Commodities: suco de laranja foi destaque de alta em novembro

            Os mercados internacionais de commodities apresentaram tendência de baixa em novembro para a maioria dos produtos, com exceção do suco de laranja e do café robusta. Assim, das nove commodities analisadas neste artigo, cinco tiveram queda de preço nos mercados de futuros (algodão, soja, milho, trigo e borracha natural). Das quatro com preços ascendentes, destacam-se os ganhos expressivos do suco de laranja e do café robusta.
            A alta do suco de laranja congelado e concentrado no mês foi de 10,38% na Bolsa de Nova York. Este resultado ocorreu em virtude da ampliação dos prejuízos dos furacões nos laranjais da Flórida, atingindo as maiores cotações desde 1998.
            Por sua vez, os mercados do boi gordo, com a ocorrência de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, sofreram uma desorganização geral, o que reverteu a tendência para baixo, tanto em dólar quanto em real por arroba, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).
            As cotações do boi não conseguem representar as condições de oferta e demanda, frustrando a perspectiva de recuperação que se esperava para o final de 2005. Isto se deve ao comportamento errático que se tem verificado no mercado do boi gordo, com a ocorrência da aftosa e as restrições ao comércio entre os diferentes estados consumidores, acrescidas das restrições à importação de carne, por parte de mais de 50 países, principalmente do Mato Grosso do Sul, de São Paulo e do Paraná,
            Já no acumulado de 2005, a evolução das cotações das commodities indica alta, em real, com exceção do milho e do boi que apresentam queda devido à forte valorização do real. Porém, no acumulado de 12 meses, apenas o milho e o boi gordo, cotado em real e em dólar, apresentaram recuo nos preços, enquanto as demais commodities tiveram crescimento.
            A tabela 1 mostra os resultados da análise das cotações das principais commodities agrícolas. Tem como base as cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em novembro e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços médios mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, novembro de 2005 e acumulado em 12 meses
(em percentagem)

Commodities
Mercado
Novembro de 2005
Acumulado 
2005
Acumulado 
12 meses
Açúcar
NY
1,52
30,36
33,27
Algodão
NY
-4,36
22,78
22,96
Café arábica
NY
1,17
2,64
18,93
Café robusta
Lo
8,06
33,61
58,36
Suco Laranja CC
NY
10,38
43,12
57,69
Soja grão
CHT
-0,66
7,93
9,01
Milho 
CHT
-3,71
-0,94
-1,55
Trigo
CHT
-7,62
5,39
2,31
Borracha SM20
Malásia
-4,11
31,68
26,27
Boi
BM&F
-2,94
9,27
-6,74
Boi – em reais
BM&F
-4,93
-11,27
-15,33
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            O preço médio da soja, no mercado de Chicago, caiu 0,66% em relação à média de outubro e continua pressionado pela safra norte-americana e pelo fraco ritmo das exportações, além da gripe das aves que vem reduzindo a demanda por farelo de soja na Ásia e na Europa. O fato mais relevante foi a confirmação da safra americana de 82,8 milhões de toneladas, muito superior ao previsto, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1. No acumulado do ano, a alta chegou a 7,93% e em doze meses, a 9,01%.
            No caso do milho, o comportamento em Chicago foi de continuidade de queda nas cotações com a elevação das estimativas da produção americana para o ano agrícola 2005/06. No mês de novembro, a cotação média caiu 3,71%; no ano, 0,94%; e em doze meses, 1,55%. Com o aumento da oferta, a queda só não foi maior devido ao aumento da demanda para a produção de etanol.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A maior oferta de trigo de baixa qualidade no mercado internacional levou as cotações médias do cereal à maior desvalorização entre as commodities agrícolas negociadas na bolsa de Chicago em novembro. Assim, a grande oferta de trigo, principalmente do Leste Europeu, levou as cotações médias do produto a uma queda de 7,62% em novembro. No ano, o aumento atingiu 5,39% e no acumulado de doze meses, 2,31%.
            O algodão, na bolsa de Nova York, teve seus preços desvalorizados no mês de novembro, com uma queda na cotação média de 4,36% em relação à de outubro. Isto ocorreu devido aos menores embarques americanos. Porém, em 2005, o preço do produto aumentou 22,78% e, em doze meses, 22,96% (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            Ainda entre as commodities negociadas na Bolsa de Nova York, o suco de laranja continuou em alta e se destacou como o produto com o melhor desempenho em novembro. Atingiu 10,36% em relação à média de outubro, devido às perdas da safra da Flórida e aos baixos estoques internacionais. Em 2005, o aumento acumulado atingiu 43,12%, o maior nível entre os dez produtos analisados, e em doze meses foi de 57,69%, só perdendo para o café robusta. Essas perdas vão diminuir a oferta americana e pressionar o mercado internacional, com resultados favoráveis para o Brasil.
            Para o café arábica, manteve-se a tendência de alta, com ganho de 1,17% em relação à média de outubro. O mercado de café está indicando uma demanda mundial superior à oferta, o que dá sustentação às cotações, mesmo com as especulações sobre a safra futura do Brasil. A menor demanda em novembro, devido a um outono mais ameno, tem limitado o crescimento no preço do produto. No ano, as cotações do café arábica cresceram 2,64% e, no acumulado de doze meses, 18,93%.
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            O açúcar manteve firme tendência de alta em novembro, atingindo o maior preço desde 1996. O aumento foi de 1,52% em relação ao valor médio do mês anterior, devido à procura maior que a oferta, além da pressão pela demanda de álcool por parte do Brasil. Assim, com a alta de novembro, o preço médio do açúcar teve crescimento de 30,36% no ano e de 33,27%, nos últimos 12 meses.
            O café robusta na Bolsa de Londres manteve a tendência de alta e apresentou o segundo maior ganho nas cotações médias de novembro. O acréscimo foi de 8,06% em relação à média de outubro, devido à menor oferta em função da quebra de safra do Vietnã. Com isso, a cotação do produto atingiu alta de 33,61% em 2005 e de 58,36% nos últimos doze meses, posicionando-se no ranking dos maiores ganhos no período (tabela 1).
            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A cotação da borracha natural caiu 4,11% em novembro em relação à média de outubro. Porém, no ano, cresceu 31,68% e, no acumulado de doze meses, atingiu a alta de 26,27%. Esta queda nas cotações internacionais em novembro deve refletir-se em menor preço para os produtores brasileiros de borracha natural, o que será reforçado pela redução de 2,10% na taxa de câmbio brasileira.
            As cotações da borracha natural nos últimos 12 meses, no mercado da Malásia, podem ser observadas no gráfico seguinte:

            O mercado de futuros do boi gordo na BM&F apresentou-se em queda em novembro, com elevada volatilidade devido à ocorrência da febre aftosa em regiões do Mato Grosso do Sul. Isto levou a um comportamento errático do mercado, associado ao fechamento das exportações dos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, onde se concentra o principal parque de abate brasileiro.
            A redução de 4,93%, segunda posição, em real, em relação à média de novembro ocorreu devido às limitações sanitárias para o funcionamento do mercado interno e para as exportações. Mesmo em dólar, a queda na cotação média em novembro foi menor (2,94%). No acumulado de 12 meses, as cotações em real caíram 11,27%, mas subiram 9,27% em dólar, mostrando o efeito da desvalorização da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo. No acumulado em 12 meses, caiu 15,33 % em real e 6,74% em dólar.
            O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:

            A análise acima do desempenho das commodities no mercado internacional indica a tendência dos preços no primeiro trimestre de 2006, uma vez que se referem a segunda posição e cobrem o período de janeiro a março do próximo ano, dependendo de cada produto.
            No caso de grãos e fibras, cujo plantio do ano agrícola 2005/06 se encontra no final, as cotações internacionais não são alentadoras. Além disso, no mês de novembro de 2005, verificaram-se no Brasil as menores cotações no nível dos produtores de soja, milho, algodão e trigo nos últimos quatro anos. Isto se deve à forte valorização do real, da ordem de 20% nos últimos doze meses, o que vai influenciar a comercialização da safra futura, a partir de fevereiro de 2006.
            Assim, a tendência será de uma comercialização mais difícil em 2006, o que poderá ser amenizado se o governo federal aprendeu algo com a crise de 2005. Nesse sentido, deve dar suporte à política de preços mínimos de garantia e dispor de recursos financeiros para a comercialização da safra, especialmente para estocagem, visando à melhor distribuição do fluxo de produto ao mercado, de maneira a melhorar a liquidez, especialmente do milho, cujo mercado mundial superofertado e a taxa de câmbio atual tornam impossível a exportação dos excedentes.
            O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)2 e as lideranças do agronegócio brasileiro têm pouco tempo para agir, no sentido de viabilizar recursos oficiais para 2006, no orçamento federal que se encontra em discussão no Congresso Nacional. O objetivo desse esforço deve ter como foco a recuperação dos investimentos públicos no setor, de maneira a enfrentar uma crise que em 2006 poderá ser mais grave que a atual.3

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1 USDA: www.usda.gov
2 MAPA: www.agricultura.gov.br
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-120/2005

Data de Publicação: 08/12/2005

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor