A cultura do caqui em São Paulo

            A produção mundial de caqui, em 2004, foi de 2,5 milhões de toneladas, segundo a Food Agricultural Organization (FAO)1. A China é o maior produtor, com 1,7 milhão de toneladas, seguida de Japão com 270 mil toneladas e Coréia do Sul com 250 mil toneladas, enquanto o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial.
            Em 20032, a cultura do caqui no Brasil ocupou área de 7,5 mil hectares, com produção de 158 mil toneladas. Presente em oito estados brasileiros, a cultura está mais desenvolvida nas regiões Sudeste e Sul (figura 1).

Fonte: Elaborado pelos autores com base em IBGE (2004)3

            A cultura do caqui vem ganhando importância no Brasil, tanto pela área plantada quanto pela diversificação de regiões de plantio, o que tem aumentado as quantidades ofertadas do produto no mercado interno e, graças à organização de produtores, para a exportação. A fruta é comumente consumida in natura. Entretanto, em algumas regiões produtoras do país onde a colonização japonesa está presente, o caqui é industrializado, sendo usado para preparo de passa e para elaboração de vinagre.
            A passa de caqui é um produto altamente nutritivo, de sabor bastante agradável, cujo consumo, no País, se restringe aos membros da colônia japonesa, talvez devido ao fato de ser produzida em pequenas quantidades. Os frutos destinados à secagem devem ser colhidos 'de vez' (nem muito verdes nem muito maduros) e não precisam ser destanizados. A relação entre o peso dos frutos frescos e o de caqui-passa é de aproximadamente 5 para 1.
            Na produção de vinagre, o caqui proporciona alto rendimento em mosto para fermentação, da qual resulta um produto de muito boa qualidade. A grande vantagem do processo é que ele permite o aproveitamento dos frutos que normalmente são descartados, permitindo a obtenção de 60 litros de vinagre com elevada graduação acética a partir de 100 kg de caquis maduros4.
            No Estado de São Paulo, a cultura do caqui foi detectada em 1.524 imóveis rurais ou unidades de produção agropecuária (UPAs), ocupando 4,11 mil hectares com total de 979 mil plantas5. Isto significa aumento de 13%, se comparado com os 810 mil pés em uma área de 3,63 mil hectares apurados pelo levantamento 1995-966. O Levantamento Subjetivo do IEA/CATI7, em 1995, sumarizou 797 mil pés contra 927 mil em 2003. As duas metodologias apontam para tendência ascendente do número de pés plantados.
            Três principais regiões produtoras foram identificadas nos Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) de Mogi das Cruzes, que detêm a maior parcela tanto em área cultivada quanto em produção; de Campinas; e de Sorocaba, Itapetininga e Itapeva (figuras 2, 3 e 4).

Figura 2 – Distribuição geográfica da área plantada com caqui, 1998-2003
(dados preliminares)

Fonte: Elaborada pelos autores com base em CATI (2003)8.

            A cultura do caqui em São Paulo apresenta característica de concentração de área, de acordo com dados do Levantamento 1998-2003. Assim, 5% dos produtores detêm 30% da área cultivada, ou ainda, 18% dos caquicultores são responsáveis por 60% da área cultivada.
            No EDR de Itapetininga, apenas duas UPAs, com área acima de 20 hectares, eram responsáveis por 20% da área cultivada e 34 UPAs possuíam área menor que 1 hectare, sendo responsável por 6,6% da área cultivada. Em Itapeva, as características são semelhantes e duas UPAs, com área maior que 20 hectares, eram responsáveis por 25% da área cultivada, enquanto 35 UPAs, com área menor que 1 hectare, representavam 6% da área cultivada.
            Os EDRs de Campinas e de Sorocaba seguem o mesmo padrão, com 29% das áreas cultivadas com caqui entre 2 e 5 hectares. O EDR de Mogi das Cruzes, o maior produtor do Estado, difere dos demais, pois 58% da área cultivada, composta por 204 UPAs, estavam entre 2 e 10 hectares. Já 297 UPAs estavam nos estratos de área inferior a 2 hectares, o que caracteriza a importância do pequeno produtor na região e a estrutura fundiária local.
            Na produção do caqui, assim como na fruticultura em geral, utiliza-se o sistema de parceria. No levantamento 1998-2003, foi constatado que no Estado de São Paulo 22% das propriedades que cultivam caqui utilizaram este sistema.
            Essa distribuição não foi homogênea nas diferentes regiões produtoras. Nos EDRs de Campinas e de Mogi das Cruzes, o sistema de parceria foi adotado em 24% das unidades produtivas. No EDR de Sorocaba, foi adotado em 11,7% das propriedades e nos EDRs de Itapetininga e de Itapeva a parceira esteve presente em 4,5% e 1,5%, respectivamente.
            Neste período, a cultura ocupou 3.202 pessoas como mão-de-obra familiar e 3.966 pessoas como trabalhadores permanentes. A média do Estado, por unidade produtiva, foi de 2,7 trabalhadores familiares e de 4,1 trabalhadores permanentes.
            A cultura do caqui é de fácil manejo. A ocupação de mão-de-obra dá-se nos tratos culturais para evitar o ataque de pragas e doenças nos frutos, que são ensacados individualmente, prática comum na variedade Fuyu. Este cuidado valoriza muito o produto, mas exige muito trabalho. 'Em geral se consegue ensacar, em um dia, em torno de 1,3 mil a 1,5 mil frutos'9.
            A colheita, por ser seletiva, ocupa muita mão-de-obra. Somente os frutos bem maduros são tirados dos pés. A operação é realizada com tesoura, cortando o pedúnculo rente ao cálice. A época da colheita é influenciada pela variedade e pelas condições climáticas, sendo precoce em regiões quentes e tardias em regiões mais frias, e geralmente começa em fevereiro e termina em agosto.
            Em pomares onde há pés entre 25 e 40 anos, o trabalho de colheita é mais complicado devido à altura dos galhos produtivos. Em alguns anos, os pés de caqui produzem menos, mas os frutos são maiores e melhores, o que é valorizado no mercado10.
            A etapa de pós-colheita é, também, exigente em mão-de-obra. Do campo, as frutas vão para estruturas em que são classificadas, embaladas e rotuladas. Em todos os EDRs estudados, foi observada a presença de barracões, galpões ou garagens que são utilizados para o manuseio nessa etapa. No entanto, estruturas especializadas (packing house) que atendam às exigências do mercado externo são poucas e concentram-se no EDR de Campinas.
            O Programa Brasileiro para Melhoria da Horticultura estabeleceu normas para a classificação do caqui, trazendo transparência e confiabilidade à sua comercialização. O uso de embalagens adequadas e rótulos que permitem a identificação do produto integram o processo de modernização das atividades de toda a cadeia de produção do caqui, que, em 2001, passou a fazer parte do projeto 'Produção Integrada de Fruta (PIF)' dentro do 'Programa para o Desenvolvimento da Fruticultura (PROFRUTA)'.
            É importante a organização do fruticultor no sentido de se articular junto aos mercados atacadistas e varejistas em que atua, para obter poder de barganha e estabelecer regras justas de comércio. Quanto às formas de associações, no EDR de Campinas os produtores são mais sindicalizados (35%), enquanto no EDR de Mogi das Cruzes fazem parte tanto de associação (32%) quanto de sindicatos (47%). Nos EDRs de Sorocaba e Itapetininga, a participação dos fruticultores é bem distribuída entre as diferentes formas de organização rural; o contrário ocorre no EDR de Itapeva com ínfima organização dos produtores.
            Com o mercado consumidor cada vez mais exigente, o fruticultor tende a se profissionalizar e a capacitação técnica é um dos caminhos. Os caquicultores dos EDRs de Campinas, Mogi das Cruzes e Itapeva utilizam com maior intensidade a assistência técnica oficial, enquanto nos EDRs de Itapetininga e Sorocaba priorizam a assistência técnica privada, que é oferecida pelas cooperativas e associações locais.
            Por ser uma 'planta perene, de porte arbóreo, o caquizeiro entra em produção a partir do quarto ano e dura dezenas de anos. Quando adulto produz cerca de 100 a 150 kg de fruta por árvore. Por esta razão é necessária a adubação de restituição de acordo com a análise de solo e a idade da planta' 11. A prática de adubação é comum em todas as regiões produtoras. No entanto, no EDR de Sorocaba, destacam-se as práticas de adubação orgânica (64%) e adubação verde (75%) que demonstram maior conscientização desses produtores.
            O baixo consumo per capita no Brasil, o curto período de colheita, a alta perecibilidade dos frutos e o mercado regionalizado fazem com que a oferta do caqui no período de safra seja muito maior que a demanda. Tais fatos ocasionam queda de preços e perdas do produto. Práticas de logística e pós-colheita estão sendo introduzias para amenizar estes gargalos. Isto tem colaborado com o aumento da qualidade do fruto e do período de oferta do produto no mercado, bem como contribuído para a inserção do caqui brasileiro no mercado mundial.

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1FOOD AGRICULTURAL ORGANIZATION – FAO (2005). Statistical – database. Disponível em www.apps.fao.org. Acesso em 22 maio de 2005.
2INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA Produção Agrícola Municipal. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em www.sidra.ibge.gov.br . Acesso em 05 de maio de 2005.
3 Op. Cit. 2
4 Hortibrasil http:www.hortibrasil.org.br. Acesso em 23 de maio de 2005.
5 COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agrícola do Estado de São Paulo, São Paulo: CATI/SAA, 2003 (não publicado).
6 PINO F.A. et al. (Orgs.). Levantamento censitário de unidades de produção agrícola do estado de São Paulo. São Paulo: IEA/CATI/SAA, 1997. 4 v.
7 SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas do Estado de São Paulo, 1995-2003. Disponível em www.iea.sp.gov.br
8Op. Cit. 5
9O CAQUI. Disponível em http://www.appckaki.com/colheita.htm. Acesso em 15 de abril de 2005
1022/03-MENOS CAQUI NESTE ANO. TODA FRUTA. Disponível em http://www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteudo.asp?conteudo=5514. Acesso em 15 de abril de 2005
11 Op. Cit 9.
12 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-48/2005

Data de Publicação: 15/06/2005

Autor(es): Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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