Emprego na agricultura paulista: desempenho melhor que o divulgado no CAGED

            Em Julho, o setor agropecuário admitiu um total de 24.013 trabalhadores e desligou 18.120 pessoas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), organizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)1. No entanto, estudo realizado no âmbito do Instituto de Economia Agrícola (IEA) com os mesmos dados do CAGED2 aponta valores divergentes: 35.774 admissões e 19.108 desligamentos.
            Qual é a explicação para a diferença de resultados? É que a organização dos dados não seguiu a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE95)3, que decompõe o setor agropecuário em 28 classes de atividades econômicas codificadas e iniciadas pelos dígitos 01, 02 e 05. Destas atividades agropecuárias, serviços relacionados com agricultura (CLASSE 01619), pecuária (CLASSE 01627) e silvicultura (CLASSE 02135) foram consideradas erroneamente pelo CAGED como atividades do setor de serviços. Na verdade, a CNAE classifica tais atividades como pertencentes ao setor agropecuário. Assim, o CAGED desrespeita a codificação e gera distorções no panorama do mercado de trabalho agropecuário.
            O CAGED exerce papel importante no direcionamento de políticas públicas voltadas para a geração de emprego, qualificação dos trabalhadores e condições de trabalho, bem como para o Programa de Seguro-Desemprego. Este cadastro é atualizado mensalmente com informações sobre o número de admissões e desligamentos celetistas em todos os setores econômicos do Brasil.
            No CAGED também são encontradas informações sobre renda e massa salarial, grau de instrução, faixa etária, gênero, etc. O grau de detalhamento das informações é altíssimo uma vez que é possível obter resultados desagregados para municípios, ocupações dos trabalhadores e atividades econômicas que obedecem à CNAE95. O MTE emprega esta classificação na metodologia do CAGED, pois o estabelecimento declarante informa qual é sua principal atividade econômica, escolhendo uma das categorias disponíveis da CNAE.
            Ao reconstruir a série histórica do CAGED para o período de Julho de 2005 a Julho de 2006, comparou-se os resultados divulgados pelo Ministério e os da pesquisa do IEA. O objetivo era averiguar o impacto disso no setor para o Estado de São Paulo (tabela 1).

Tabela 1 – Número de admissões e desligamentos de celetistas no setor agropecuário paulista, Julho de 2005 a Julho de 2006

Mês
Admissões
Desligamentos
Divulgado Averiguado Diferença(%) Divulgado Averiguado Diferença(%)
2005
Julho
37.423
35.571
5,2
21.026
18.801
11,8
Agosto
26.166
24.902
5,1
28.176
26.195
7,6
Setembro
19.955
19.181
4,0
22.695
20.273
11,9
Outubro
16.266
16.054
1,3
26.002
20.695
25,6
Novembro
15.186
15.109
0,5
55.600
54.399
2,2
Dezembro
10.434
8.903
17,2
69.058
70.251
-1,7
2006
Janeiro
29.921
33.960
-11,9
22.112
31.797
-30,5
Fevereiro
25.938
29.751
-12,8
14.085
12.847
9,6
Março
29.075
32.855
-11,5
16.727
19.787
-15,5
Abril
37.644
44.510
-15,4
17.551
21.536
-18,5
Maio
44.429
53.567
-17,1
15.961
18.489
-13,7
Junho
36.791
38.511
-4,5
16.813
11.837
42,0
Julho
24.013
35.774
-32,9
18.120
19.108
-5,2
Total
353.241
388.648
-9,1
343.926
346.015
-0,6
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do CAGED, MTE.

            Observa-se que a tendência da geração de emprego no setor agropecuário é igual para ambos os resultados (figura 1). Porém, o número de admitidos divulgados pelo Ministério foi 9,1% inferior ao averiguado, enquanto o número de desligamentos foi de 0,6%.

Figura 1 – Admissões no setor agropecuário paulista, Julho de 2005 a Julho de 2006 

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do CAGED, MTE.

            Ao considerar o saldo acumulado resultante do total de admitidos menos o total de desligados para o período, verifica-se que o problema se torna mais grave, uma vez que o setor agropecuário foi capaz de gerar 9.315 novos postos de trabalho, segundo o MTE. Porém, os resultados mensurados pelo trabalho do IEA são muito maiores (42.633), indicando que as informações do Ministério estão 78,2% aquém da realidade para o Estado de São Paulo. E o resultado correto reforça a capacidade do Estado de São Paulo de gerar empregos no setor agropecuário.
            Incorporar estes postos de trabalho ao setor agropecuário, e assim corrigir o erro, implica em retirá-los do setor de serviços. Isto igualmente gera resultados diferentes para o setor de serviços, embora o impacto seja muito menor pois é este setor o que mais emprega no Estado de São Paulo. Em 2004, os serviços geraram quase 5 milhões de postos de trabalho4.
            Apesar de a análise deste trabalho se restringir apenas ao período de um ano até julho de 2006, recomenda-se cuidado aos usuários que necessitem de uma série mais longa. A exclusão das atividades de serviços relacionadas a agricultura, pecuária e silvicultura dos dados de emprego do setor agrícola, por parte da organização dos dados do MTE, remonta aos meses que antecedem a julho de 2005, não apenas para o Estado de São Paulo como também para todo o território nacional.
            A discrepância entre os valores absolutos distorce a realidade e prejudica análises e tomadas de decisão em políticas públicas. Portanto, deverá ser sanada a partir de uma revisão da organização dos dados do CAGED, conforme realizada neste trabalho.5

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1 CAGED/MTE: http://estatistica.caged.com.br/
2 Cadastro prévio de usuário é necessário para utilização do bancos de dados por meio do Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho (http://www.mte.gov.br/Empregador/caged/default.asp)
3 A CNAE95 é organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE): www.ibge.gov.br
4 'Emprego Formal No Setor Agropecuário Paulista: Crescimento De 8,5% Em 2004' disponível em http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=4431
5 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-89/2006.

Data de Publicação: 31/08/2006

Autor(es): Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor