Cafeicultura Paulista e Ocupação de Mão de Obra em 2011

            Apresentar e analisar as estimativas da ocupação de mão de obra na cultura do café nas diferentes regiões produtoras do Estado de São Paulo em 2011 é o objetivo deste artigo. A metodologia para obtenção das informações baseou-se em desenho de amostra probabilística estratificada dos informantes listados no Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária 2007/082 que declararam explorar lavoura de café.
 

            A produção paulista de café arábica colhida em 2011 foi estimada em 3.315.827 sacas de café beneficiado, de acordo com o levantamento realizado em agosto de 20113, montante aquém das 3.475.073 sacas contabilizadas na estimativa obtida em abril deste ano4. A quebra na quantidade colhida no Estado de São Paulo foi de 4,6%. A diminuição na quantidade colhida decorre fundamentalmente devido ao veranico ocorrido entre janeiro e fevereiro de 2011 na Alta Mogiana de Franca e na região de Dracena (Alta Paulista)5, somada a bienalidade da cultura que neste ano é considerada ruim. A produtividade estimada das lavouras paulistas alcançou a média de 20,2 sc/ha ante a anterior, colhida em 2010, de 27,8 sc/ha, ratificando que a corrente safra pertence a um ciclo de baixa.
 

            Conforme relatos de cafeicultores, a safra deste ano foi afetada pelas condições climáticas de 2010, que provocaram precocidade na maturação do café e consequentemente antecipação de colheita. Normalmente, a quase totalidade da colheita termina no fim de agosto, mas, desta vez, muitos produtores encerraram o trabalho no fim de junho. Com a colheita uniformizada, quase houve déficit de trabalhadores braçais. Não faltou mão de obra onde a colheita mecanizada foi empregada, pois cada máquina substitui 100 homens. Assim como ocorre na cana-de-açúcar, no café a mecanização é prática crescente6. Os novos plantios apresentam estande médio de 3.400 pl/ha, sendo que esta densidade indica que os cafezais estão sendo conduzidos visando a colheita mecânica, alta produtividade e qualidade. Considerando o parque cafeeiro paulista como um todo, foram contabilizadas 517,47 milhões de covas em agosto de 2011, com crescimento de 0,9% frente ao levantamento de abril. A tendência de revigoramento do parque produtivo paulista continua e tal fenômeno contribui para que a lavoura permaneça como uma das mais relevantes no Estado (R$1,47 bilhão – quinto lugar do ranking paulista).
 

            Diante deste desempenho produtivo, o total de pessoas ocupadas (exceto volantes) na cafeicultura paulista em abril e em agosto de 2011 foi de 51.497 pessoas e 48.155 pessoas, respectivamente. A categoria de trabalho proprietário e familiares (residentes e não residentes nas UPAs) predominou nos dois levantamentos com 24.799 pessoas (48,2%) em abril e 21.834 pessoas (45,3%) em agosto. Assalariado (residentes e não residentes nas UPAs) foi a segunda categoria que mais tem ocupado mão de obra na cafeicultura, com 20.732 pessoas (40,3%) e 20.999 pessoas (43,6%) em abril e em agosto, respectivamente As categorias arrendatários e parceiros e seus familiares (residentes e não residentes nas UPAS) ocuparam cerca de cinco mil pessoas (Tabela 1).
 

            O trabalho volante foi estimado em dias/homem, ou seja, dias de serviços realizados pela categoria e totalizou no levantamento de abril, para o Estado, 1.424.398 dias/homem, ocupados, principalmente, nas operações de esparramação, arruação e limpeza do carreador. Em agosto foram ocupados no Estado 1.028.615 dias/homem sendo utilizados, principalmente, nas operações de final de colheita (Tabela 2).
 

            Na Alta Mogiana de Franca estimou-se em agosto colheita de 909.863 sacas de café beneficiado e área total de 57,2 mil ha. Do total de áreas em formação no Estado, 35,0% encontra-se na região de Franca. A densidade de cultivo, média estimada para as áreas em formação foi de 4.000 pl/ha, ou seja, 500 pl/ha acima da média do Estado das áreas congêneres e 1.100 plantas/ha, além da média da área em produção paulista. O padrão empresarial com que as lavouras são habitualmente conduzidas, associado ao dinamismo das instituições regionais (cooperativa, sistema financeiro, extensão rural/pesquisa) permite prever que a oferta paulista tende à concentração nesse polo produtor.
 

            Na ocupação de mão de obra por categoria de trabalho, residente e não residente na propriedade, esta região foi a segunda no Estado em 2011 com total de 10.106 pessoas em abril (19,6%) e 10.520 pessoas em agosto (21,8%). Contudo, a categoria assalariado (residente e não residente na propriedade na UPA) ocupa mais da metade do total de pessoas, ou seja, acima de 5 mil pessoas. Ao se ordenar a ocupação da categoria volante, esta região ocupa o quarto lugar. Esses informes corroboram com a mudança tecnológica que esta sendo empregada na região.
 

            Na Mantiqueira de São João da Boa Vista a produção foi estimada em 1.029.096 sacas beneficiadas em agosto de 2011, valor que faz da região o principal polo produtor de café nessa safra. A condição de montanha confere a essa cafeicultura menor amplitude do ciclo bienal e portanto a manutenção de produtividade média elevada, que foi de 24,4 sacas/ha nesta safra, além de tornar o ciclo de maturação dos frutos mais lento, com a consequente realização da colheita manual de forma predominante. Esta região possui a maior participação no total ocupado no Estado com 11.882 (23,1%) pessoas em abril e 11.456 (23,8%) pessoas em agosto com destaque para as categorias proprietário, arrendatário e parceiro (residente e não residente nas UPAs). Devido à sua topografia ondulada a região ocupou em abril 431.7 mil dias/homem (30,3%) e em agosto 336.6 mil dias/homem (32,7%) no Estado, ou seja, é a região que mais emprega a categoria volante.
 
 

Tabela 1 - Estimativa da População Trabalhadora Residente e Não Residente nas Unidades Produtivas de Café, por Categoria e por Região Cafeeira, Estado de São Paulo, Abril e Agosto de 2011

Abril

Região

Proprietário e familiares

Arrendatário, parceiro e familiares

Assalariado 

Residente

Não residente

Total

Residente

Não residente

Total

Residente

Não 
Residente1

Total

Total 
regional 

Participação
regional (%)

Franca

1.189 

2.499 

3.688 

173 

592

765 

3.046 

2.607 

5.654 

10.106 

19,6

São João da Boa Vista

2.614 

2.129 

4.743 

990 

616

1.606 

3.579 

1.953 

5.532 

11.882 

23,1

Bragança Paulista

2.386 

1.072 

3.458 

357 

189

545 

760 

225 

984 

4.988 

9,7

Avaré e Ourinhos

1.682 

1.048 

2.729 

126 

25

151 

1.019 

736 

1.755 

4.635 

9,0

Marília

476 

412 

888 

101

101 

1.526 

593 

2.119 

3.108 

6,0

Dracena e Tupã

1.641 

1.877 

3.518 

634 

-

634

216 

166 

382 

4.534 

8,8

Araraquara, Botucatu, Campinas, Jaú,

Limeira, Mogi-Mirim e Ribeirão Preto

1.268 

421 

1.689 

489 

802

1.291 

1.850 

514 

2.364 

5.344 

10,4

Outros EDRs

3.354 

732 

4.086 

167 

706

873 

726 

1.216 

1.941 

6.900 

13,4

Estado de São Paulo

14.609 

10.190 

24.799 

2.936 

3.030

5.967 

12.721 

8.011 

20.732 

51.497 

100,0

Agosto

Proprietário e familiares

Arrendatário, parceiro e familiares

Assalariado 

Residente

Não residente

Total

Residente

Não residente

Total

Residente

Não
residente1

Total

Total
regional 

Participação
regional (%)

Franca

1.327 

2.610 

3.937 

44 

551

595 

2.762 

3.226 

5.987 

10.520 

21,8

São João da Boa Vista

1.678 

2.621 

4.299 

567 

830

1.397 

3.665 

2.096 

5.761 

11.456 

23,8

Bragança Paulista

2.359 

752 

3.112 

366 

46

412 

666 

367 

1.032 

4.556 

9,5

Avaré e Ourinhos

1.558 

894 

2.453 

124 

25

149 

977 

640 

1.617 

4.218 

8,8

Marília

324 

418 

742 

59 

151

210 

1.660 

873 

2.533 

3.485 

7,2

Dracena e Tupã

1.430 

724 

2.154 

273 

79

352 

260 

62 

322 

2.828 

5,9

Araraquara, Botucatu, Campinas, Jaú,

Limeira, Mogi-Mirim e Ribeirão Preto

1.175

336 

1.511 

687 

689

1.375 

1.698 

197 

1.895 

4.781 

9,9

Outros EDRs

2.531 

1.097 

3.627 

125 

706

831 

664 

1.189 

1.853 

6.311 

13,1

Estado de São Paulo

12.382 

9.452 

21.834 

2.245 

3.077

5.322 

12.351 

8.648 

20.999 

48.155 

100,0

¹Exceto volante.

Fonte: Elaborada a partir de dados conjuntos da CONAB/CATI/IEA.


Tabela 2 – Estimativa do Total de Dias-homem de Trabalho Volante nas Unidades Produtivas de Região Cafeeira, Estado de São Paulo, Abril e Agosto de 2011

Abril

Agosto

Dias/homem

%

Dias/homem

%

Região de Franca

148.996

10,5

142.971 

13,9

Região de São João da Boa Vista

431.728

30,3

336.692 

32,7

Região de Bragança Paulista

66.291

4,7

63.557 

6,2

Região de Avaré e Ourinhos

370.139

26,0

157.415 

15,3

Região de Marília

75.259

5,3

51.517 

5,0

Região de Dracena e Tupã

243.600

17,1

103.236 

10,0

Região de Araraquara, Botucatu, Campinas,

6.199

0,4

10.664 

1,0

Jaú, Limeira, Mogi-Mirim e Ribeirão Preto

Outros EDRs

82.186

5,8

162.563 

15,8

Estado de São Paulo

1.424.398

100,0

1.028.615 

100,0

Fonte: Elaborada a partir de dados conjuntos de CONAB/CATI/IEA.



            Apesar da região Montanhas da Mantiqueira de Bragança Paulista produzir 110.653 sacas de café beneficiado em 2011, existe potencial para um salto na produção, desde que seja empregada a tecnologia agronômica disponível, visando incrementar a baixa produtividade observada de apenas 16,3 sc/ha. Esta região diferencia-se das demais principalmente em duas características: a categoria proprietário e familiar residente predomina, quando comparada com as outras regiões do Estado e a ocupação regular de mão de obra volante nos dois períodos de levantamento, acima de 63 mil pessoas.
 

            No Sudoeste Paulista de Ourinhos e Avaré a colheita totalizou 343.772 sacas de café beneficiado. Os talhões em formação (1.557ha) exibem estandes de 3.700 pl/ha com aumento substancial na densidade média de plantas indicando adensamento de cultivo. É a região que possui o menor número das categorias arrendatário e parceiro do Estado. Os cafeicultores possuem em média 55 anos de idade. Os jovens, em geral, não querem trabalhar no café. Os pequenos e médios produtores mudam de atividade ou têm vendido suas propriedades para os grandes produtores, que realizam a monocultura de café. Pequenos e parte dos médios diversificam a propriedade com olerícolas em ambiente protegido (pimentão, tomate de mesa, pepino japonês) produtos de valor agregado maior, pecuária de corte e leite e pequena parcela tem fruticultura (maracujá, limão tahiti, abacate). A mão de obra comum foi a volante com 370,1 mil dias/homem em abril e 157,4 mil dias/homem em agosto. É a segunda região que mais ocupa essa categoria de trabalho. Para os empregadores, os volantes conhecem o trabalho e são oriundos do meio rural. No entanto esta mão de obra não tem comprometimento. A falta ao serviço é grande e uma das razões esta em trabalhar com quem pagar melhor no dia. Nos últimos anos esses trabalhadores ganharam casas populares na cidade com toda infra-estrutura necessária, além de receberem bolsa família e vales. Para alguns produtores esses benefícios têm levado o trabalhador a perder a perspectiva de melhorar7, isto é, eles se acomodam e não procuram especialização de seu trabalho.
 

            A crescente adoção de sistemas produtivos sob irrigação tem sido a principal responsável pela boa performance do Espigão de Garça/Marília. Com produtividade média de 23,1 sc/ha, a produção regional foi de 486.289 sacas de café beneficiado em agosto de 2011, ou seja, teve incremento de 10% da estimativa realizada em abril de 2011. A categoria de trabalho assalariado residente nas unidades produtivas destacou-se frente às outras categorias levantadas.
 

            Na região de Dracena e Tupã observou-se sensível redução na colheita, estimada em 151.545 sacas de café beneficiado em abril de 2011, para 106.459 sacas em agosto. Assim como na Alta Mogiana, ocorreu veranico nessa região, reduzindo sensivelmente a produção e, consequentemente, a produtividade média que, das 21,5 sc/ha anteriormente previstas, alcançou 15,3 sc/ha. As principais categorias que se dedicam ao cultivo do café cultura foram os proprietários e familiares (residentes e não residentes nas
UPAs), bem como a categoria volante que ocupou 243,6 mil d/h em abril e 103,2 mil d/h em agosto.
 

            A cafeicultura em Araraquara, Botucatu, Campinas, Jaú, Limeira, Mogi-Mirim e Ribeirão Preto reduziu-se, principalmente, pelo avanço da cana-de-açúcar, atividade esta que tem se mostrado mais atrativa aos empreendedores. Os indivíduos que produzem café em suas unidades produtivas nestas regiões caracterizam-se por serem residentes nas unidades produtivas e ocuparem muito pouco a categoria volante (0,4% e 1,0% nos levantamentos anuais).
 

            Esta lavoura é excelente opção na diversificação de cultura na propriedade, principalmente para as unidades produtivas onde há pessoas residentes. Por necessitar de muitas pessoas na colheita, ela propicia muita ocupação no campo, constituindo-se em alternativa de renda para os que possuem dificuldade em serem absorvidos em outras atividades rurais ou urbanas.
____________________________________________________________________
1As autoras agradecem a CONAB e a estagiária Natália Cruz de Sousa. Artigo integrante do projeto CONAB/CATI/IEA, Carta Acordo firmada em 2011.
 

2TORRES, A. J. et al. (Org.). Projeto LUPA 2007/08: censo agropecuário do Estado de São Paulo. São Paulo: IEA/CATI/SAA, 2009. 381 p.
 

3COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Acompanhamento da safra brasileira: café safra 2011: terceira estimativa, setembro/2011. Brasília: CONAB, 2011. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/
OlalaCMS/uploads/arquivos/11_09_13_12_12_02_boletim_cafe_-_setembro_-_2011..pdf>. Acesso em: 12 set. 2011.
 

4TORRES, A.J. et al, Segunda estimativa de safra cafeeira paulista 2011/12. Análise e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 6, n. 5, maio 2011.
 

5VEGRO, C. L.; FRANCISCO, V. L. F. S.; ÂNGELO, J. A. Terceira Estimativa de Safra Cafeeira Paulista 2011/12. São Paulo: IEA, 2011. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/lerTexto.php?codTexto=
12207>. Acesso em: 20 set. 2011.
 

6SECA reduz produção de café em 70% na região, Jornal A Cidade, Ribeirão Preto, Caderno Cidades, 11 jul. 2011.
 

7Informes do levantamento qualitativo realizado na região com o apoio do Engenheiro Agrônomo Paulo Sérgio Vianna Mattosinho da CATI do município de Piraju.
 

Palavras-chave: produção de café, trabalho rural.

 


Data de Publicação: 27/12/2011

Autor(es): Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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