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Acompanhamento da Cesta de Mercado de Alimentos em São Paulo – preços em alta entre junho e novembro de 2020
O Instituto de Economia Agrícola (IEA) notabiliza-se por acompanhar os preços agrícolas desde a pré-produção até o consumidor final. Neste trabalho, especificamente, abordam-se os resultados obtidos do levantamento sistemático de preços no mercado varejista de alimentos no município de São Paulo entre os meses de junho e novembro de 2020. De forma geral, esse período de seis meses pode ser separado em dois momentos. Nos dois primeiros meses (junho e julho), o Índice de Preços da Cesta de Mercado Total (IPCMT) marcou variações positivas no dispêndio familiar inferiores a um ponto percentual, 0,80% e 0,75%, respectivamente. Nos quatro meses seguintes (agosto, setembro, outubro e novembro), a pressão sobre os preços foi intensificada. O patamar de variação, que estava abaixo de 1% ao mês, posicionou-se acima de 2%, chegando ao pico de variação em setembro de 2020, mês que marcou aumento de 4,16% no dispêndio familiar com alimentação dentro do domicílio (Figura 1). Embora o trabalho se limite ao período de junho a novembro, a figura 1 apresenta a evolução do IPCMT de janeiro a novembro de 2020. A visualização de variação de todos os meses permite ao leitor observar os momentos de queda, estabilidade e ascensão do valor da cesta de mercado. Para uma melhor análise da variação, apresentam-se também os indicadores de variação da cesta de mercado de produtos de origem animal (IPCMA) e de origem vegetal (IPCMV). Na figura 2, os indicadores de variação da cesta de mercado estão apresentados em número índice (dez./2019=100). Nota-se na figura que, no mês inicial da análise (junho/2020), a variação acumulada no ano do IPCMT era de 4,41%, sendo que a maior pressão sobre os preços vinha do grupo vegetal, que neste período acumulava 7,56%. A partir de junho houve uma tendência constante de aceleração de preços. Os produtos de origem animal, que até junho acumulavam variação de 1,31%, chegaram a 15,06% em novembro. A cesta de mercado vegetal apresentou queda em julho, mas voltou a subir em agosto e já acumula mais de 21% de aumento no dispêndio. Já a cesta de mercado total em novembro acumula no ano 18,19% de variação positiva, ou seja, o custo de adquirir a cesta de mercado de alimentos para consumo dentro do domicílio para uma família de tamanho e de renda média é 18,19% superior ao valor dispendido em janeiro de 2020. Enquanto as figuras 1 e 2 mostraram os valores gerais de variação, as figuras subsequentes irão apresentar o comportamento dos subgrupos de produtos. A figura 3 apresenta a evolução dos produtos do agrupamento “carnes e derivados”. No período em estudo (junho a novembro de 2020), a variação acumulada foi de 17,76%, ou seja, o dispêndio familiar para aquisição dos mesmos produtos e quantidades desta composição de itens elevou-se em quase 18% no intervalo de seis meses. Outro ponto importante é que não houve redução de preços médios em nenhum dos últimos seis meses. Já em outubro, esse subgrupo variou positivamente em 5,13%, maior índice do período. Analisando-se as carnes de origem bovina, suína e de frango, observa-se que a média dos cortes bovinos variou no período 14,32%, enquanto a média dos cortes suínos acumulou 15,79%, e a carne de frango chegou a variação total de 19,66%. O quilograma de frango inteiro, dentre as três proteínas, é a que possui o menor valor monetário. Esse produto vem em tendência crescente de preços desde junho, período em que o quilograma de frango custava em média R$6,89. Em novembro, houve variação positiva de 5,43% e, com isso, o preço médio atual do kg do frango foi para R$8,24, sendo a variação acumulada nos últimos seis meses a maior dentre as proteínas animais analisadas. Com valores percentuais altos de variação, os consumidores tendem a substituir proteínas de maior valor pelas de menor valor. Esse movimento tende a alterar o fluxo de demanda dos produtos, acarretando em impacto nos preços dos produtos substitutos a fim de suprir uma procura maior por parte dos consumidores. Outro fator importante de variação do subgrupo de “carnes e derivados” é o período da entressafra no abate de bovinos e a redução no volume de abate, principalmente, neste ano, no período de janeiro a novembro em 2020 em relação a 20192. Também contribui para a elevação dos preços internos o fato de que o mercado externo de carnes está aquecido, com o crescimento na demanda pela carne brasileira nas cadeias de produção, bovina, suína e de frango. Em relação aos leites e derivados (Figura 4), a situação também não foi favorável aos consumidores. Esse subgrupo acumulou 14,14% entre junho e novembro deste ano. O item de maior dispêndio entre os lácteos é o leite longa vida. Esse produto era comercializado em junho na média a R$3,59/l, em setembro alcançou o pico de preços (R$4,36/l) e em novembro recuou para R$4,05/l. Assim, mesmo com queda de pouco mais de 7% nos preços médios em novembro em relação a setembro, o leite longa vida acumulou aumento de 12,81% no período em estudo. Outro item que chamou bastante atenção dos analistas no período foram os queijos, ao se considerar os tipos (minas, muçarela e prato), a variação média no período foi superior a 24%. Em 2020, o comportamento dos preços do leite até novembro teve impacto nas compras dos consumidores devido a alguns fatores: desorganização da produção após decretação de pandemia, baixos estoques na indústria e no varejo, altos preços do milho e soja para alimentação do gado e escalada de alta do dólar. A partir de outubro, com o final da entressafra, as negociações do varejo com a indústria para conseguir preços menores, além da importação de leite em pó, estão induzindo os preços a reduzir. Para os queijos, o aumento ocorreu pela falta de matéria-prima e aos baixos estoques dos produtos na indústria e pela retomada da procura pelos produtos, que no início da pandemia tinham diminuído significativamente. O comportamento dos ovos no período em estudo (Figura 5) foi importante para “segurar” o IPCMA entre junho e novembro. Nesse período, a variação acumulada foi negativa em 1,51%, e este foi o único subgrupo que teve seu dispêndio reduzido no período em estudo nos produtos de origem animal. Observando-se a evolução da variação mensal de junho a novembro, verifica-se alternância entre variações positivas e negativas e, com isso, não se consolida tendência do comportamento do preço médio no período em estudo. A variação negativa do período não se reflete na variação anual (+8,29%) e tampouco quando se compara o preço médio de novembro de 2020 (R$7,26/dz.) com o praticado há um ano (novembro de 2019), em que a alta acumulada é de 16,91%. Os preços médios de ovos, embora acumule índice negativo entre junho e novembro, pode ter essa situação revertida devido aos elevados preços dos grãos, importante insumo para o setor, e levar a aumentos nos próximos meses3. Em relação aos subgrupos de origem vegetal, a figura 6 mostra o comportamento das frutas entre junho e novembro de 2020. Nesses seis meses de análise, seu preço médio recuou em junho, julho e setembro, e avançou em agosto, outubro e novembro. Embora tenha havido três meses de baixa e outros três de alta, a variação positiva foi muito mais intensa e, com isso, a variação acumulada deste subgrupo chegou a 11,44%. Destaca-se neste período a variação positiva de preços de banana-nanica, limão tahiti e tangerinas (cravo e poncã), a redução de preços da manga e os preços estáveis da laranja-pera. O cenário observado nesse subgrupo entre junho e novembro está aderente às características sazonais dos produtos. As hortaliças (Figura 7) tiveram comportamento diferenciado entre todos os subgrupos, tanto de origem animal como vegetal. Os preços médios acumulados caíram em 7,39%, resultado influenciado pelo recuo de preços entre os meses de junho a agosto. Somente nesse trimestre o índice acumulado foi negativo em 18,43%. Entretanto, a tendência de queda foi revertida em setembro, período em que os preços médios se elevaram em 5,44%. No mês de outubro, a alta foi de 6,19% e em novembro foi de 1,39%. A queda significativa nos primeiros três meses foi impulsionada pelo um recuo significativo de preços de batata, cebola e tomate devido à maior oferta do produto. No caso da cebola, adiciona-se a diminuição da importação. A alta dos últimos três meses é associada à redução de oferta da batata e do tomate, sendo que este último teve seus preços médios aumentados em mais de 20% no mês de outubro. Por fim, na figura 8 apresenta-se a evolução do indicador mensal e o acumulado do subgrupo de “Produtos básicos e outros” de junho a novembro. Nesse agrupamento, estão itens de grande importância na cesta de produtos das famílias paulistanas, como arroz, feijão, óleo de soja, açúcar e pães. A variação acumulada no período foi de 18,24%, com variação positiva em todos os meses em estudo. Em setembro, atingiu-se a maior variação do período e, após redução em outubro, voltou a subir com força em novembro. No setor de mercearia dos supermercados, observa-se que os preços médios do óleo de soja foi o que acumulou a maior alta entre junho e novembro (99,49%). A escalada dos preços deste item intensificou-se em agosto e, em quatro meses, a população passou a dispender quase o dobro do valor anterior para adquirir a mesma quantidade de óleo de soja, situação inimaginável para um país que é recordista na produção do grão. O principal motivo dessa valorização é o aumento de exportações em virtude do câmbio valorizado com redução significativa de estoques. O arroz, outro produto de primeira necessidade na dieta alimentar, saltou de R$3,62/kg para R$5,51/kg, aumento acumulado de 52,21% em seis meses. A redução de área e o reposicionamento de preços ao produtor são apontados como causas desta variação. O feijão, item complementar do arroz, alcançou o pico de preços em junho e desde então vem em processo lento de redução. Em novembro, a pesquisa apurou que o quilograma do feijão foi comercializado em média a R$7,42; esse valor foi 9,07% inferior a junho, mas quase 40% superior ao praticado há um ano, em novembro de 2019. Este cenário para itens essenciais pressiona a já corroída renda familiar. Por outro lado, ainda que nem só de pão o homem viverá, a farinha de trigo e o pão francês contribuíram para o alívio do orçamento familiar, mas a variação positiva desses dois itens em novembro começou a assustar os consumidores. Em relação ao café, parceiro de todo dia da maioria dos brasileiros, as variações de preços foram na margem. Comparando-se outubro de 2019 a novembro de 2020, os preços médios variaram 0,88%, sendo que nos seis meses de análise, o acumulado foi de apenas 0,65%. O café, portanto, não reforçou as pressões inflacionárias advindas de importantes itens de consumo, atuando na realidade em sentido contrário, mitigando seus impactos. Em linhas gerais, o mês de junho, primeiro mês de análise deste trabalho, marcou o início de aceleração dos preços no mercado varejista e, se a tendência for mantida, fecharemos o ano de 2020 com a variação da cesta de mercado paulistana na casa de 20%, considerando-se que a inflação prevista para o ano é de aproximadamente 4%4. Conclui-se, assim, que a cesta de mercado ao final deste ano atípico deve superar a inflação geral em quase cinco vezes, impactando mais diretamente a população de renda mais baixa. Embora as previsões iniciais para os preços ao consumidor em 2021 não sejam animadoras, esperamos que ao longo de 2021 os preços se estabilizem e promovam alívio ao orçamento das famílias paulistanas e brasileiras. 1Os autores agradecem os enumeradores Andreia Brazão, Cristina Almeida Paes e Valdecir Luchiari, pelo levantamento diário de dados. Palavras-chave: varejo, alimentos, cesta de mercado, indicadores, São Paulo. COMO CITAR ESTE ARTIGO MARTINS, V. A. et al. Acompanhamento da Cesta de Mercado de Alimentos em São Paulo – preços em alta entre junho e novembro de 2020. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 1, jan. 2021, p. 1-9. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
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2REDUÇÃO dos abates de bovinos no primeiro semestre. Pasto Extraordinário, [S.l.], 16 out. 2020. Disponível em: https://pastoextraordinario.com.br/reducao-dos-abates-de-bovinos-primeiro-semestre/. Acesso em: dez. 2020.
3ALTA dos insumos pressiona reajuste no preço dos ovos. Jornal do Comércio. Porto Alegre, 9 out. 2020 Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/agro/2020/10/760489-alta-dos-insumos-pressiona-reajuste-no-preco-dos-ovos.html. Acesso em: dez. 2020.
4MINISTÉRIO da Economia eleva projeção do IPCA em 2020 de 1,83% para 3,13%. InfoMoney, [S.l.], 17 nov. 2020. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/consumo/ministerio-da-economia-eleva-projecao-do-ipca-em-2020-de-183-para-313/. Acesso em: dez. 2020.
Data de Publicação: 08/01/2021
Autor(es):
Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Talita Tavares Ferreira (taferreira@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor