Curva Futura das Cotações do Café: rumo à estabilização?1

Em agosto, os mercados de juros e dólar futuros na BM&F-Bovespa tiveram variações, mas insuficientes para modificar a trajetória das cotações do café. A conjuntura permanece pautada por forte incerteza entre os operadores do mercado quanto à ocorrência de eventual déficit no suprimento global para o período 2015/16, decorrente da prolongada anomalia climática que incide sobre os principais cinturões produtivos do país. Esse fenômeno climático conduziu o mercado de café para condição bastante adversa em que seus principais operadores se expõem a acentuado risco.

Na Bolsa de Nova York, os contratos de café arábica (segunda posição) exibiram tendência de alta, porém, com dois momentos distintos, pois, enquanto as médias semanais para a primeira, segunda e terceira semanas foram declinantes, houve mudança de patamar para as cotações a partir da quarta do mês (Figura 1).

Considerando a posição de março de 2015, na terceira semana de agosto a média das cotações registrava US$¢192,76/lbp, movendo-se para US$¢191,73/lbp na média da quarta semana (US$¢200,73 com deságio de US$¢9,00 em razão da origem), ou seja, valorização de 3,91% no período com volatilidade de 41,43%. A repentina mudança na formação dos preços, empurrando-os para cima, foi, aparentemente, consequência da prematura florada registrada nos cinturões produtores do sul e Zona da Mata de Minas Gerais, pois sob efeito da anomalia climática, crescem as chances de abortamento substancial dos frutos em formação, adicionando elemento extra ao contexto de crescentes incertezas nesse mercado.

A média de preços recebidos pelos cafeicultores em agosto de 2014 na região de Franca, Estado de São Paulo (principal polo da cafeicultura paulista), foi de R$425,59/sc., segundo dados do IEA/CATI2, representando incremento de 11,43% frente ao registrado no mês anterior. Convertendo-se para real, a cotação registrada na quarta semana do mês para a posição de março de 2015 alcança-se o valor de R$618,26/sc., ou seja, diferença de R$192,67/sc. frente à cotação praticada no mercado francano. Tal diferencial é suficientemente elevado para que legitime a estratégia de contratação do hedge para parcela da mercadoria produzida.

Na Bolsa de Londres, acompanhando a aceleração nas cotações de arábica, a média dos contratos futuros de café robusta mudou de patamar na última semana do mês, ou seja, ainda mais expressiva que aquela exibida pelo arábica (Figura 2).

A média das médias das cotações semanais entre as de arábica em Nova York e robusta em Londres resultou em diferencial de aproximadamente US$¢105/lbp, valor suficientemente alto para que os importadores passem a avaliar seriamente o incremento de robusta nos blends. Assim, é provável que essa diferença tenda a diminuir com arábica, arrefecendo a tendência de alta, enquanto em relação ao robusta pode haver ainda ganhos nos preços em razão dessa expectativa de maior procura pelo produto.

A procura por contratos mantém-se aquecida, especialmente entre os fundos e os grandes investidores, e crescente, abrindo o mês com 31.111 contratos em aberto e encerrando-o com 32.933 (+5,8%). Houve acentuada procura entre as pequenas posições, com incremento de 992 contratos (+32,8%) no transcurso das quatro semanas (Tabela 1).

 


O contexto de elevada incerteza ainda domina a formação dos preços do arábica e do robusta. Esse tipo de conjuntura de mercado tanto atrai uns (de menor aversão ao risco) quanto afasta outros investidores (de maior aversão ao risco). Com a safra 2015/16 de arábica recém-iniciada no país, torna-se possível estabelecer estratégia comercial favorável à captura de rentabilidade para a atividade.

 

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1Os autores agradecem o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à Pesquisa Centífica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco.

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: ago. 2014. Aparentemente, os intermediários atuantes na comercialização de café não acompanharam prontamente a elevação das cotações internacionais, refletindo o momento de incerteza prevalecente no mercado.

Palavras-chave: cotações de café, bolsa de valores, contratos futuros.



Data de Publicação: 15/09/2014

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Félix Schouchana (felixsh@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor