.

Figura 2 - Vendas no Mercado Interno de Tratores de Rodas, por Potência, Brasil, 1999-2007. 

Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA).

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1SOBCZAK, A. Intercâmbio de oportunidades. Revista do Agronegócio, p. 53, jun. 2008.
2Os pneus, produto diretamente derivado do petróleo, também contribuiu para o aumento do custo de produção das máquinas agrícolas automotrizes, entretanto, tal incremento de preços foi relativamente mitigado pela valorização do real, que propiciou a importação desses componentes a menores custos. (SOBCZAK, 2008, p. 54).
3Recentemente, o Governo do Estado de São Paulo criou um programa para a aquisição de máquinas agrícolas automotrizes ainda mais vantajoso do ponto de vista do comprador uma vez que não há a incidência de juros nos contratos.
4MELO, B. Frota Turbinada. Panorama Rural. Revista do Agronegócio, p. 40, jun. 2008.

Palavras-chave: mercado de máquinas agrícolas automotrizes, Moderfrota.

Data de Publicação: 17/07/2008

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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