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Perspectivas para a safra de feijão de inverno 2003
                                 
O El Niño 2002-03, com pequena anomalia de temperatura da superfície do mar no 
Pacífico Equatorial entre maio de 2002 e o presente momento, teve reflexos no 
desenvolvimento da safra brasileira de feijão 2002/03, ao influir no regime de 
chuvas nas regiões produtoras do país. 
            
Embora na região Sul tenha chovido acima da média histórica, grande parte do 
território nacional recebeu menos chuvas no período de dezembro de 2002 a março 
de 2003, época de plantio e desenvolvimento da primeira safra em várias regiões 
e também de plantio da segunda safra a partir de janeiro em outras regiões. Na 
região produtora da Bahia, apesar da precipitação acima do normal em janeiro 
deste ano, a severa estiagem de dezembro de 2002 retardou o plantio da primeira 
safra. Já a de fevereiro de 2003 prejudicou as áreas com cultura de feijão em 
desenvolvimento, pela anomalia de precipitação de até -150 mm (                                                                                                         figura 1  ). 
            
Mesmo considerado de fraca intensidade, o El Niño 2002-03 afetou a produção de 
feijão e seu mercado no primeiro semestre de 2003 de maneira semelhante ao 
episódio do El Niño 1997-98, considerado um dos mais severos no século XX, com a 
elevação nos níveis de preços recebidos pelos produtores paulistas muito 
semelhante à do primeiro semestre de 1998. Embora em 1998 o pico de preços tenha 
ocorrido em junho (R$ 137,78 a saca de 60 kg), devido à perda também na segunda 
safra, o patamar de preços atingido em fevereiro de 2003, devido à frustração na 
primeira safra, está no mesmo nível (R$ 130,60/sc.) (figura 2). 
            O levantamento de campo realizado pela Companhia nacional de Abastecimento (CONAB)1, para o acompanhamento da safra 2002/03 
no período de 21 a 
            
26 de abril, estima produção nacional em 1,24 milhão de toneladas para a 
primeira safra de feijão 2002/03, com quedas de 4,8% na produção e 4,2 % na 
produtividade em relação à safra anterior. O Estado da Bahia, uma das regiões 
mais afetadas pela anomalia climática nos últimos meses, tem produção estimada 
em 148 mil toneladas, para a primeira safra, com queda de 12,4% na produção e de 
11,5% na produtividade em relação ao ano anterior. Considerando que a maior 
parte da área baiana não é irrigada para a primeira safra, esta estimativa pode 
estar muito otimista (tabela 1).  
 
            A 
CONAB estimou uma produção nacional de 1,28 milhão de toneladas para a segunda 
safra de feijão 2002/03, com aumento de 24% na produção e de 23% na 
produtividade em relação ao ano anterior, no último levantamento de campo. Neste 
levantamento, o Estado da Bahia não foi considerado como produtor da segunda 
safra, devido à mudança na metodologia quanto ao calendário agrícola, que 
considera como primeira safra a área colhida entre novembro e abril, com 
concentração nas regiões Sul e Sudeste, em Goiás e Bahia. É considerada como 
segunda safra a área colhida entre abril e julho, com concentração nas regiões 
Nordeste, Sul, Sudeste e Goiás, e terceira safra a área colhida entre agosto e 
outubro, com concentração em Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Bahia, segundo 
RUAS (2003). 
            
A CONAB estimou aumento na produção e na produtividade, para a segunda safra 
2002/03 na região Nordeste, respectivamente de 53,9% e 51,3% em relação ao ano 
anterior. A produção atinge, assim, 568 mil toneladas, totalizando, junto com a 
do Norte, mais de 50% da produção nacional (tabela 2).  
 

            Os 
preços diários recebidos pelos produtores de feijão desde abril, época em que se 
inicia o plantio de feijão de inverno no Estado de São Paulo, são muito 
estimulantes para os produtores paulistas, variando de R$ 95,00 a R$ 127,00 a 
saca (figura 3). 
            
No Estado de São Paulo, cerca de 50% da área de feijão de inverno são irrigados, 
sendo o restante de sequeiro. A expansão da área, em função dos preços atuais 
para os produtores, pode não ocorrer proporcionalmente na área irrigada, uma vez 
que exige investimento na aquisição de equipamentos. É de se esperar que a 
maioria dos produtores utilize os aparelhos de irrigação já disponíveis. 
            
Os produtores de área não irrigada poderão ficar mais animados com o plantio de 
inverno, uma vez que as opções de outras culturas pela mesma área são menores 
que no caso da safra das águas e da seca. Os produtores do Estado de São Paulo 
plantaram, nestas duas safras de 2002/03, áreas abaixo da expectativa em relação 
aos níveis de preços vigentes no mercado. 
            
A perspectiva para a safra de feijão de inverno 2003 do Estado de São Paulo é de 
aumento na área entre 5% e 10%. Os produtores paulistas poderão obter uma boa 
rentabilidade com a safra, uma vez que a safra nacional de feijão no ano 
agrícola 2002/03 dificilmente chegará ao marco de 3 milhões de toneladas, 
patamar abaixo do qual a chance de lucro aumenta consideravelmente para os 
produtores que conseguem colocar o produto no mercado.  


Data de Publicação: 20/05/2003
                Autor(es): 
                Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
Humberto Sebastiao Alves (hsalves@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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