Defensivos Agrícolas: rumo a uma retomada sustentável

            Com a recuperação das cotações internacionais dos grãos e fibras, associada à expansão mundial de etanol em 2007, mesmo levando em conta o grande endividamento ainda existente no setor agropecuário brasileiro e a valorização do real diante do dólar, prejudicando as exportações, o setor de defensivos agrícolas em 2007 apresentou um bom desempenho comercial.

            No primeiro período de janeiro a outubro de 2007, segundo estimativas preliminares do setor, constatou-se aumento de 26,5% nas vendas de defensivos agrícolas no Brasil, em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando cerca de R$7,7 bilhões. Todas as classes de defensivos apresentaram incremento nas vendas. Os fungicidas foram os que mais cresceram (32,5%), seguidos dos inseticidas (28,3%), herbicidas (23,5%), inseticidas (28,3%) e acaricidas (5,4%), também, a classe 'outros' - que engloba antibrotantes, reguladores de crescimento, óleo mineral e espalhantes adesivos - apresentaram incremento (25,8%).

          As expectativas atuais são mais otimistas que a performance observada em 2006, quando as vendas de defensivos agrícolas no Brasil totalizaram US$3,920 bilhões contra US$4,244 bilhões do ano anterior, o que representou decréscimo de 7,6% no faturamento total, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG).

            Em 2006, o mercado de defensivos apresentou desempenho diferenciado para as diferentes lavouras. O consumo de defensivos aumentou para o caso da cana-de-açúcar, com acréscimo de 36,3% no valor das vendas. Outros exemplos podem ser mencionados, como os casos do feijão (19,6%) e da fruticultura (4,3%). Destaque-se, também, o incremento das vendas para a atividade de reflorestamento (15%). Em contrapartida, vendas em decréscimo foram notadas para algodão, amendoim, banana, fumo, milho, trigo e uva. A cultura da soja, segundo o SINDAG, apresentou decréscimo de 19,4% em relação a 2005, computando faturamento total de US$1,509 bilhão.

            A soja é a principal consumidora de defensivos no Brasil, tendo sido responsável, em 2006, por 38,5% do valor total das vendas. Em segundo lugar, aparece a cana-de-açúcar (12,6%), seguida de algodão herbáceo (10,3%), milho (7,5%), café (4,9%) e citros (4,2%), o que perfaz, somente essas seis culturas, 78,0% do valor comercializado nesse ano. Considerando-se as vendas para tratamento de sementes de soja, algodão e milho, a participação desse conjunto de culturas passa para 81,7% do valor total comercializado.

            No exame do comportamento das vendas, por unidade da federação, São Paulo se destacou como o maior Estado consumidor, representando 20,6% do valor das vendas nacionais, ou seja, US$808,2 milhões; seguido de Mato Grosso (17,9%), Paraná (13,4%), Rio Grande do Sul (10,4%), Minas Gerais (9,0%), Goiás (8,8%), Bahia (6,0%) e Mato Grosso do Sul (4,7%). As demais unidades da federação, juntas, responderam por 9,2%, conforme as estatísticas do SINDAG (Figura 1).

Figura 1 - Participação Pecentual dos Estados no Valor das Vendas de Defensivos Agrícolas, Brasil, 2006.

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do SINDAG.

            No Estado de São Paulo, a classe de herbicidas é a que tem respondido pelo maior valor das vendas de defensivos agrícolas. Em 2006, foi responsável por 43,1% do faturamento total paulista, ou seja, US$348,1 milhões (Figura 2). As vendas de herbicidas estão voltadas, principalmente, para cana-de-açúcar, soja e milho.

Figura 2 - Participação Percentual das Classes no Valor das Vendas de Defensivos Agrícolas, Estado de São Paulo, 2006.

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados do SINDAG.

            Os acaricidas, em 2006, foram responsáveis por 7,6% do faturamento total do setor no Estado. O consumo de acaricidas no Brasil está concentrado quase na sua totalidade em São Paulo. Em 2006, o mercado paulista representou 93,5% das vendas brasileiras em quantidade de produto comercial e 87,4% do faturamento dessa classe. Isso pode ser explicado pelo fato de a citricultura ser responsável por 85,9% do valor comercializado de acaricidas e São Paulo ser detentor de 71,2 % da área colhida com laranja no País (571.532 hectares na safra 2006)1.

            Quanto ao comportamento dos preços dos defensivos em 2007, de acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), nas principais regiões produtoras do Estado de São Paulo, em outubro de 2007, a maioria dos defensivos agrícolas apresentou decréscimo nos preços quando comparado com o mesmo mês do ano precedente. Esse comportamento foi verificado em todas as classes estudadas: inseticidas, acaricidas, fungicidas, reguladores de crescimento e herbicidas. De um total de 120 produtos pesquisados, em valores correntes, 95 produtos registraram diminuição nos preços e 25 tiveram aumento. Porém, com os preços corrigidos2 pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV), constatou-se que 14 produtos variaram positivamente (4 inseticidas, 2 fungicidas, 6 herbicidas, 1 acaricida e 1 regulador de crescimento), enquanto 106 produtos apresentaram queda entre o mínimo de 1,3% e o máximo de 43,8%.

            Na análise individualizada por classes, constatou-se que para os herbicidas, de um total de 43 produtos pesquisados, 37 apresentaram redução nos preços corrigidos entre 1,3% e 39,7%, enquanto seis produtos mostraram aumento nos preços. Nessa classe, aqueles produtos cujo ingrediente ativo é o glifosato exibiram preços ascendentes em função da elevação dos custos das matérias-primas importadas. Ainda que indiretamente, a elevação das cotações internacionais do barril do petróleo poderá promover aumentos importantes nos custos de produção dos defensivos com possíveis reflexos nos preços praticados.

            A queda nos preços dos defensivos agrícolas, aliada ao aumento dos preços recebidos pelos agricultores no Estado de São Paulo, de modo geral, contribuiu para que os principais produtos agrícolas, como algodão, café, feijão das águas, milho, soja e laranja para indústria, em outubro de 2007, apresentassem relações de troca mais favoráveis, quando comparados com o mesmo mês dos dois anos anteriores (2005 e 2006), ou seja, aumento do poder aquisitivo dos produtores das referidas culturas para compra da cesta de defensivos agrícolas3.

            Por exemplo, para a cultura da soja em outubro de 2006 eram necessárias 9,64sc.60kg do produto para adquirir uma cesta de defensivos agrícolas, tendo decrescido para 5,77 sacas em outubro de 2007, uma queda de 40,1% (3,87 sacas a menos). Também, para a cultura do milho verificou-se uma boa melhora no poder aquisitivo. A relação de troca que em outubro de 2006 era de 6,82sc.60kg do produto decresceu para 4,83 sacas (menos 1,99 saca) em outubro de 2007. Ressalte-se que se comparado com o mesmo mês de 2005, o ganho foi ainda maior (relação de troca caiu 44,6%, ou seja, menos 3,89 sacas).

            No caso específico da cana-de-açúcar, em outubro de 2007, quando comparado com o mesmo mês do ano anterior, constatou-se uma relação de troca mais desfavorável para os agricultores, em função da queda dos preços recebidos pelos produtores (passou de R$43,33/t para R$30,48/t, no referido período). Contudo, quando se compara com o mesmo mês de 2005, cujo preço da tonelada da cana era R$29,41, observa-se aumento no poder aquisitivo, pois em outubro de 2005 eram necessárias 25,60 t do produto para adquirir uma cesta de defensivos agrícolas, tendo decrescido para 20,77 t em outubro de 2007, diminuição de 18,9%.

            Para finalizar, a perspectiva do setor de defensivos para 2007 é de crescimento no faturamento das vendas, em relação ao ano anterior, devendo o mercado voltar aos níveis de 2004 (R$ 10 bilhões) equivalente a cerca de US$ 4,8 – 5,0 bilhões, em função de vários fatores como: a) aumento da área plantada das principais culturas na safra 2007/2008, em relação à safra 2006/2007, como de milho (1ª e 2ª safras), algodão, soja, trigo, arroz e cana-de-açúcar; b) bons preços internacionais de soja, milho e algodão, estimulando o maior uso de tecnologia; c) cotações internacionais do café muito acima da média histórica, permitindo alcance de maior rentabilidade na exploração; d) maior fiscalização na entrada de produtos ilegais; e f) perspectivas favoráveis para o setor florestal.

            De acordo com o terceiro levantamento da safra brasileira de cana-de-açúcar 2007/08 realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a estimativa da produção nacional de cana-de-açúcar destinada à indústria sucroalcooleira na safra 2007/08 é de 475,07 milhões de toneladas, superior à safra passada em 10,6%. A área ocupada com essa cultura é de 6,96 milhões de hectares, superior em 13,0% (800,4 mil hectares) à safra anterior4. Esse comportamento do mercado está relacionado com o avanço das exportações do açúcar e à maior demanda interna de álcool com o aumento das vendas dos carros com motor flex fuel.

            As projeções para 2008 continuam sinalizando favoravelmente para o setor, com a expectativa de um crescimento em torno de 5% a 10% no faturamento em relação ao ano anterior.
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1LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de Janeiro: IBGE, jan. 2007.
2 Os preços dos defensivos agrícolas de outubro de 2006 foram corrigidos pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para valores de outubro de 2007.
3A cesta de defensivos, para os principais produtos agrícolas, foi calculada com base nas quantidades médias (doses e nº. de aplicações) utilizadas de cada produto por hectare, em uma safra, considerando-se um conjunto de defensivos selecionados para cada cultura.
4COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Acompanhamento da safra brasileira: cana-de-açúcar, safra 2007/2008. Terceiro levantamento da safra brasileira de cana-de-açúcar 2007/2008. Brasília, jun. 2007. Disponível em: <http//:www.conab.gov.br>. Acesso em: 2007.

Palavras-chave: mercado de defensivos, indústria de defensivos.

 

Data de Publicação: 14/02/2008

Autor(es): Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria de Lourdes Barros Camargo (mlcamargo@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor